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Foi má ideia aquele letreiro à porta do consultório - "Proibida a entrada de animais". Era um veterinário...
Foi má ideia aquele letreiro à porta do consultório - "Proibida a entrada de animais". Era um veterinário...
Chegam, os turistas, e afigura-se-me que vieram para um congresso de cus na Exponor. Vê-los logo pela manhã é um espectáculo que não pára de maravilhar-me. Porque, conforme eles vão saindo, o barco vai subindo, fica mais alto, airoso, aliviado, parece-me. Depois, à tarde, regressam, os turistas, embarcam de requitó, pós-doutorados em sardinha assada e vinho do Porto, vão entrando e o barco começa a dar de si, amoucha, encolhe-se, queixa-se, parece-me, larga dois ou três lamentosos arrotos, zarpa devagar, devagarinho e não percebo como é que não se afunda.
Naquele tempo, nos tempos áureos do Costa do Assento, turistas éramos nós, os putos de Fafe, lingrinhas de pé descalço e pila ao léu, em sorrateiras escapadelas até às recônditas estâncias balneares do Poço da Moçarada, do Comporte ou de Calvelos, de onde, por norma e tradição, éramos sacados a ganir, puxados por uma orelha. A minha mãe parecia que tinha radar, e, uma desgraça nunca vem só, sabia sempre por onde é que eu andava e o que fazia. Que se segue? Os paquetes que agora me batem regularmente à porta chegaram tarde à minha vida, eu preferia tê-los visto atracar à poça do Santo ou à ponte do rio de Pardelhas, mas mais vale tarde que nunca, e mesmo agora dão-me bastante que pensar, suscitam-me reflexões de pequena e média profundidade que, não raro, gosto de partilhar. E daquela vez, olhando para o imponente Costa Pacifica, vieram-me à cabeça os cus. Os cus que os cruzeiros descarregam e recarregam.
Cu de turista não é brincadeira. É traseiro de bitola larga e se for cu americano então ocupa o mundo inteiro ou ameaça ocupar. Até parece que para se ser turista - turista diplomado - é preciso ter um cu daqueles. E o cu alemão e o próprio cu inglês também para lá caminham, não querem ficar atrás. O que diz tudo a respeito dos cus. Imagino que sejam muito ricos os camones com que me cruzo nas bordas do Porto de Leixões. Tão turistas e tão prendados de cu, serão decerto milionários. Engordam e viajam porque podem. E podem muito. Os cus precisam de arejar.
Na minha rua passa o mar. E, afinal, é porreiro ver navios. Por causa do Costa Pacifica, lembrei-me do Costa do Assento. Se quereis saber, ganhei o dia.
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