segunda-feira, 6 de julho de 2020

Artur Azevedo 6

Miserável

O noivo, como noivo, é repugnante:
materialão, estúpido, chorudo,
arrotando, a propósito de tudo,
o ser comendador e negociante.

Tem a viuvinha, a noiva interessante,
todo o arsenal de um poeta guedelhudo:
alabastro, marfim, coral, veludo,
azeviche, safira e tutti quanti.

Da misteriosa alcova a porta geme,
o noivo dorme num lençol envolto...
Entra a viuvinha, a noiva... Ó céu, contém-me!

Ela deita-se... espera... Qual! Revolto,
o leito estala... Ela suspira... freme...
e o miserável dorme a sono solto!...


Artur Azevedo 

(Artur Azevedo nasceu no dia 7 de Julho de 1855. Morreu em 1908.)

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