sábado, 31 de maio de 2025

Também não era preciso tanto

Foto Hernâni Von Doellinger

Ele e os cigarros

Ele não fumava os cigarros. Ele comi-os, três a quatro maços por dia, um desastre para a saúde! Eram de chocolate e vinham embrulhados em pratinhas de cores variadas e apetitosas.

P.S. - Hoje é Dia Mundial sem Tabaco e Dia Mundial do Combate ao Fumo.

Livre-se do fumo, porra!

Hoje é Dia Mundial de Combate ao Fumo. E, ande lá, deixe-se de adiamentos, aproveite a sinergia da efeméride e, de uma vez por todas, seja homem, decida-se: compre um extractor em condições, potente, tipo industrial, ou, pelo menos, mude o exaustor da cozinha, que já não funciona desde 2009...

P.S. - Hoje é Dia Mundial de Combate ao Fumo e Dia Mundial sem Tabaco.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Gourmet da boca para fora

Do outro lado da minha rua havia uma daquelas pequenas lojas tipo "regional gourmet". Azeitonas em frasco, cogumelos em frasco, meles em frasco, geleias em frasco, licores em frasco, frascos em frasco, dois presuntos em fraco, azeites e vinhos em caro, prateleiras um fiasco. Num benévolo gesto de boas-vindas, mal abriu o estabelecimento fui lá cheirar e avisar que o conceito é uma treta e que gourmet a sério é em minha casa, mesmo em frente, porque aqui a comida é muito boa, e gourmet deveria ser isso, mas não estamos abertos ao público. O gourmet - a ver se eu me sei explicar - quer-se da boca para dentro e não da boca para fora.
Estas lojinhas abrem mas não vendem nada. Abrem por abrir. E sobretudo fecham. Fecham muito bem. São "regionais" porém franchising, very tipical e very vazias, de produtos e clientes. O toque de "qualidade" é dado em palavras "estrangeiras", o que só abona a favor do produto made in Portugal. A loja da minha rua tinha primeiro uma menina, que passava a vida na ombreira da porta a fumar, a fumar, a fumar. E de repente hibernou. A loja. Mês e meio depois reabriu, já sem a menina mas com um rapaz. Que passava a vida na ombreira da porta a fumar, a fumar, a fumar. Nas costas, os dois presuntos pendurados no cabide tisicavam e agradeciam - e assim se produz o genuíno fumeiro nacional.
Passou-se uma semana e a lojinha encerrou de vez: veio uma carrinha limpar as escanzeladas prateleiras, três sacos de plástico bastaram e lá se foi mais um posto de trabalho, por assim dizer, que é o que a mim me importa. Fico infeliz por ter razão: o conceito era realmente uma treta. Esta gente não sabe o que é massa com bacalhau e o prato a esbordar...

Entretanto. Antes e depois da sua lastimável fase "regional gourmet", a lojinha do outro lado da minha rua foi quase tudo, por breves temporadas e com fracasso garantido. Butique de média costura, sapataria fina, loja de animais, bijuteria e outras inutilidades, escritório, despensa, garrafeira e outros souvenirs, recepção de alojamento local e até agência de viagens que nunca abriu, mas a mim cheirou-me sempre ao mesmo: lavandaria de dinheiro.

Nem de propósito, a lojinha foi depois um posto de lavagem self-service para cães. E na porta ao lado abriu um estabelecimento para venda de "cannabis legal" e outros "produtos derivados de cânhamo", como, por exemplo, "creme de avelãs para barrar". Reconheci a mudança de paradigma: eram dois negócios com irreprimíveis potencialidades. Via-lhes futuro. Principalmente ao dos cães, porque nasceu no tempo e no país certos. Um tempo e um país em que os animais são de estimação, mas as pessoas não. Já quanto à canábis, vamos lá ver: não sei se o pessoal aqui da zona não andará de momento mais interessado em algo, como é que se diz, mais pesado e ilegal, vá lá.
Mas o posto de lavagem self-service para cães também já fechou, enfim. Foi remodelado, escondido, e não há maneira de reabrir não sei com quê.

