Lúbrica
Mandaste-me dizer, 
 No teu bilhete ardente, 
 Que hás de por mim morrer, 
 Morrer muito contente. 
 Lançastes, no papel 
 As mais lascivas frases; 
 A carta era um painel 
 De cenas de rapazes! 
 Ó cálida mulher, 
 Teus dedos delicados 
 Traçaram do prazer 
 Os quadros depravados! 
 Contudo, um teu olhar 
 É muito mais fogoso, 
 Que a febre epistolar 
 Do teu bilhete ansioso: 
 Do teu rostinho oval 
 Os olhos tão nefandos 
 Traduzem menos mal 
 Os vícios execrandos. 
 Teus olhos sensuais, 
 Libidinosa Marta, 
 Teus olhos dizem mais 
 Que a tua própria carta. 
 As grandes comoções 
 Tu neles, sempre, espelhas; 
 São lúbricas paixões 
 As vívidas centelhas... 
 Teus olhos imorais, 
 Mulher, que me dissecas, 
 Teus olhos dizem mais 
 Que muitas bibliotecas! 
"O Livro de Cesário Verde", Cesário Verde
(Cesário Verde nasceu no dia 25 de Fevereiro de 1855. Morreu em 1886.)
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