Foi apenas um momento, o tempo de nos cruzarmos, mas deu para perceber que a conversa ia animada. De mão dada com a mãe, o miúdo, de seis ou sete anos quando muito, perguntou, cheio de certeza na resposta: Ó mãe, a Espanha já deve ter sido de Portugal, porque D. Afonso Henriques ganhou a Espanha, não é? Já não ouvi o que lhe disse a mãe, mas deve-lhe ter dito que não, que não é bem assim. Fiquei a desejar, no entanto, que o tenha feito com o cuidado de não ferir o enorme orgulho daquele pequeno português. Há desgostos, nesta idade, que são irreparáveis para toda a vida. A verdade sobre o nosso primeiro rei, sobre o Pai Natal ou outras barbas que tais pode muito bem esperar, que não arrefece.
E fiquei também a pensar na história deste pequeno rectângulo à beira-mar prantado. Não tanto nas nossas conquistas, e foram muitas e valerosas, mas naqueles que nos ganharam, para usar a ingénua mas certeira terminologia da criança. Os romanos, os visigodos e os suevos, os mouros, os espanhóis, pois claro, os tenreiros, os mellos e os champalimauds, os americanos, os amorins, os azevedos, de novo os suevos e os visigodos, povos, uns mais bárbaros do que outros, que invadiram e dominaram Portugal e os portugueses a seu bel-prazer em épocas distintas ao longo dos tempos. E alguns ainda estão por cá.
O miúdo deixou-me a pensar no patriotismo, no lado bom e no lado mau desse conceito tão pau para toda a colher. Deixou-me a pensar no dia da raça, obrigou-me a pensar no Presidente da República, Cavaco Silva, que ontem criticou o excesso de jogadores de futebol estrangeiros em Portugal.
É, em França preocupa-os que sejam pretos, em Portugal somos mais suaves: são os estrangeiros, assim chamados, que estão em demasia. Embora não pareça, temos um Presidente todo modernaço. Um Presidente que comunica ao País via Twiter e que até já larga o seu bitaite sobre futebol.
Confesso que o excesso de jogadores estrangeiros é assunto que não me tira o sono. Mas eu não sou Presidente da República. Suspeito, todavia, que, se eu fosse Presidente da República, nos tempos que correm, teria muito mais com que me preocupar e muito mais em que gastar as preciosas palavras presidenciais.
Não. Não me incomodam os estrangeiros no futebol português. É preciso é que eles sejam bons. Como não me incomodaria ter um primeiro-ministro sueco, um líder da oposição guatemalteco e um Presidente da República burquinês. Era preciso era que eles fossem honestos, sensatos, competentes e (já que pedir não custa) com um cantinho de bondade no coração. Não estaríamos melhor servidos?
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