sábado, 1 de janeiro de 2022

Falar pouco e bem, é raro quem

"Atenção: devido a um erro de sinalização, o metro foi obrigado a fazer uma paragem brusca. Se alguém se magoou, é favor entrar em contacto com o agente de condução". O "agente de condução" da Metro do Porto que assim falava pelos altifalantes internos para os passageiros da viagem Matosinhos Sul-Estádio do Dragão, aqui atrasado, era uma mulher, e não cuide o Sr. Arroja que eu estou no gozo. Não estou.
Em trinta palavras exactas, a senhora condutora disse tudo o que era necessário ser dito naquele momento, com objectividade, sem eufemismos nem semânticas, num português escorreito, directo, universalmente compreensível, eficaz. Responsável. A assunção do "erro de sinalização" e da "paragem brusca", a preocupação imediata com os passageiros. Mas ninguém se magoou.
Pensei: que exemplo extraordinário para os nossos comunicadores de merda, em tempos de pandemia - governantes, ex-governantes, candidatos a governantes, candidatos a candidatos a governantes, políticos de uma forma geral, altos irresponsáveis, baixos responsáveis, autoridades civis, militares e religiosas, minhas senhoras e meus senhores, telecomentadores, radiofloricultores, trolhas conversadores, politólogos, peritos encartados, periquitos amestrados, vendedores de retroescavadoras com luzinhas, taxistas, barbeiros, enchedores de chouriços, especialistas em sarrabulho e fumeiro, jornalistas tremendistas e endrominadores para todo o serviço, que falam, falam, falam, não fazem nada (como diria o Ricardo Araújo Pereira), e eu percebo tudo o que eles dizem, mas nunca sei do que é que falam...

P.S. - No dia 1 de Janeiro de 2003 começou a exploração comercial do Metro do Porto.

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