terça-feira, 27 de novembro de 2012

De volta à casa de partida

Foto Hernâni Von Doellinger

Em Portugal há 450 mil casas sobrelotadas e 2,5 milhões de casas subaproveitadas. Há mais de 735 mil casas vazias, umas caindo de velhas, outras ainda por estrear. Em Portugal há cada vez mais portugueses sem dinheiro para pagarem ao banco a prestação da casa. Os portugueses devolvem a casa ao banco, sem ondas e sem suicídios. Em Portugal não há dinheiro. E há cada vez mais portugueses morando no olho da rua. O subsídio por morte também não compensa. O BES anda na China, na Rússia e no Brasil a vender as casas devolvidas em Portugal. E a Caixa Geral de Depósitos prontifica-se a pagar os impostos da transacção a quem lhe comprar casas devolvidas.
O meu banco manda-me mensagens para o telemóvel, assediando-me com a oferta de casas ao preço da uva mijona. São casas devolvidas por portugueses à rasca como eu. As casas que eram de pessoas vão a leilão. E eu sinto-me insultado com as SMS que me convidam a ser cúmplice no aproveitamento da desgraça alheia. Logo à primeira fui imediatamente ao balcão protestar o meu incómodo e exigir que a coisa acabasse ali. Que "Sim, senhor, tem toda a razão, vamos já tratar do assunto", foi o que diligentemente me responderam. E as mensagens continuam.
Também comprei casa, no meu tempo. Fui chulado durante 25 anos e sei de que lado estou. Não devo nada ao banco, não devo nada a ninguém. Decerto por causa disto é que o banco cuida que eu agora sou um dos seus. Não sou. Sou um dos outros.

1 comentário:

  1. Estive a observar os tais leiloes de imoveis dos bancos e nao consigo encontrar a casa do Vale Azevedo, do Duarte Lima, do Isaltino Morais, do Dias Loureiro, pois essas sim apetecia comprar a preço de uva mijona. Devem pertencer a outro banco e a outros leiloes!
    Abraço

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