E sabem que mais? Sou de Fafe e sou da terra. Mas moro em Matosinhos, na famosa zona dos restaurantes e marisqueiras, que se acotovelam porta a porta. Pensava portanto que não lembraria ao diabo o próprio diabo estabelecer-se aqui no meu território com uma dessas autoproclamadas hamburguerias gourmet, mas a alguém lembrou. Quando, ainda de vidros tapados, vi cá fora os letreiros, pensei: isto nem sequer vai abrir. Mas abriu, e tornei a pensar: daqui a quantos dias é que isto vai fechar? Porque a verdade é esta: não sei o que tenho, mas o gourmet não se dá à minha beira, e juro que a culpa não é minha. Evidentemente não o frequento, mas, tirando isso, mais nada.
Fui espreitando o estabelecimento. As única vezes que vi "clientela" lá dentro, os "clientes" eram o pessoal da casa, à mesa, comendo a sopinha. Até que um dia, talvez nem um mês decorrido, fatal como o destino e com ponto de exclamação e tudo, lá estava afixado o aviso na porta fechada: "Trespasse!"
E foi o fim.

Moral da história. Contava-se que havia um padre, famoso pregador, que fazia sempre o mesmo sermão. As mesmas inflamadas palavras, da primeira à última, fosse em que circunstância fosse, só mudava o nome do santo. E eu estou como ele, só mudo o título. Quer-se dizer: hoje é Dia Mundial do Hambúrguer. E Fafe, a terra da vitela assada que já aderiu ao workshopping, ao showcasing, ao showcooking, à street fooding e certamente também ao brunching e ao gourmeting, também já recebeu o seu primeiro McDonald's, ainda por cima num terreno que, no tempo da Dona Maria Margarida, dava umas couves que eram uma categoria. É só prejuízo...
 
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Hambúrguer.

E o mar enrola na areia...

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 27 de maio de 2025

O quinto dos infernos

Moro num terceiro andar. Direito. E dou-me muito bem com todos os vizinhos do prédio, isto é, não me dou de todo com vizinho nenhum, que é a melhor maneira de nos darmos todos bem. O meu vizinho do quinto entrou em obras, ou por outra, resolveu deitar a casa abaixo da porta para dentro e fazer lá dentro uma casa nova, isso é lá com ele. Paredes, soalhos, tectos, canalizações, instalações eléctricas, louças e móveis de casa de banho e cozinha, tudo destruído sem dó nem piedade, deitado abaixo à força de camartelos pneumáticos, sonoras rebarbadoras, explosões de dinamite, buldózeres, bolas de aço e outra maquinaria pesada de demolição, que eu bem a ouço lá em cima em manobras, um chinfrim medonho, um basqueiro insuportável, incessante, eu e a minha mulher já só falamos um com o outro por SMS para nos ouvirmos, é pó por todos os lados, sufocante e cego, a porta da rua sempre escancarada, de manhã à noite, os elevadores impraticáveis, o chão um nojo, é o inferno, o fim do mundo mesmo em cima das nossas cabeças em água, ouradas, doridas, cansadas, apenas com os vizinhos do quarto-direito de permeio, esses, coitados, completamente à beira da loucura, com a casa a tremer-lhes como varas verdes e episódios bidiários de histeria conjugal.
Será coisa para durar três ou quatro meses, a fazer fé no aviso gentilmente afixado no placar de cortiça do condomínio. E não me posso queixar. Ainda de acordo com a missiva do vizinho do quinto, a empreitada "decorre tal como permite o quadro legal em vigor", dando "cumprimento ao estipulado nos n.ºs 1 e 2 do art.º 16.º do Regulamento Geral do Ruído, aprovado pelo decreto-lei n.º 9/2007 de 17 de Janeiro". Ainda bem. Assim, estou muito mais descansado...

P.S. - Hoje é Dia Mundial dos Vizinhos.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Quando a "puta" tocava

O bombeiro profissional
Ele era um bombeiro verdadeiramente profissional. Só aceitava incêndios das 9h às 13h e das 14h às 17h, de segunda a sexta-feira. Fora do horário de expediente, que ligassem aos voluntários!

