Foto Hernâni Von Doellinger |
Quase todos os dias, quando faz os seus discretos 10 km matinais para os lados de Matosinhos e do Porto de Leixões, Sérgio Conceição passa pelo zimbório do Senhor do Padrão ali à entrada do terminal de cruzeiros. Mas não passa apenas. Celebra a passagem. Não entra sequer no jardim, creio que para não dar nas vistas, mas, ao iniciar a subida da Rua do Godinho, o treinador do FC Porto deixa de correr, retira o gorro da cabeça e caminha vagarosamente com os seus botões durante dez, quinze metros, voltando depois à corrida e a cobrir-se logo que perde de vista aquele sortílego local de cultos. Ainda há bocado assim foi. Não sei se é fé, se é crendice, se é apego, se é superstição, se é respeito, como diz que é a minha mulher, ou se é tudo isto consubstanciado num sentimento único de gratidão. Não sei. Mas compreendo. O Senhor do Padrão fica-me à mão na minha caminhadazinha higiénica e confesso que, eu e Ele, também temos sempre assunto. Portanto compreendo. E aprecio. Quero dizer, identifico-me. Porque eu também sou sobretudo grato. Por exemplo: de cada vez que Sérgio Conceição se cruza de longe comigo, não me conhecendo de lado nenhum, apetece-se sempre dizer-se alto e bom som, do outro lado do Passeio Atlântico, em nome do meu desmesurado portismo e da minha família inteira, "Muito obrigado, Senhor Conceição!", e certa ocasião ganhei coragem e disse mesmo. A seguir a uma derrota que por acaso me dilacerou o coração, mas disse. Porque sei que Sérgio Conceição dá tudo. Porque Sérgio Conceição já me deu mais alegrias do que qualquer portista da boca para fora, como eu, merece. Porque, se sou regra geral feliz, devo-o muito a Sérgio Conceição. Portanto disse. É possível que daquela vez as minhas palavras possam ter sido, sei lá, deturpadas pelo barulho da rua e mal-entendidas como insulto ou boca foleira. Não. O que eu disse mesmo, o que eu quis dizer, foi e é: - Muito obrigado, Senhor Conceição!
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