sábado, 24 de setembro de 2016

Austregésilo de Athayde

Os fundos da Livraria Jacinto, na rua São José, eram muito escuros, ou pelo menos é assim que me lembro daquele lugar, passados mais de quarenta anos.
Meu velho e querido tio, Professor Austregésilo, vendo os meus pendores para a filosofia e o ensino do português e do latim, disse-me: "Você precisa entrar em contato com o João Ribeiro. Vou dar-lhe uma carta de apresentação e estou certo de que ele vai recebê-lo muito bem."
Cheguei aqui ao Rio, em 1918, carregado de cartas de apresentação, assinadas por meu Pai. Trouxe-as para o Almirante Alexandrino, para Clóvis Beviláqua, para o Seabra e algumas outras pessoas importantes. Ainda as tenho guardadas no meu arquivo. Por timidez, não entreguei nenhuma. Muito mais tarde, conheci aqueles amigos de meu pai e todos lamentaram que não os tivesse procurado. Então já eu era diretor de jornal e bacharel formado.
Mas a carta para o João Ribeiro ia dar-me oportunidade de conhecer um homem que eu muito admirava. Enchi-me de coragem e, certa tarde, fui procurá-lo. Não sei por que, fazia idéia de uma pessoa alta, magra, talvez com uma barbicha. João Ribeiro era baixote, a cabeça chata de bom nortista, o andar lento e desengonçado. Naquele dia não fizera a barba e a gravata preta pendia para um lado. Observei tudo isso e, como naquele tempo tinha a mania de anotar em caderno os fatos do dia, pus por escrito as minhas impressões.

"Vana Verba", Austregésilo de Athayde

(Austregésilo de Athayde nasceu no dia 25 de Setembro de 1898. Morreu em 1993.)

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