Boabdil...
Ó rei cristão, por que roubaste os meus cordeirinhos,
Nascidos para serem livres nos prados de Granada?
Eles foram amamentados pelos seios de sua mãe
E comeram à minha mesa.
Ainda tenho nas faces o calor dos seus beijos,
Sinto nos braços o doce peso dos seus corpos,
Nas mãos, a ternura das suas carícias,
E nos lábios o sabor das suas faces.
Por quantos palácios pode trocar-se um filho?
Quantas muralhas vale aquele que gerámos?
Se eu tivesse o mundo, trocá-lo-ia pelos meus filhos.
Mas eu não posso dar aquela que outros construíram
E pela qual muitos morreram.
Em Granada há outros pais que amam
Como eu amo o dócil Yusuf e o meigo Ahmed.
E nenhum teria Granada para trocar pelos filhos.
Antes tomasses o meu escudo como troféu de guerra
E o meu cavalo como despojo de batalha,
Porque isso seria sinal de eu estar morto.
Ó rei cristão, ó príncipe de Castela,
A minha dor é imensa.
Se não me atiro sobre a ponta de um alfange,
É para que não haja mais um morto por quem chorar
Nem menos um vivo para chorar os mortos.
"As Rosas de Granada", Daniel de Sá
(Daniel de Sá nasceu no dia 2 de Março de 1944. Morreu em 2013.)
Sem comentários:
Enviar um comentário