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terça-feira, 1 de maio de 2018

Afonso Arinos 2

Mironga, vaqueiro meio maduro, era respeitado por sua justa fama e pelo conceito de que gozava junto ao patrão.
- Como ia dizendo, encostei a porteira ao batente e entrei sutil.
O pátio estava soturno. Nem viva alma. Isso no tempo das guerras bravas da era de quarenta e dois. Patrão velho andava amoitado. Amoitado é um modo de dizer, porque ele dormia, lá vez em quando, num rancho de palmito no meio do mato, mas zanzava de uma banda para outra o dia inteiro, sem perder de vista a casa do retiro onde estava a família. Eu não lhe deixava a costela: vivia rente com ele para o que desse e viesse, porque, Deus louvado, nunca me desprezou, e nós da família servimos até à morte a gente do patrão, isso desde meus velhos.
Quando entraram lá na cidade as forças do defunto coronel Joaquim Pimentel para agarrarem os rebeldes, patrão velho teve aviso. Ele era homem de opinião e não fugia assim com dois arrancos. E demais disso, a patroa estava chegadinha a ter menino, esse pedação de moço que vocês veem aqui hoje - Sô Neco.

"Pelo Sertão", Afonso Arinos

(Afonso Arinos nasceu no dia 1 de Maio de 1868. Morreu em 1916.)

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Afonso Arinos

O sol estava querendo sumir, quando eu encostei a porteira. Pulei da sela e amarrei, no moirão, o ruço pedrês - bicho malcriado, reparador, mas de espírito. No lombo desse pagão eu comia doze léguas, de uma assentada. Olhei a frente da casa, pus a mira no alpendre e não vi ninguém. - Uai, Joaquim, aí tem coisa! - Entrei bem sutil, reparando duma banda e outra.
"- Patrão velho, na hora em que eu estava arreando o pedrês, tinha chegado perto de mim, dizendo: - Olha lá, Mironga, não me vás sair um perrengue!
- Perrengando, perrengando, meu branco, eu entrei lá dentro. Vossemecê há de ver, com o favor de Deus."
- Olha o café, Joaquim, sem te cortar a conversa - disse um caboclo meão, de chapéu de couro e sisigola. E estendeu o coité fumarento, onde parecia ainda borbulhar o líquido.
Na varanda da frente, a gente do retiro estava reunida para ouvir o Joaquim. Era tempo de vaquejada e todo o dia havia um caso novo, uma chifrada de marruá, uma passagem bem feita com algum garrote bravo. A varanda era comprida, defendendo-a do mau tempo a grande cimalha, apoiada em colunas de madeira lavrada. Presas a estas, duas ou três redes, tecidas de seda de buriti, embalavam o sono da camaradagem, que ruminava o jantar depois de um dia fadigoso, em que o gado na verdade dera que fazer.
Demais, esse gado de beira do rio Preto não era caçoada. E nesse dia, no cerrado do Periquito, os vaqueiros toparam uma rês alevantada, que fez o diabo.

"Pelo Sertão", Afonso Arinos

(Afonso Arinos nasceu no dia 1 de Maio de 1868. Morreu em 1916.)