Adriana estava sentada em uma poltrona, folheando um livro sem muito interesse. Suas roupas eram modestas, mas não pobres, tinha longos cabelos negros que nunca prendia e seus olhos também eram negros, dando-lhe uma expressão triste que jamais se apagava, nem mesmo quando ela sorria.
Subitamente, uma batida à porta. Adriana assustou-se, mas logo levantou correndo para abrir, não sem antes arrumar os cabelos com as delicadas mãos.
- Boa noite, Adriana - disse o homem a quem a jovem atendeu.
- Oh, Fernando! - falou ela, com sua voz quente e vibrante.
- Fernando, tenho tanta coisa para contar... O homem entrou. Estava ricamente vestido, mas seu rosto era vulgar. Tinha a testa muito larga, contrastando com os olhos miúdos e vivos que examinavam a moça com avidez.
Adriana fê-lo sentar e, tomando as mãos dele entre as suas, levou-as à boca, roçando-as suavemente com os lábios.
- Querido - ela disse comovida -, há mais uma estrela no céu, há mais um anjinho aos pés da Virgem Maria...
- Que significa isso, Adriana? - perguntou Fernando, com o largo sobrecenho franzido.
A moça, surpreendida com a reação, não conseguiu falar e fez um quase imperceptível aceno com a cabeça. Por fim conseguiu balbuciar timidamente algumas palavras.
- S-sim, Fernando... Agora poderemos nos casar e... então nós iremos viver no seu castelo, Fernando... no castelo de Saint-Marie... nós e nosso filhinho...
Fernando, furioso, deu-lhe um empurrão gritando:
- Idiota! Você pensava que eu, o senhor de Saint- Marie, iria casar-me com você? Com você, uma zinha qualquer? Mulheres iguais a você, Adriana, encontram-se aos montes em qualquer lugar, mulheres que com um gesto oferecem-se a qualquer homem!
"Ovelhas Negras", Caio Fernando Abreu
(Caio Fernando Abreu nasceu no dia 12 de Setembro de 1948. Morreu no dia 25 de Fevereiro de 1996.)
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