A "puta" tocava e Fafe desatava a correr em direcção aos Bombeiros. A "puta" era a sirene. E os homens largavam tudo: trabalho, mesa, cama, mulher e até os socos ou as botas pelo caminho. Havia os que iam de bicicleta e os que apanhavam boleia de motorizada. Carros paravam para levar desgraçados vindos das lonjuras da Cumieira ou dos campos do Sabugal e já com os bofes de fora. Depois, havia o Casimiro das Caixas, que começava o dia a fazer as palavras cruzadas no jornal do Café Chinês e chegava na sua velha furgoneta. Mas quando "ela" tocava, era para todos. Tocava também para os curiosos, para os que iam apenas ver, saber onde era o fogo. E, em vez de estorvar, faziam-se úteis. Apanhavam e arrumavam as bicicletas e as motorizadas que os bombeiros atiravam em pleno andamento ao chegarem ao quartel, e um mirone encartado ainda tinha de estacionar em condições a carrinha do Casimirinho, deixada sempre à frente dos portões a empancar a saída dos carros de incêndio. O Casimiro da Caixas era um fafense que tinha vindo de Guimarães, onde decerto nascera, como talvez Portugal, e nunca se descolou daquela pronúncia carregada que nos fazia rir a todos.
"Ela" tocava e eu, miúdo, lá estava. O fogo era uma aflição. Olhava para aqueles homens, esbaforidos, trementes, brancos como a cal, a entrarem na "primeira viatura" apenas meio vestidos, a enrodilharem-se nas calças que não enfiavam ou nas galochas que levavam ainda nas mãos, cheios de urgência para enfrentarem as labaredas, e via heróis. Exactamente: heróis, muito melhores do que os dos livrinhos de cobóis e dos filmes, nem que fosse o Steven McQueen anos mais tarde na "Torre do Inferno", que os bombeiros de Fafe foram ver a Guimarães, em viagem oficial. Eu também fui. Os meios eram escassos, a formação era elementar, Fafe era uma terra pequena, mas aqueles homens tinham um coração bombeiro do tamanho do mundo. E o seu maior medo, que eles nunca confessavam, era chegar lá e o fogo já estar apagado...
Tão grande era o coração, grande demais para um homem só, que depois tinha de ser repartido. Ser bombeiro era coisa sanguínea, "doença" de família. Irmãos, pais e filhos, netos, tios e sobrinhos, primos, todos sofriam do mesmo bem. Creio que hoje ainda é um bocado assim.
Naquele tempo, eram os do Santo, os do Tónio Quim Calçada os Moleiros, os Costas do Assento, os Feira Velha, os Funileiros, os Quintos. Eram também o Agostinho Cachada, o Augusto Susana, o Frescaragem, que tinha lábia de leiloeiro, o Nogueira da Ponte do Ranha, que "fardava muito bem", o Zé dos Alhos, o Zé Sacristão, o Nelo Chapeleiro, o Chaparrinho, o Ferreira "Puta Velha", o Armando "Salazar", que era o viagra em pessoa, o enorme Sr. Humbertino, que trabalhava para os Summavielles e já só se apresentava no dia da Festa dos Bombeiros, tal como o Sr. Matias e como o Joãozinho motorista, que conhecia como ninguém as manhas do Opel descapotável e apanhava todos os anos uma carraspana de tal ordem que era preciso levá-lo a casa.

(E havia os espontâneos, que afinal não eram tão espontâneos assim. Moravam ali à porta e estavam sempre de prevenção para uma emergência que o fosse realmente. Faltava um motorista, a saída estava a atrasar-se? - era só chamar por eles e eles avançavam: lembro-me do Fredinho Bastos e do irmão Quinzinho, do Varinho Dantas ou do Toninho da Luísa, que tinha piada fina e eu gostava de imaginar DaLuísa derivado ao comediante americano Dom DeLuise, mas isso já é outro filme. Se calhasse, enfiavam um blusão e um bivaque, só para despaisanar, e avançavam a todo o gás, bombeiros como os de exame feito e papel passado e ainda mais voluntários, mas qual seguro qual carapuça! Ser-se bombeiro era efectivamente um estado de alma. E estes eram bombeiríssimos de primeira.)

