No tempo dos sonhos eu tive um: comprar um
bobsleigh em segunda mão, pegar na mulher, no filho e no futuro e mudarmo-nos os quatro para Santiago de Compostela,
que era o estrangeiro que me estava mais à mão e nós gostávamos
razoavelmente derivado às ruinhas, às tapas e às cañas e por a bem dizer
nem sequer ser estrangeiro. Melhor dito, gostamos muito. Mas hoje em dia: a Galiza anda
tão à rasca como a gente, já não é oficialmente estrangeiro e saraiva
por mais que saraive, ainda que em galego, não é neve nem embala. Ia
fazer o quê com o bobsleigh na Praça do Obradoiro?
Do Obradoiro, que nome extraordinário. Ainda por cima, os gandulos do
lado de cá cortaram-me as vazas, entesaram-me até ao cutão. Desisti
portanto do bobsleigh
e tirei o passe do metro para a Senhora da Hora. Segundo julgo saber,
na Senhora da Hora não neva há variados anos por uma questão de
princípio. Que se segue: de bolsos vazios e sonhos roubados, fico
olimpicamente em casa à espera do Verão de que não gosto. Sem bobsleigh, sem ruinhas, sem tapas e sem cañas. Uma seca que só visto.
Sou dado a invernos. Melhor que chova em Santiago.
E que neve e que gele. Ou então nada disso, que ao ponto a que chegámos
também não interessa, mas Santiago, sempre Santiago, mesmo sem bobsleigh
e ainda que faça sol. Um dia destes lá iremos, eu, a mulher, o filho e o
futuro - pobres e a pé, se Deus quiser, mas vamos. E tem de ser rápido,
antes que uns certos e determinados bandalhos nos matem à fome em
primeira mão.
P.S.
- Publicado originalmente no dia 9 de Fevereiro de 2014. Entretanto comprei um carrinho de mão praticamente novo e temos dado as nossas
voltas por aí. Hoje entra o Inverno, e estou nas minhas sete quintas...
Sem comentários:
Enviar um comentário