sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Nestor de Holanda 3

Tibúrcio

Acreditava em tudo que lhe diziam. Ninguém era mais crédulo, mais confiante. O Andaraí em peso o conhecia como a figura mais ingênua do bairro.
Desde pequeno, Tibúrcio ficou assim, talvez por ter sido educado de catecismo à mão, aprendendo a distinguir o mal do bem, para manter-se fiel a princípios sãos.
Em tudo Tibúrcio acreditava.
Bom-de-bola, jogava como centroavante do Nabucodonosor Futebol Clube. Os adversários sabiam de sua permanente boa intenção. Muitas vezes, quando atacava o último reduto do time contrário - e sempre o fazia perigosamente, veloz como um torpedo, a driblar com agilidade de raio - alguém da defesa inimiga, para evitar que ele marcasse o gol, mentia:
- O juiz já apitou o impedimento.
Tibúrcio acreditava. E largava a bola...
Havia os cavalheiros que, todas as noites, se reuniam numa esquina da Rua Ernesto Sousa, para contar estórias fantásticas. Narravam casos de assombração, de visões formidáveis, aparições da meia-noite nas encruzilhadas, mula-sem-cabeça, lobisomem. Todos riam das invencionices. Mas Tibúrcio acreditava.
Até em pequenas coisas, como a presença da mosca do sono, a tsé-tsé, no Andaraí, Tibúrcio acreditava.
[...]

"Telhado de Vidro", Nestor de Holanda 

(Nestor de Holanda nasceu no dia 1 de Dezembro de 1921. Morreu em 1970.)

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