Era uma carícia úmida, esquisita, escorregadia. Como se o lodo subisse do solo. E a enlameasse. Sempre tivera por aquele ente estranho uma grande piedade mas naquele momento, sentindo mais que a sua presença, o seu contato, tomava-se de medo, de nojo. Evitava, porém, denunciar o pavor que a dominava. E permanecia ali, imóvel, como que presa à terra, sem dizer palavra, sem fazer um movimento. O capataz, estimulado por uma aparente benevolência, avançava com as mãos pelos braços de Cholita, envolvendo-os em afagos súplices, derretidos... E como não encontrasse resistência, espalhava-as pelo rosto, pelos cabelos, sem que a moça se sentisse com ânimo de escorraçá-lo, de afastá-lo dali com os pés. Estava como que grudada ao solo, a respiração suspensa, os sentidos perturbados. Não se julgava dona de si mesma. Queria gritar; mas uma sensação nervosa lhe tapava a boca. Desejava fugir; mas as pernas desobedeciam à sua vontade, imobilizadas no terreno. E o pior é que as mãos de Pancho já não se contentavam com o rosto, nem com os cabelos. Varavam-lhe os seios, forçando o decote do vestido. Pela estrada, nenhuma sombra viva. Papaterra, desempenando o busto até antes acurvado e grotesco, ameaçava arrastá-la para o fundo do quintal, onde ele refocilava no brejo. Então sucedeu uma coisa que nem mesmo Cholita teria podido esperar: uma onda de sangue lhe degelou as pernas. E com elas arremeteu contra o capataz, obrigando-o a esgueirar-se pela sombra do jardim. Dali continuava a espreitá-la. Poucos passos o separavam do alvo. Humilhado e corrido, ameaçava-a ainda com a sua presença. Cholita alongou os olhos pela estrada, como a implorar proteção. E nada. De repente, sentiu que as vicejantes trepadeiras do alpendre desabavam, que a casa vinha abaixo, que as paredes não resistiam, que a terra se partia em pedaços, irritada e aflita, esticando os nervos na contorção de um minuto terrível, trágico. Um minuto, apenas...
"Marabaxo, Contos", Osvaldo Orico
(Osvaldo Orico nasceu no dia 29 de Dezembro de 1900. Morreu em 1981.)
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