sábado, 11 de junho de 2011

Sai o gajo e entra o outro

Foto Hernâni Von Doellinger

"Desgraçadamente desempregado e portista graças a Deus" (como costuma mandar no currículo), Quitério anda um bocadinho com a cabeça no ar. E com tão azaradas consequências que ainda ontem deu de caras com o chato do Silveira, sem tempo sequer para mudar de passeio ou fazer-se de morto.
E o Silveira não perdoou:
- Então, pá! Estás todo contente, não? O gajo lá vai finalmente embora...
E Quitério, mais à rasca era impossível:
- Qual gajo?
- O Sócrates, pá! - explicou, a nadar em paciência, o Silveira, com aquele falsa bonomia muito própria dos mete-nojo.
- Ai vai? Porquê? - ousou bisar na pergunta o pobre Quitério, triste como a noite por já não ganhar uma taça há mais de quinze dias.
- O gajo perdeu as eleições, pá!
- Quais eleições?
- Então, pá, 5 de Junho. A esquerda levou cá uma destas coças!...
- Qual esquerda?
- Deixa-te de gozo, pá! E o outro, gostas dele? Achas que o outro vai pôr isto direito?
- Qual outro?
- O Passos Coelho, pá!
- Quem?
- O líder do PSD, pá! O Passos Coelho...
- Sei lá...
- E o outro, achas bem?
- Qual outro? Há outro outro?
- O Portas, pá! Achas bem?
- Acho bem o quê?
- O Portas no Governo, pá!
- O Portas no Governo, porquê?
- Então, as eleições, pá, 5 de Junho. A direita ganhou as eleições...
- Qual direita? Quais eleições?
- Não me lixes, pá! Então, as eleições, pá, 5 de Junho. Tua foste lá, pá, de certeza que foste lá. Sabes muito bem...
- Mas eu não sei, pá! Eu não fui lá, pá! Eu nem tomei conhecimento, pá! Como é que eu podia saber, pá? Eu estou desempregado...

Era a sério. Mais filósofo do que nunca, e cheio de pressa para acabar com a desconversa, Quitério deixou a última: "Sabes, pá, o que eu acho é que o país que dispensa o meu trabalho também passa muito bem sem o meu voto. Quero lá saber! Governai-vos!"

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