terça-feira, 9 de julho de 2019

Microcontos & outras miudezas 153

A invenção da sogra
Consta que os muçulmanos introduziram a nora em Portugal. Gostaria de saber: e quem terão sido os filhosdeputa que nos introduziram a sogra?

Flores ao solheiro
Um restinho de sol e lá se sentavam elas comparando doenças e façanhas de netos havidos ou inventados. Rosa, Violeta, Hortênsia, Margarida, Dália, Açucena - evidentemente no jardim, ao entardecer da vida...

Não me dêem ideias
Logo na quarta página, ao lado do índice instalado em desafogo na página cinco, um selo-aviso com ares terminantes e antigos de imprimatur e nihil obstat. Rezava: "Respeite o direito de autor. Não fotocopie livros". Nunca me tinha passado pela cabeça, mas ainda bem que me lembraram disso. Fotocopiei - e foi uma tarde bem passada. Era um valoroso livro com 895 páginas.

Gosto que as palavras me enganem
Gosto de nomes, gosto do falar antigo, gosto das palavras. Gosto de palavras com piada fina, palavras como parreca, como esbraguilhado, como caguinchas, como cachicha. Mas ainda gosto mais de palavras desalinhadas, subversivas, fora-da-lei. Matreiras. Gosto de palavras que não são o que parecem. Aprecio especialmente as palavras que viram a norma de pernas para o ar e a abusam, como, por exemplo, e estas são cá das minhas, solhão, cordão, pontão, estradão ou picão.
Cá está. Cá estão: solhão, cordão, pontão, estradão e picão, palavras rematadas com o famoso sufixo "ão", unanimemente considerado pelos mais reputados gramáticos como um dos sufixos por excelência para a formação de aumentativos. E, no entanto, para quem sabe das coisas, solhão é uma espécie de solha mais pequena, cordão é uma corda de bolso, pontão é uma pontinha sobre um ribeiro, estradão é uma estrada estreita e geralmente em terra esburacada, conveniente para ralis, e picão é uma picareta diminuta, ferramenta de mineiros. São excepções que confirmam a regra? Não, pelo contrário: são palavras que querem que as regras se fodam.
Evidentemente a palavra pilão levar-nos-ia muito mais longe...

Dia de amar
Dois de Julho, amanhecendo. A velha prostituta, muito limpa e organizada, consultou a agenda praticamente vazia e leu baixinho, soletrando, acariciando as sílabas uma a uma: - Dia do Bombeiro Brasileiro. Às 11 horas.
E foi lavar-se.

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