Minhas cartas de amor erraram seu destino
Minha alma
milenária
viveu em muitas eras.
Foi Safo... e escreveu quimeras
quando era ainda um sonho marmóreo
o Pantenor multicor.
Depois, quando entrou em decadência
a Grécia legendária,
(mil dracmas um beijo de Laís
e o velho Sócrates não quis!)
mudou-se para o Egito
e foi Cleópatra. Suas galeras
subiram, iluminadas,
o grande rio tranquilo!
Foram tantas as cartas endereçadas
a César e a Marco Antônio
que ficaram desertas de papiro
as margens do Nilo!
Foi Marceline Desbore-Valmore
enchendo de lirismo e de beleza
as praias de Martinica e os campos de França!
Escrevendo com certeza
cartas ingênuas de criança
e doces cartas de adolescente...
Minha alma
toda meiguice e ternura
foi muitas mulheres belas
e redigiu com elas
poemas de amor e desventura.
Depois,
então,
vieram as cartas ardentes,
vibrantes, frementes,
apaixonadas e loucas,
cantando, em seu canto tumultuário,
a epopeia de duas bocas
e a tragédia de um coração!
Mas... foi um homem mercenário
(como todos os homens que conheço agora)
quem recebeu todas as cartas de amor
que minha alma escreveu outrora!
Não sei mesmo porque estranho desatino
minhas cartas de amor erraram sempre o seu destino!
"Eu Quero Duas Almas", Georgette Mendonça
(Georgette Mendonça nasceu no dia 3 de Fevereiro de 1922. Morreu em 2003.)
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