terça-feira, 21 de junho de 2016

Mário Wilson tinha a Selecção num guardanapo

Por volta de 1980, Mário Wilson era o seleccionador nacional e também treinador do Vitória de Guimarães, por onde passava pela segunda vez, se não me engano. No Inverno, para poupar o relvado, único, do velho e feio Municipal vimaranense, o Vitória ia às quartas ou quintas-feiras treinar a Fafe, fazendo o chamado jogo-treino com os da casa. Eu trabalhava lá, na Associação Desportiva de Fafe, tratava dos papéis, de alguns inocentes papéis...
Mário Wilson é uma jóia de pessoa e foi um treinador sobretudo afectivo. Gostava de falar com os seus jogadores um a um, como em confissão mas passeando, colocando-lhes o braço paternal por cima dos ombros - vi muitas vezes.
Um dia, numa daquelas quartas ou quintas-feiras, o Senhor Wilson entrou-me no gabinete, que era por baixo das bancadas e por cima dos balneários, cumprimentou-me como se eu fosse alguém e pediu-me se podia usar o telefone para ligar à Federação. Eu teria para aí uns 21 ou 22 anos e dei-lhe autorização, armado em parvo com só naquela idade. Depois de conseguir resposta do lado de lá da linha, o Velho Capitão foi ao bolso do casacão de cabedal, rapou de um guardanapo de papel marcado com beiçadas de verde tinto, estendeu-o em cima da minha secretária, alisou-o o melhor que pôde e começou a ditar para Lisboa o que lá escrevera eventualmente ao almoço. Eram nomes, uma lista, a convocatória para a Selecção Nacional na campanha de apuramento falhado para o Europeu de 1980, em Itália. Exactamente: a Selecção de Portugal estava no guardanapo de Mário Wilson...

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