Uma vez, há muitos anos, levaram-me a uma espécie de concerto no auditório do Conservatório de Música de Braga. Eu estava no seminário, teria no máximo os meus dezasseis anos e portanto que remédio. Fomos talvez para compor a sala, não faço ideia. E aquilo foi muito chato, não é para me gabar. Pela primeira vez na vida ouvi Béla Bartók, por interposta pessoa, e Cândido Lima, por ele próprio, creio que também com direito a comentários, ainda por cima. Saí de lá muito zangado com a padralhada e convencidíssimo de que o que acabara de ouvir não era música, até porque já tinha aprendido nas aulas que "música é um conjunto de sons agradáveis aos ouvidos", e na verdade eu vim cá para fora com as orelhas todas fodidas. Que se segue? Descobri recentemente que existe o Dia Internacional da Música Estranha, que por acaso é no próximo sábado, 24 de Agosto, e lembrei-me deste lamentável episódio, que me marcou como ferro em brasa até aos dias de hoje. Devo acrescentar em minha defesa que entretanto mudei de opinião a respeito daquela, digamos assim, especialidade musical. Mas apenas um bocadinho...
(Publicado originalmente em Agosto de 2023, a propósito do Dia Internacional da Música Estranha. O maestro Cândido Lima nasceu no dia 22 de Agosto de 1939, em Viana do Castelo. Fundador do Grupo Música Nova, autor de "A Sétima Voz", "Madrigal Blue" e "Cartas", foi o primeiro compositor português a utilizar em simultâneo, entre outros meios, computador, electroacústica e orquestra. O Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga, faz 100 anos na próxima quinta-feira, dia 14. Sigo com a série de republicações vitaminadas, assinalando a efeméride pela parte que me toca.)
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