O reencontro com o grande Asdrúbal
Encontrei ontem por acaso o Asdrúbal, o velho Asdrúbal, o grande Asdrúbal -
aos anos que não nos víamos! Recordámos os tempos antigos, falámos das
nossas vidas, da família, dos filhos, dos netos, dos amigos que já
morreram, do coronavírus, da eutanásia, do Marega, de projectos para o
futuro. Enfim, pusemos a conversa em dia. Despedimo-nos calorosamente
trocando abraços e números de telemóvel e apalavrando a marcação de um
almoço, cada qual seguiu para o seu lado, e só então é que eu reparei
que aquele não é o Asdrúbal, nem sequer é parecido com o Asdrúbal. Na
verdade, tenho agora a certeza absoluta de que não conheço este
indivíduo de lado nenhum. Em todo o caso, gostei muito de falar com o Asdrúbal.
Honestidade a toda a prova
Era um chef de uma franqueza que só vista. Tinha um aclamado
programa televisivo, e não raras vezes, após confeccionar e provar os
seus requintados pratos de assinatura, sentenciava, de colher a meia
haste, olhos revirados e boca em biquinho de deleite e aprovação: -
Hummm! Que merda!...
O ungido (ou Ele há tipos com sorte)
O seu aniversário calhava todos os anos no mesmo dia. Ele achava que era bom augúrio.
Foi um peido que me fugiu
O Dia dos Enganos era
celebrado em Fafe com pompa e circunstância. Era
uma tradição. Na minha terra, naquele tempo, festas assim familiares
como por exemplo o Entrudo tinham as suas normas, liturgia própria. Pelo
Entrudo, se me dão licença, eram os peidos-engarrafados no Cinema, um
fedor que eu sei lá mas uma grande risota, ou se calhar um grande
risoto, como hoje será mais fino dizer.
Durante o resto do ano, no Cinema, só peidos biológicos, caseiros, que,
não desfazendo, também eram uma categoria. Eram peidos subversivos,
contra o governo, que nos alimentava a couves e tínhamos de as comprar,
porque nem os ricos as davam - preferiam deitá-las aos porcos, que
infelizmente não éramos nós, os pobres, no caso em apreço. Mas o
Dia dos Enganos, que foi ao que vim, evidentemente equivocado: no Dia
dos Enganos saíamos para a
rua, ali no Santo Velho, estrategicamente colocados entre os tascos do
Paredes e do Zé Manco, e dizíamos a quem passava: - Ó senhor, olhe o que
lhe
caiu!...
- Foi um peido que me fugiu... - levávamos de resposta, que também fazia parte. Um sucesso!
É, bons tempos: pobretes mas alegretes. Os peidos eram o nosso escape natural, o epítome do divertimento que se podia...
P.S. - Pelo Entrudo, em Fafe, queimava-se o Pai das Orelheiras,
velha tradição popular, de afirmação de rua, que andou perdida durante
anos e que a Câmara Municipal resgatou em 2017, se não me engano.
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