sábado, 21 de outubro de 2017

Microcontos & outras miudezas 52

Procuro animal de estimação que me adopte
Os esfomeados, os rotos e os nus, os desempregados de curta, média e longa duração, os tesos por nascimento e os falidos, os velhos mijados e demenciados, os desdentados, as úlceras varicosas, os bêbados e os violentos, os sós, os caloteiros certificados, as prostitutas evidentes, os mendigos profissionais ou simpatizantes, os sem-abrigo, os sem-reforma e os sem-nada, os pretos de todas as cores e os ciganos de uma forma geral vão finalmente poder entrar nos restaurantes se forem levados por animais de estimação. É de lei. Ficou resolvido na Assembleia da República

 Falar pouco e bem, quase não há quem
"Atenção: devido a um erro de sinalização, o metro foi obrigado a fazer uma paragem brusca. Se alguém se magoou, é favor entrar em contacto com o agente de condução". O "agente de condução" da Metro do Porto que assim falava pelos altifalantes internos para os passageiros da viagem Matosinhos Sul-Estádio do Dragão, aqui atrasado, era uma mulher, e não cuide o Sr. Arroja que eu estou no gozo. Não estou.
Em trinta palavras exactas, a senhora condutora disse tudo o que era necessário ser dito naquele momento, com objectividade, sem eufemismos nem semânticas, num português escorreito, directo, universalmente compreensível, eficaz. Responsável. A assunção do "erro de sinalização" e da "paragem brusca", a preocupação imediata com os passageiros. Mas ninguém se magoou.
Pensei: que exemplo extraordinário para os nossos comunicadores de merda, em tempos de fogo e cinza - governantes, ex-governantes, candidatos a governantes, candidatos a candidatos a governantes, políticos de uma forma geral, altos irresponsáveis, baixos responsáveis, autoridades civis, militares e religiosas, minhas senhoras e meus senhores, telecomentadores, radiofloricultores, trolhas conversadores, politólogos, vendedores de retroescavadoras com luzinhas, enchedores de chouriços, especialistas em sarrabulho e fumeiro, jornalistas folcloristas e endrominadores para todo o serviço, que falam, falam, falam, não fazem nada (como diria o Ricardo Araújo Pereira), e eu nunca sei o que é que eles dizem...

Há males que vêm por mal
Atropelado pela porta giratória do hospital, partiu o braço direito. E é para o lado que ele dorme melhor. Infelizmente.

Combustão espontânea... e organizada
Os incêndios por combustão espontânea acontecem, mas, ao contrário do que o próprio nome indica, às vezes dão algum trabalho a organizar. Lembram-se ou já ouviram falar das populares manifestações espontâneas de apoio ao Senhor Presidente do Conselho no tempo de Salazar? Manifestações espontâneas, exactamente. Imaginam o que esse teatro a preto e branco implicava de preparação e logística, de aluguer de camionetas e distribuição de letreiros a bem da Nação, de farnéis e garrafões de vinho a encomendar, de reuniões nos grémios e nas corporações, de noites sem dormir por parte de presidentes de junta, regedores, párocos fascistas, presidentes de câmara, governadores civis, comandantes locais da Legião Portuguesa e dos Bombeiros, chefes da Polícia e sargentos da Guarda, bufos da Pide, patrões da indústria e caciques de outras marcas?...
Pois com os incêndios é o mesmo. Para que aconteçam espontaneamente, e acontecem, é regra geral preciso que alguém acenda um fósforo. Há coisa de duas semanas fomos dar uma voltinha de mata-saudades pelo Alto Minho. De Esposende para cima, passámos por queimada atrás de queimada com ninguém à vista e à volta. Eu abro a janela, porque gosto daquele cheirinho a Natal antecipado, mas a minha mulher ficou aflita, disse-me que ainda não estávamos na época, que aquilo era ilegal e perigoso, muito perigoso. E se calhar a minha mulher tinha razão...

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