quinta-feira, 22 de junho de 2023

As amigas de Peniche

As sardinhas saíram atrasadas este ano. Quero dizer, as nossas, as sardinhas do nosso mar, cá em cima, que são as minhas predilectas. No ano passado abri a época logo no dia 29 de Abril, e com satisfatórios resultados, como já aqui contei, mas este ano, eu sempre em cima delas, só arrisquei trazê-las para a mesa no dia 12 de Maio, para desougar, e, coitadinhas, eram mínimas, desenxabidas e secas como bacalhau da peça. Um desconsolo! Tive de suspender e apostatar, se queria salvar as minhas, nossas, sextas-feiras. É. Logo que entrados no tempo delas, sexta-feira ao jantar é dia de sardinhada cá em casa. Sardinhas de prata e com mar dentro, salada de pimento assado, vermelho e carnudo, azeitonas pretas e azedas, broa fresca e vinho tinto, mais nada. Portanto. Valeram-me as amigas de Peniche, sardinhas lá de baixo, mais robustas e já apaladadas, regulares, que a boa Dona Augusta, a minha fiel sardinheira há mais de trinta anos, me foi orientando, como quem não quer a coisa, para que pelo menos não me caísse a pirângula. E não caiu.
Comi 243 sardinhas assadas, no ano passado. Com este atraso que levo, não faço ideia de quantas vou comer este ano. E o ano das sardinhas, para mim, afrontando o que diz a chamada sabedoria popular, vai até Setembro e Outubro, que são os melhores meses, e às vezes até Novembro.
Entretanto, as nossas sardinhas, as do nosso mar, já se encontram finalmente em aceitáveis condições, de tamanho, gordura e gosto. Prometem. As nossas sardinhas de São João, comemo-las ontem à noite, a minha mulher e eu, assadas como sempre por quem sabe, isto é, por mim, e, digo-vos uma coisa, foram baratas, eram frescas como água e estavam bem boas. Assunto resolvido.
Porque já se sabe. Eu e a minha mulher não comemos sardinhas assadas nos dias mesmo dos festejos dos santos populares. Não comemos, porque geralmente as sardinhas não são das nossas, nem frescas. Não comemos, porque não gosto de balbúrdias, por um lado, nem de me meter em filas, em peixeiradas, por outro. E não comemos, por uma questão de princípio, devido à indecência do preço a que costumam ser vendidas por estes dias. É a lei da vida, a procura estraga a oferta. E então o que é que eu faço? Pelo São João, já há alguns anos, alugo um jacto particular, pego na mulher e vamos ao Maine, EUA, comer lagostas à ganância. As lagostas ficam-nos muito mais em conta do que as sardinhas e ainda trazemos para casa num taparuere.

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