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quinta-feira, 11 de março de 2021

Sebastião Alba 6

O limite diáfano

Movo-me nos bastidores da poesia,
e coro se de leve a escuto.
Mas o pão de cada dia
à noite está consumido,
e a alvorada seguinte
banha as suas escórias.
Palco só o da minha morte,
se no leito!,
com seu asseio sem derrame...
O lado para que durmo
é um limite diáfano:
aí os versos espigam.
Isso me basta. Acordo
antes que a seara amadureça
e na extensão pairem,
de Van Gogh, os corvos.


Sebastião Alba

(Sebastião Alba nasceu no dia 11 de Março de 1940. Morreu em 2000.)

quarta-feira, 11 de março de 2020

Sebastião Alba 5

Epílogo

Fui
hóspede desta mansão
na encruzilhada
dos meus sentidos.

O verso apenas é,
transversal e findo,
o poleiro evocativo
da ave do meu canto.

Essa ave em que o Outono
se perfila
e, cada vez mais exígua
no rumo e nas vigílias
do seu bando,
de súbito, espirala
até sumir-se
num país imaginário.


Sebastião Alba

(Sebastião Alba nasceu no dia 11 de Março de 1940. Morreu em 2000.)

segunda-feira, 11 de março de 2019

Sebastião Alba 4

Como se o mar

Quero a morte sem um defeito.
Sem planos brancos.
Sem que pequeninas luzes se apaguem
dentro dos ruídos.
Também a não quero providencial,
com um anjo vingador e secretíssimo
enfim pousado.
Nenhuma mitologia. Nenhuma
fruição poética. Assim: como se o mar
me aspirasse os ouvidos... etc.
Mas súbita e civil,
com repartições abertas,
comércio, a luz graduada
nas altas paredes
dum bom dia sonoro.


Sebastião Alba

(Sebastião Alba nasceu no dia 11 de Março de 1940. Morreu em 2000.)

domingo, 11 de março de 2018

Sebastião Alba 3

























Sebastião Alba

(Sebastião Alba nasceu no dia 11 de Março de 1940. Morreu em 2000.)

sábado, 11 de março de 2017

Sebastião Alba 2

Ninguém meu amor

Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos


"
A Noite Dividida", Sebastião Alba

(Sebastião Alba nasceu no dia 11 de Março de 1940. Morreu em 2000.)

sexta-feira, 11 de março de 2016

Sebastião Alba

No meu país

No meu país
dardejado de sol e da caca dos gaios
só há estâncias
(de veraneio) na poesia.
Nossos lábios
a um metro e sessenta e tal
do chão amarelecido
dos símbolos
abrem para fora
por dois gomos de frio.
Nossos lábios outonais, digo,
outonais doze meses.
No entanto
à flor da possível
geografia
um frémito cinde
as estações do ano.

"O Ritmo do Presságio", Sebastião Alba

(Dinis Albano Carneiro Gonçalves, que usava o pseudónimo de Sebastião Alba, nasceu no dia 11 de Março de 1940. Morreu em 2000.)