O velho Lessa era um homem assinzinho... nanico, retaco, ruivote, corado, e tinha os olhos vivos como azougue... Mas quanto tinha pequeno o corpo, tinha grande o coração.
E sisudo; não era homem de roer corda, nem de palavra esticante, como couro de cachorro. Falava pouco, mas quando dizia, estava dito; pra ele, trato de boca valia tanto - e até mais - que papel de tabelião. E no mais, era pão, pão, queijo, queijo!
E, por falar nisto:
Duma feita no Passo do Centurião, numa venda grande que ali havia, estava uma ponta de andantes, tropeiros, gauchada teatina, peonada, e tal, quando descia um cerro alto e depois entrava na estrada, ladeada de butiazeiros, que se estendem para os dois lados, sombreando o verde macio dos pastos, quando troteava de escoteiro, o velho Lessa.
De ainda longe já um dos sujeitos o havia conhecido e dito quem era e donde; e logo outro passou voz que aí no mais todos iriam comer um queijo sem nada pagar...
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"Contos Gauchescos", João Simões Lopes Neto
(João Simões Lopes Neto nasceu no dia 9 de Março de 1865. Morreu em 1916.)