Mas a pinga. Naquele tempo, ser bombeiro dava muita sede e a água era toda precisa para apagar incêndios. De modo que, conscienciosos, os voluntários fafenses, regra geral, decilitravam no verde tinto com apreciável pertinácia. O meu avô da Bomba, que era quarteleiro e videirinho, até montou um pequeno tasco que foi um sucesso. O meu vizinho Agostinho Cachada era um dos principais clientes, mas tinha um porém: pelava-se por bagaço e quando ia para casa nunca mais lá chegava, porque, mesmo depois de o meu avô fechar o tasco, o bom do Sr. Agostinho voltava sempre para trás para beber mais um. Era certinho. Uma noite, para lhe evitar a canseira e apressar o sono, o meu avô foi atrás dele até ao Paredes, já a meio caminho, com a garrafa da aguardente escondida debaixo do capote...

Quando o monte ardia, os bombeiros iam e pronto. Atulhados em viaturas desconfortáveis, vagarosas, barulhentas, fumegantes, inseguras e, não raro, caindo aos pedaços. Iam e pronto. Os bombeiros voluntários. Naquele tempo ninguém sequer sonhava ganhar dinheiro por apagar incêndios - eram uns tolos. Tolos, porém despachados e íntegros. Devotados. E espertos, desenrascados. Não havia rede, satélites, parabólicas ou fibra óptica, ainda não havia radiotelefones ao serviço, os telemóveis ainda não tinham sido inventados e nem sequer havia cabinas telefónicas nos montes. Parece impossível, mas lá em cima, no meio da penedia e das giestas, no Portugal das cabras e dos cabrões, não havia telefone de espécie nenhuma. E não havia SIRESP, graças a Deus. Que se segue: se eram precisos reforços, alguém vinha de motorizada dar o recado ao quartel.
Pelo menos em Fafe era assim, e não havia razão de queixa.

Quando a sirene tocava, também as mulheres de Fafe se sobressaltavam. Era a "puta" que lhes tirava os maridos de casa, da cama. E eles iam para os braços da "outra". Os Bombeiros eram uma tremenda paixão, a "amante" perigosa que levava tudo o que queria. E elas tinham medo que um dia os seus homens não voltassem. Tolices de mulheres. Então os heróis não voltam sempre?
Às vezes, não. Às vezes o herói faz o que tem de fazer, isto é, faz o que fazem os heróis, e depois desaparece em direcção ao sol poente. Desaparece e nunca mais.

P.S. - Nova versão, publicado no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia Nacional do Bombeiro.

domingo, 25 de maio de 2025

Jardins perdidos

Traz uma árvore também
Era uma localidade um bocadinho estranha, naturalmente austera porém exuberantemente moderna e cosmopolita. Nas suas principais entradas, a autarquia colocara frondosas tabuletas que avisavam os forasteiros: "Se quiser sombra, traga a sua própria árvore".

Os jardins era uma coisa que existia antigamente. Como os castelos, as pinturas rupestres, as pirâmides e assim. Era uma coisa muito antiga, do tempo dos romanos, basta ver que Deus, quando criou o mundo, o mundo era um jardim, mais ou menos como a Madeira, mas chamava-se Éden, como o velho cinema de Lisboa, ou Jardim do Éden ou Jardim das Delícias ou Paraíso Terreal ou simplesmente Paraíso, como o novo cinema de Palazzo Adriano. O plural de Éden é édenes, convém não esquecer.
E corria tudo bem no Paraíso. Quer-se dizer: corria tudo na paz do Senhor. Poder-se-ia até afirmar, creio que sem forçar demasiado a nota, que o Paraíso era, naquele tempo, um autêntico paraíso. Estava escrito, porém, que Adão e Eva tinham de asnear. Podiam ter cometido um pecado qualquer, um pecadinho de nada, um pecado repetido, copiado, um que estivesse na moda. Mas não! - quiseram ser originais. E foram. Adão e Eva cometeram o pecado original e deu na merda que deu. Até hoje.
Eu sou desse tempo. Do tempo em que ainda havia jardins. Não se sabe bem se foi por causa dos traques dos dinossauros ou derivado ao impacto de um asteróide gigante, eventualmente do tamanho de uma cidade, a verdade é que coisas antigas como os castelos, as pinturas rupestres, as pirâmides, os jardins e assim foram regra geral varridas da face da Terra, restando hoje em dia apenas algumas amostras assumidamente raras e razoavelmente arqueológicas.
Para que a Humanidade tenha pelo menos uma vaga ideia de como era o mundo em Portugal antes do apocalipse é que Portugal descobriu Vila Nova de Foz Côa, por exemplo, e Fafe mantém às vezes de porta aberta o vetusto Jardim do Calvário, que nos seus tempos mais pré-históricos até teve crocodilos, e bem barulhentos, isso toda a gente sabe.
Os jardins antigos, os jardins entretanto desaparecidos, foram substituídos por urbanismo, é assim que se chama a nova coisa. E como é que isso se fez? Como é que isso se faz?

