Bonifácio
Terrafunda era coveiro no cemitério da Junta de Freguesia de Sabugal do
Meio há mais de quarenta anos. Funcionário exemplar, pai de duas
famílias. Um dia, para o que lhe havia de dar, resolveu dividir o
campo-santo em dois talhões devidamente assinalados, um para "Fumadores"
e outro para "Não fumadores", como nos aviões antigamente. A coisa veio
nos jornais, quer-se dizer, no Correio da Manhã. Anacleto Boavida,
jovem presidente da autarquia, passou-se dos carretos, instaurou
inquérito e competente processo disciplinar, meteu advogado e
testemunhas, imagens do YouTube, e o velho coveiro foi inapelavelmente
remetido para o olho da rua, por indecente e má figura, isto é,
despedido com justa causa. "É que não se admite, com os mortos não se
brinca - justificava o fulgurante autarca, alto e bom som, para quem o
quisesse ouvir, que era a esposa. - Aquela gente, se lá está, é porque,
por definição, deixou toda de fumar."
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