"O que lá vai, lá vai", ouve-se frequentemente dizer. E, não raras vezes, acrescenta-se: "Eu não olho para trás, mas sempre para a frente", o que pretende soar a heroísmo mas, bem analisado, não tem consistência. Não há dia e nem sequer hora em que não olhemos para trás. Basta termos memória. Por tudo e por nada associamos palavras, sítios, objectos, comidas, leituras, caras, acontecimentos, com alguma coisa ouvida, vista, comida, lida, vivida. E mesmo os heróis de desígnios relevantes e que afirmam olhar sempre para a frente por, desse modo, desejarem corrigir os males do nosso mundo, evocam, de certeza, tal como toda a gente, os eventos bons e maus que lhes ficaram para trás.
Na realidade, esse "O que lá vai, lá vai" ou o "Águas passadas não movem moinhos" são ditos cujo desígnio é arredar recordações de acontecimentos calamitosos na nossa vida e deixar ficar apenas as horas soalheiras. Seria bom se isto fosse possível. Ou talvez nem fosse, porque podia fazer de nós qualquer coisa como patetas alegres...
"À Flor do Tempo", Ilse Losa
(Ilse Losa nasceu no dia 20 de Março de 1913. Morreu em 2006.)
Obrigada tio Nane, pelas grandes lições de cultura geral, de bom português, por tudo que me ensinou e pelo muito que ainda me vai ensinar.
ResponderEliminarUm beijo muito grande,
Guida