Quando eu era pequeno queria ser grande. E quando fosse grande queria
ser palhaço, maquinista de comboio, famoso, padre, polícia à paisana,
pianista, advogado, jornalista, actor, bombeiro, jogador de futebol,
tarzan, presidente da república, terrorista, papa, escritor, herói,
cantor, ciclista, santo e piloto de avião de guerra. Já há muito que sou
grande e, francamente, sou tarzan e é um pau.
De tanga. Estou de tanga como a maioria dos portugueses, se bem que os
números sejam cada vez mais favoráveis, sobretudo os homólogos. Todos os
pequenos almoços eu como números homólogos barrados com psivinte e
gosto muito. Os meus pequenos almoços são ao meio-dia, para darem para o
dia inteiro. São almoços ma non troppo, e por isso é que se chamam pequenos almoços sem hífen e um copo de água. Da torneira. Do vizinho.
Por outro lado, ainda não procuro o almoço nos contentores do lixo.
Portugal está muito melhor, principalmente se comparado como o Portugal
homólogo, mas são cada vez mais as pessoas e as famílias que eu vejo nos
ecopontos esgadanhando sustento nos restos dos outros. Esta gente não
lê os jornais, não vê televisão, não dá valor ao Governo, não ouve o de
Belém, não liga aos números, tão favoráveis e tão homólogos. Esta gente
gosta de chafurdar.
Eu queria ser palhaço, é verdade. Alguns amigos, lisonjeiros, dizem-me
que eu às vezes sou um bocado palhaço. Alguns filhos da puta que não me
gramam dizem-me também que eu às vezes sou um bocado palhaço. Palavra de
honra: às vezes e um bocado não me chega - eu queria ser palhaço, mas
palhaço completamente.
(Texto escrito e publicado no dia 15 de Junho de 2015)
Hernani, roubei !
ResponderEliminarForte abraço
Abraço.
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