Antigamente, eram os barcos. Brancos, azuis e furta-cores, com lanternas
penduradas nos cintos dos homens que passavam nas cobertas. E aquém dos
barcos: as ondas tinham outra maneira de quebrar, o quebrar de
antigamente, se é que sabe ao que me estou a referir. Depois, os homens
falavam alto e as mulheres ficavam grávidas, as gaivotas rasavam o cais,
alisando a pedra, subindo subitamente, enquanto o Norberto afiava os
mastros, virados para o céu, com a navalha que um dia se lhe cravaria na
garganta. A navalha era do Norberto, até tinha as suas iniciais no cabo,
mas foi atraída, por obscuros motivos hipnóticos, para a mão do Toledo
das Rondas.
"Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel García Márquez", Dinis Machado
(Dinis Machado nasceu no dia 21 de Março de 1930. Morreu em 2008.)
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