domingo, 28 de agosto de 2016

Apolinário Porto-Alegre 3

O sino

O sino se balança
E lança
Nos espaços a voz,
Que freme

E geme
Ora doce, ora atroz.


Falando à branda brisa,
Que frisa
A lisa tez do mal,

E manso
Remanso
Que convida a cismar.


Falando à ventania
Que alia

Perigos ao terror,
Bimbalha,
Espalha
Seu ingente clamor.


Se tange o triste dobre

Por pobre
Que da vida se alou,
Dolente
Se sente
A mágoa que o passou,


Se em festas se despica,
Repica
Gratos, festivos sons,
E na alma
Espalma

A flor dos ricos dons.

Se a matinas convoca,
Evoca
O canto que seduz,

Que implora,
Na aurora,
A Deus, a eterna luz.


Ao toque das Trindades,
Saudades
Nos peitos faz pungir;
Se abisma
Na cisma
Quem pensa no porvir.

 
Esta hora que magoa,
Reboa

Bem lá no coração,
Quais notas
Remotas
De tempos que não são.


Quando em negro horizonte

A fronte
Pender-me ao por do sol,
Derrama
A gama
Das aves no arrebol.


Não quero luto e pranto
Que o encanto
Perdera o festival,
Sim, quero
E espero

Alegre funeral.

Saúda a renascença
Da crença
Da vida em novo ser,
E a escala

Badala
Em notas de prazer.
 

"Flores da Morte", Apolinário Porto-Alegre

 (Apolinário Porto-Alegre nasceu no dia 29 de Agosto de 1844. Morreu em 1904.)

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