terça-feira, 8 de setembro de 2015

António Sardinha 2

Versos do trinco da porta,
- Louvado seja o Senhor!
A casa é Deus quem ma guarda,
Ninguém a guarda melhor!
 
Batem os pobres à porta,
- Batem com ar de humildade.
"Eu sei que é pouco, irmãozinho!
É pouco, mas de vontade!"
 
Quem é que a porta abriria,
Com modos de atrevimento?
São coisas da criadagem!
Não foi ninguém, - é o vento!
 
Mexem no trinco da porta.
- "Levante, faça favor!"
A entrada nunca se nega
Seja a visita quem for!
 
Não vês a porta batendo?
Que aragem essa que corta!
Em toda a volta do dia,
Não pára o trinco da porta!
 
Trinco da porta caindo
Sobre a partida de alguém...
Oh, quantos vão e não voltam?!
São os que a morte lá tem!

"Quando as Nascentes Despertam", António Sardinha

(António Sardinha nasceu no dia 9 de Setembro de 1887. Morreu em 1925.)

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