Desta maneira simples. Pegue-se num bom pedaço de terreno relvado, com árvores e com sombras, e arrase-se tudo. O terreno, a relva, as árvores e as sombras. O urbanismo não quer sombras. Encha-se o espaço de alcatrão, cimento, placas de granito e mármore, pedregulhos aparelhados fazendo de conta de bancos e estacas de alumínio a imitarem árvores ou, quem sabe, a imitarem esculturas muito inteligentes e indecifráveis, de preferência com esguichos mas sem água derivado à seca e à poupança. Isto é urbanismo! Pegue-se no jardim da cidade, arranquem-se as flores e os arbustos, envenene-se o verde, construam-se desertos em forma de praça e mandem-se as pessoas para casa. Isto é urbanismo! Pegue-se num monte, sítio de memórias, de brincadeiras da infância, santuário de locais secretos e míticos, reserva de saúde e natureza, e corte-se-lhe a crista, cape-se, desarborize-se, desfaune-se, terraplene-se, enxote-se a bicharada, cale-se o incómodo do chilreio dos pássaros, ergam-se moradias de preferência com feitio de caixote, altas, pegadas e muitas, fechadas, e muros e portões e alarmes e estradas e carros e escapes e buzinas e estampanços e atropelamentos e antenas parabólicas e fios e postes de alta ou remediada tensão. Isto é urbanismo!

Resumindo e concluindo: roubam-nos os jardins e dão-nos esplanadas desamparadas e escaldantes, arrancam-nos as árvores e impingem-nos guarda-sóis publicitários. E, se nos queixamos, dizem-nos que não percebemos nada do assunto. Mas qual assunto? Viver?...

P.S. - Publicado no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia Nacional dos Jardins.

A mulher de vermelho (e as outras)

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 24 de maio de 2025

O garrano, o lobo e, a seguir, o lince

Mandaram-nos proteger o garrano. E nós protegemos. Depois disseram-nos que era preciso abater o garrano. Mandaram-nos proteger o lobo. E nós protegemos. Agora dizem-nos que o lobo pode ser abatido. Mandaram-nos salvar o lince. Salvou-se o lince e, consta, o lince nunca esteve tão bem. O lince que se ponha a pau...

P.S. - Hoje é Dia Europeu dos Parques Naturais.

Parque natural

Era um parque natural. Um excelente parque natural, diga-se em abono da verdade. Descampado, chão de terra, pedra e erva, e nem precisou de obras. Cabiam ali, bem à vontade, para cima de cem carros...

P.S. - Hoje é Dia Europeu dos Parques Naturais.

Frescuras

- E o que vai ser?
- Um parque.
- Fresco? 
- Natural, se faz favor.

P.S. - Hoje é Dia Europeu dos Parques Naturais.

Ao contrário

Conheço uma senhora que todas as manhãs faz exercício ali em baixo no Passeio Atlântico, à beira do mar. Entre outras habilidades atléticas, a senhora sobretudo caminha de costas, arrecua, ou seja, anda ao contrário. E isto há anos. Resultado: em vez de emagrecer, a senhora está cada vez mais gorda...

P.S. - Hoje é Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade.

Cai neve no jardim

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Éramos pelos touros

Referendo tauromáquico
Fez-se um referendo sobre as touradas - sim ou não? Os touros votaram não.

