- Gurizada alarifa, esta. Parece que nunca viram um velho feio. Dão para espiar de longe, como lagarto pra camoatim. Vai ver que até estes fedelhos já andam acreditando nessas mentiras que o povo espalha por ai. Sei que tem gente que me chama de bandido. Chomico! Pode que ninguém acredite, mas eu fui homem de coração mole. E foi o que me perdeu - a minha bondade.
Quando meu finado pai me entregou pro Coronel, a um ror de anos, me lembro que disse: "Respeita o Coronel como se fosse teu pai, guri. Ordem dele é lei, não te esquece. É Deus no céu e o Coronel na terra".
O Coronel - que nesse tempo era moço - me tomou pra seu capanga. Me deu revólver bom, adaga de bom corte; a melhor tropilha da fazenda para eu escolher o cavalo que me agradasse. E eu sempre fui reconhecido aos que me ajudavam. De que modo, então, me negar quando ordenava um rodeio de laço nuns cajetilhas maragatos? Não podia me recusar. Me doía aquilo - eu sempre fui um homem de coração molengo - mas ordem é ordem e eu sempre soube obedecer. E recusar de que jeito, quando me mandou dar sumiço no doutorzinho do jornal? Claro que tive que fazer o serviço. E bem feito, que eu nunca fui homem de deixar empreitada pelo meio: foi um tiro só, atrás da orelha. Na volta, o Coronel louvou: "Serviço de gente branca, guri". Recomendou: "Em boca fechada marimbondo não faz casa, não esqueça". Eu acresci: "Segredo neste peito caiu morto, Coronel..."
"Bicho Tutu", Apparício Silva Rillo
(Apparício Silva Rillo nasceu no dia 8 de Agosto de 1931. Morreu em 1995.)
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