O livro
Chegou à última página com o coração dilacerado entre a euforia e o
desalento. Que mundo extraordinário, o livro. Quinhentas e sessenta e
três páginas cheias de mistério, de sonho, de imaginação, de fantasia,
certamente romance, amores e desamores, aventuras e desventuras, acção, suspense,
final inesperado. Por outro lado, pensou, acariciando-lhe vagarosamente
a lombada, num gemido mal disfarçado de suspiro: - Ah, se eu soubesse
ler!...
Foguetes, rabichas e foguetões
Não sei se se lembram: Eurico da Fonseca (1921-2000) foi o principal
especialista português em astronáutica. Praticamente autodidacta,
nomeado investigador por decreto-lei e oficialmente equiparado a
professor catedrático, colaborou com a NASA e conheceu os principais
responsáveis pelo Programa Apollo. Notabilizou-se, entre nós, como
divulgador de assuntos científicos. Na rádio, acompanhou em directo, na
então Emissora Nacional, a chegada do homem à Lua, há 50 anos, que por
estes dias se celebram, e comentou os voos espaciais norte-americanos e
soviéticos. Mas era na RTP que eu gostava de o ouver. Ouver, escrevi
bem.
Pois foi com Eurico da Fonseca na televisão que eu aprendi
que, quando se fala de um lançador espacial, deve dizer-se foguete e não
foguetão. Foguete. Tal como na meia de vidro com fio puxado. Foguete.
Tal como no Santo António da minha rua em Fafe,
com girândolas, diabos-encaixados, bombinhas, estalinhos e
bichas-de-rabear, ou rabichas, como por lá se chamavam. Foguete. Eurico
da Fonseca explicava, apenas insinuando, que foguetão é outra coisa: por
exemplo coisa gasosa, eventualmente sonora e por norma fedorenta.
Quer-se dizer: um peido, com vossa licença...
Disse Jesus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "No campo insultem, fora do campo acabou."
Agá Ramos
Gosto de palavras, gosto do falar antigo,
gosto de nomes, gosto de brincar com nomes. Gosto de me rir. E às vezes
rio-me com os nomes que me vêm à cabeça, por exemplo Al Mirante, Bill
Tre, Sam
Dwich, Sara Pinto, Rick Ardo, Poly Ban, Bica Bornato, Bee Tock, Herr
Nesto, Sade
Miranda, Bob Adela, Rui Barbo, Bib Alves, Ono Mástico, Ray Naldo, Ca
Trel, Pio Nés, Kris Talino, Dick São, Tony Truante, Sal Amandra, Mick
Ose, Lee Moens, Rita Lina, Aury Cular, Ted Io, Nick Utina, Otto Mano, Su
Papo, Tuli Creme, Gal Déria, Philip Inas e Karl Inga. Rio-me também do
meu apelido, doellinger, que não levo a sério e só me arranja confusões. Silva servia-me muito bem. E sabem que mais? Quem se leva a sério é tolo.
Eu assino agá. Exactamente agá pequenino ponto, h., sei muito bem o meu lugar e o meu
tamanho no mundo. É: agá, de hernâni, e pronto.
O meu sonho, um
dos meus mais de mil inconsoláveis sonhos, era, porém, chamar-me e poder
assinar H. Ramos. Quero dizer, agá ramos.
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