É preciso viver em estado de prevenção. Não ir na enxurrada do
colectivismo e morrer afogado num bairro económico ou numa colónia
balnear, resistir às pressões políticas mirabolantes, quer sejam de uma
banda ou de outra, manter a condição do homem-artista em luta com o
homem-massa foi sempre o que em mim se tornou claro desde que aos poucos
tomei posse da minha personalidade. É fatal que se caminhe para a
sanidade de vida das classes baixas, é humano que isso se faça, no
entanto também é humano, mais talvez, que se lute desesperadamente para
que a condição mais sagrada do homem evolua libertando-se das massas
satisfeitas com a assistência médica, televisão e funeral pago. Essa
massa vai criar um novo espírito animal, vai catalogar-se em Darwin e,
convencidos que essa massa está feliz, constatamos ao fim de pouco tempo
que esses grandes grupos de populações standardizadas deixaram de
pensar e o seu sentir é apenas tactual, sem nada de sublimação em
momentos mais íntimos.
O mundo que pensa, do artista e do intelectual, tem de libertar-se do
incómodo desses homens que trouxeram como contribuição para a humanidade
uma ideia abstracta do colectivo em marcha, que passaram a emitir sons,
como pequenas estações emissoras, que não precisam de se articular em
palavras, bastando-lhes os gestos. Ao fim e ao cabo aqueles que julgaram
ter contribuído para a evolução da humanidade, dessa massa informe, é
com tristeza, se ainda forem vivos, que constatam o facto de terem
criado mais uma categoria animal, símios aperfeiçoados, em substituição
do processo normal e não aflitivo do homem que evolui gradualmente
dentro da sua própria missão de homem.
"O Mundo à Minha Procura", Ruben A.
(Ruben A. nasceu no dia 26 de Maio de 1920. Morreu em 1975.)
Nunca li Ruben A, mas pelo que li sobre a sua vida, suscitou-me alguma curiosidade. Obrigado pela dica.
ResponderEliminarAbraço.
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