Olho pela janela e está sol.
Choveu que Deus a deu
durante
quase toda a manhã,
mas agora não. Está sol.
Olho pela janela e vejo
telhados vermelhos e cinzentos,
cinzentos suspeito que de lusalite,
e quase me dá uma himoptise.
Tusso e desisto.
Vejo cinco telhados, cinco
o resto são paredes, paredes
de prédios de doze andares, doze
cheios de janelas e marquises, marquises.
Paredes prédios a precisarem pelo menos de pintura.
Pintura.
Nos telhados, nem um gato
nem uma gaivota, um melro sequer.
Estão cá sempre, menos o melro, e hoje
agora
não sei o que lhes deu.
Estou sem gatos,
sem pássaros,
sem chuva.
Assim não há condições
para fazer poesia,
condições
para que a poesia aconteça.
Acho que vou
escrever um livro.
(P.S. - A puta da gaivota chegou agoríssima, são as 15h12, mas não me vai escangalhar o brilharete. Fica tudo como estava, em respeito pela verdade da literatura em particular e da arte em geral.)
(P.S. 2 - E agora apareceu o caralho do gato, são as 15h33. É o que eu digo: a poesia é o momento. E entretanto tornou a chuva...)
Sem comentários:
Enviar um comentário