terça-feira, 19 de abril de 2016

Rosa Lobato de Faria 4

Se eu morrer de manhã

Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.


Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a morte é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.


Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
- o único que sei.


Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.


Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.


Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei.


"Poemas Escolhidos e Dispersos", Rosa Lobato de Faria

(Rosa Lobato de Faria nasceu no dia 20 de Abril de 1932. Morreu em 2010.)

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