Vaidosa
Dizem que tu és pura como um lírio 
 E mais fria e insensível que o granito, 
 E que eu que passo aí por favorito 
 Vivo louco de dor e de martírio.
Contam que tens um modo altivo e sério, 
 Que és muito desdenhosa e presumida, 
 E que o maior prazer da tua vida, 
 Seria acompanhar-me ao cemitério. 
 Chamam-te a bela imperatriz das fátuas, 
 A déspota, a fatal, o figurino, 
 E afirmam que és um molde alabastrino, 
 E não tens coração, como as estátuas. 
 E narram o cruel martirológio 
 Dos que são teus, ó corpo sem defeito, 
 E julgam que é monótono o teu peito 
 Como o bater cadente dum relógio. 
 Porém eu sei que tu, que como um ópio 
 Me matas, me desvairas e adormeces, 
 És tão loura e dourada como as messes 
 E possuis muito amor... muito amor-próprio.
"O Livro de Cesário Verde", Cesário Verde 
(Cesário Verde nasceu no dia 25 de Fevereiro de 1855. Morreu em 1886.) 
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