Era um cãozico, um miniminicão, adereço de porta-chaves, um daqueles
fraldiqueiros alegres que correm, guincham e cabriolam no meio metro
quadrado que lhes basta como mundo. Ia pela trela, desconfio que para não
cair de cangalhas e desfazer-se, e o dono era só orgulho, sorria aos
sorrisos dos que passavam e achavam graça ao estupor do bicho, que
realmente.
Um transeunte mais dado aproximou-se, fez uma festinha ao canídeo e perguntou ao dono:
(O dono tinha a resposta na ponta da língua, quantas e quantas vezes
isto já lhe tinha acontecido. "Ora portanto, o cão é de raça chihuahua e
assim tão diminutos só talvez os da raça pequeno cão russo. Chama-se
chihuahua porque, como o próprio nome indica, esta raça teve origem no
estado mexicano de Chihuahua, cá está, embora haja quem diga que os viu
já no Egipto do tempo dos faraós, ou em Cuba, no tempo de não sei quem.
Os chihuahuas são considerados cães de luxo, de colo, e, de tão
franzinos, sofrem dos ossos. Pesam entre quilo e meio e dois quilos e
setecentos e medem, geralmente, entre quinze e vinte e três centímetros,
o que faz lembrar outras malandrices, não sei se me estou a fazer
entender. São cães amáveis, afectuosos e possessivos. São excelentes
companheiros. Este chama-se Antunes.")
Mas íamos aqui: um transeunte mais dado aproximou-se, fez uma festinha ao canídeo e perguntou ao dono:
- E o resto?
- O resto? - assarapantou-se o dono, perante uma questão assim tão extraordinariamente fora da ordem do dia.- Que resto?...
- O resto do cão, que é dele?...
P.S. - Publicado originalmente no dia 6 de Junho de 2016. O túmulo do faraó Tutankhamon foi aberto no dia 26 de Novembro de 1922.
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