Fácil lembrar. A cena ficara impressa na memória de Muriçoca como um teipe de televisão que se pode rever muitas vezes, mas não conseguia, com desembaraço, transformá-la em palavras. Era um frevo saltitante, gostoso. Lembrava-o Pernambuco, sua terra. Quem sabe um coestaduano, vigia do prédio, desse-lhe uma colher de chá. Como dissera ao delegado, estava sempre tentando. Aspirando forte cheiro de cal, galgou os degraus, não revestidos, de uma escada. Chegou ao primeiro andar. Não viu ninguém. Orientado pela música - agora era um xaxado -, dirigiu-se a um apartamento ainda sem porta. Viu-se numa sala onde se acumulavam sacos de cimento e outros materiais de construção. Parou e bateu palmas. Nenhuma resposta.
"Um Cadáver Ouve Rádio", Marcos Rey
(Marcos Rey nasceu no dia 17 de Fevereiro de 1925. Morreu em 1999.)
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