Faz hoje mil novecentos e quarenta e nove anos que Tito e as suas
legiões romanas derrubaram a segunda muralha de Jerusalém. Lá dentro, os
judeus fugiram à rasca para a primeira muralha, mas os romanos,
copiando o Porto de muitos séculos depois, construíram uma
circunvalação, cortando vazas aos sitiados e todas as árvores num raio
de quinze quilómetros, o que foi considerado um escândalo ambiental. A
circunvalação de Tito era também conhecida como muralha de cerco, mais
uma vez plagiando por antecipação a Invicta, mas sem bairro. Tito era o filho mais velho
de Vespasiano e foi imperador entre 79 e 81. A mãe de Tito chamava-se
Domitila, a Maior, para se diferenciar da filha Domitila, a Menor, irmã
de Tito.
Tito dedicou-se com sucesso à construção civil em Roma, à presidência da
antiga Jugoslávia e ao futebol no Atlético, onde começou a dar os
primeiros toques, em 1962. Esqueceu as obras e fez bem, aquilo está tudo
em ruínas, e abandonou a política. Deixou a Tapadinha e apostou a sério
na bola: mudou-se para o União de Tomar e depois, por quinhentos
contos, para o Vitória da Guimarães. É daí que o conheço.
Na década de setenta do século passado, Tito fez sete épocas na
Cidade-Berço e marcou 82 golos. Era, e não sei se ainda é, o melhor
marcador de sempre do Vitória na primeira divisão. Fisicamente falando,
Tito pode ser visto como um monovolumezinho, baixote, entroncado da
cabeça aos pés, uma espécie de Müller que os antigos percebem, uma
espécie de Miccoli que os menos antigos sabem, e aos mais novos não sei o
que lhes diga.
Tito, na área, era imperial. Fino. Até de cabeça. E de fora da área
também. Mas não de cabeça. Como muitos craques de hoje em dia, Tito
gostava de treinar livres e remates espontâneos atirados propositada e
directamente à barra. E tinha uma elevada taxa de acerto. O
extraordinário é que, mais difícil ainda, gostava de fazer o número
também de costas para a baliza ou de olhos fechados. E acertava. Palavra
de honra, acertava!
Claro, não havia YouTube. Conto assim tal qual porque eu vi. E de olhos bem abertos.
P.S. - O textinho acima foi escrito e publicado no passado dia 30 de Maio. Os chamados jornais desportivos portugueses estão hoje histericozinhos, à falta de melhores mamas, com um "concurso de habilidades" nos EUA abrilhantado, entre outros craques, pelo nosso Nani, do Orlando City, e pelo nosso João Félix, do Atlético de Madrid. Uma das habilidades era o "remate à barra"e foi um sucesso. Realmente a humanidade não se cansa de inventar a pólvora. E agora há YouTube.
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