Papai pegou o chapéu e saiu. Saiu mesmo de tamancos, sem dar até logo nem desejar felicidades. Acho que foi por isso que não deu boas-festas. Dindinha tirou o lencinho e limpou os olhos e pediu para ir embora com Tio Edmundo. Tio Edmundo botou uma pratinha de quinhentos réis na minha mão e outra na mão de Totoca. Talvez ele quisesse dar mais e não tinha. Talvez ele quisesse em vez de dar pra gente, estar dando para os seus filhos lá na cidade. Foi por isso que eu o abracei. Talvez o único abraço da noite de festas. Ninguém se abraçou ou quis dizer nada de bom. Mamãe foi para o quarto. Garanto que ela estava chorando escondido. E todos estavam com vontade de fazer o mesmo. Lalá foi deixar Tio Edmundo e Dindinha no portão e comentou quando eles se afastaram andando devagarzinho, devagarzinho.
- Parece que estão velhinhos demais para a vida e cansados de tudo...
O mais triste é que o sino da igreja encheu a noite de vozes felizes. E alguns foguetes se elevaram aos céus, para Deus espiar a alegria dos outros.
Quando voltamos para dentro, Glória e Jandira lavavam a louça usada e Glória tinha os olhos vermelhos como se tivesse chorado doído.
Disfarçou e disse para Totoca e eu:
- Está na hora de criança ir para a cama.
"O Meu Pé de Laranja Lima", José Mauro de Vasconcelos
(José Mauro de Vasconcelos nasceu no dia 26 de Fevereiro de 1920. Morreu em 1980.)
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