O sino
O sino se balança
E lança
Nos espaços a voz,
Que freme
E geme
Ora doce, ora atroz.
Falando à branda brisa,
Que frisa
A lisa tez do mal,
E manso
Remanso
Que convida a cismar.
Falando à ventania
Que alia
Perigos ao terror,
Bimbalha,
Espalha
Seu ingente clamor.
Se tange o triste dobre
Por pobre
Que da vida se alou,
Dolente
Se sente
A mágoa que o passou,
Se em festas se despica,
Repica
Gratos, festivos sons,
E na alma
Espalma
A flor dos ricos dons.
Se a matinas convoca,
Evoca
O canto que seduz,
Que implora,
Na aurora,
A Deus, a eterna luz.
Ao toque das Trindades,
Saudades
Nos peitos faz pungir;
Se abisma
Na cisma
Quem pensa no porvir.
Esta hora que magoa,
Reboa
Bem lá no coração,
Quais notas
Remotas
De tempos que não são.
Quando em negro horizonte
A fronte
Pender-me ao por do sol,
Derrama
A gama
Das aves no arrebol.
Não quero luto e pranto
Que o encanto
Perdera o festival,
Sim, quero
E espero
Alegre funeral.
Saúda a renascença
Da crença
Da vida em novo ser,
E a escala
Badala
Em notas de prazer.
"Flores da Morte", Apolinário Porto-Alegre
(Apolinário Porto-Alegre nasceu no dia 29 de Agosto de 1844. Morreu em 1904.)
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