Desarrezoado amor, dentro em meu peito
Tem guerra com a razão. Amor, que jaz
E já de muitos dias, manda e faz
Tudo o que quer, a torto e a direito.
Não espera razões, tudo é despeito,
Tudo soberba e força, faz, desfaz,
Sem respeito nenhum, e quando em paz
Cuidais que sois, então tudo é desfeito.
Doutra parte, a razão tempos espia,
Espia ocasiões de tarde em tarde,
Que ajunta o tempo; enfim vem o seu dia:
Então não tem lugar certo onde aguarde
Amor; trata traições, que não confia
Nem dos seus. Que farei quando tudo arde?
Sá de Miranda
(Sá de Miranda nasceu no dia 28 de Agosto de 1481. Morreu em 1558.)
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