Vindo do sul, um miradouro da estrada real mostra de surpresa a "formosa imagem" que é, no dizer de frei Heitor Pinto, "como alma deste reino".
Até nós outros, quando lhe pronunciamos o nome cá dos cafundós do exílio, sentimos mil saudades e recordamos aquela época, já distante para além dos seus oito ou dez lustros, em que todos éramos, senão poetas, prosadores de largo fôlego e contundentes adjectivações, moços dos quinze aos vinte e poucos anos.
Pelas manhãs domingueiras de Abril e Maio íamos aos eirados de Santa Clara namorar a paisagem da cidade soalheira e colorida, alpendrada no outro lado do rio Mondego, e aquelas airosas e risonhas tricanas que passavam a caminho do mercado, xaile cruzado sobre o peito repontão, pernas ao léu, sainha de regueifa na cintura e arregaçada até pelo joelho, a ponta do pé enfiada nos chapins bordados e calcanhar a dar, a dar, na borda da albarda marcando a andadura ligeira do burrico peludo, manhoso e contente. [...]
"Memórias do Capitão", João Sarmento Pimentel
(João Sarmento Pimentel nasceu no dia 14 de Dezembro de 1888. Morreu em 1987.)
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