Caminhavam aos grupos, aturdidos. De fatos assolapados por remendos, de barretes e chapéus puxados para os olhos, ficava-lhes mais sombrio o parecer dos rostos tisnados pelas soalheiras da vindima.
Enrolavam-se alguns em gabões desbotados, trazendo ao ombro sacos e foices, paus e caldeiras.
E as mulheres, embrulhadas em xailes desfiados ou saias de casteleta pelos ombros, marchavam silenciosas, de pés descalços.
Sentiam saudades da terra que lhes negava o pão. Saudades bem fundas, catano! Vir de tão longe...
E se lá havia pão para todos! Mal tinham acabado os dias fadigosos das vindimas, ainda o vinho saía ao pipo, já as aldeias se despovoavam para a Borda-d'Água. Era um êxodo de desgraça e susto. Que iriam encontrar por ali?!...
Alguns alugados desde há muito; outros vencidos, finalmente, pela escassez dos últimos dois anos.
- Nunca se viu coisa assim!... A terra parece praguejada.
E sempre a pior. Todos os anos esperanças novas e a resposta matava-as.
"Gaibéus", Alves Redol
(Alves Redol nasceu no dia 29 de Dezembro de 1911. Morreu em 1969.)
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