Sim, creio que se poderá afirmar, sem demasiado escândalo, que havia uma certa afición em Fafe. Uma espécie de penha taurina intermitente e inorgânica, espontânea, funcionava, digamos assim, no Peludo, café do povo, sempre que houvesse corrida na televisão, o que acontecia muito raramente e ainda a preto e branco. Gostávamos, portanto, de touradas. Éramos conhecedores, exigentes, e só nos interessavam as pegas.
As touradas eram entretém de Verão, geralmente à noite, e as nossas noites de Verão decorriam naquele bocadinho de passeio que servia de esplanada ao Peludo, na rua do Cinema e quase em frente, dois bancos corridos, de jardim, encostados à parede, e três ou quatro mesas com cadeiras a atravancarem a passagem. Estava-se bem! A tourada era lá dentro, no televisor pendurado num dos cantos da pequena sala, logo após a porta. O espectáculo começava, cortesias, cavaleiros, toureiros, matadores, bandarilheiros ou simples peões de brega, e o pessoal cá fora como se nada fosse, aquilo não interessava para nada. Porém. Tocava o cornetim a anunciar a pega, e entrávamos todos a correr para ganhar lugar e pedir mais um fino. As pegas é que nos diziam respeito. E éramos, obviamente, pelo touro. Para o nosso grupo de aficionados, uma boa pega, uma pega realmente de encher o olho, era quando o animal, sozinho, conseguia dizimar a formação de forcados inteira, um a um ou todos aos mesmo tempo, o valentão da cara, os ajudas e até o rabejador, tudo levado à frente, tudo pelos ares e, se possível, que não era, a coisa repetida depois duas ou três vezes, em câmara lenta.
Rematada a função, amiúde de cernelha, que tristeza, após três, quatro ou cinco tentativas de pega natural falhadas, tornávamos ao exterior, talvez para mais uma sessão de anedotas com o Tónio Augusto Ferreira ou para ouvirmos as mirabolâncias do Zé Manel Carriço, que aparecia de repente, parecia impossível, só tinha de atravessar a rua. E ali ficávamos no comentário e na galhofa, até à próxima gaitada.

Que Fafe também teve a sua tourada, isso já é outra história. Foi no Campo da Granja, em 1963, provavelmente por ocasião das Festas da Senhora de Antime, que é o mais certo, mas também poderá ter sido por alturas das Feiras Francas, lembro-me é que era um belo dia de sol e, agora que penso nisso com mais vagar, não faço a mínima ideia de como é possível lembrar-me. Uma tourada que terá sido a primeira organizada em terras de Fafe e que, se não me engano, foi igualmente a única, e portanto última, até hoje.O redondel não era assim tão redondo como o nome poderia indicar à partida: digamos que foi construída, com robustos troncos de madeira, uma espécie de lua cheia fanada, cortada em linha recta na zona da bancada, que era para o excelentíssimo público poder estar em cima do acontecimento. As digníssimas autoridades locais e a nossa mais distinta burguesia, orgulhosamente alapadas na bancada de cimento com tecto de chapas de zinco, quero crer que com umas discretas almofadinhas aliviando os respectivos traseiros, e o povo a pé, no meio do campo da bola, encostado às tábuas, mas seria muito pouco, meio dúzia de gatos-pingados, se tanto, e eventualmente já razoavelmente decilitrados, porque os bilhetes, mesmo os bilhetes mais baratos, eram bastante caros. Foram certamente ao engano e, diga-se em sua defesa, o calor era realmente muito e a situação deveras incómoda e eventualmente perigosa. Se naquele tempo já havia praças de toiros desmontáveis e alugáveis, não foi daquela vez que uma delas chegou a Fafe.
A tourada, segundo me lembro, e confesso que continuo sem perceber como é que me lembro, foi uma merda. Os do Peludo, especialistas encartados, nem lá pusemos os pés. Oficialmente. Quer-se dizer: mandaram-me a mim, que era puto, dar uma espreitadela, dei, e por isso é que sei do que estou a falar. Acho eu.

No tempo das feiras de gado, havia uma, valente, na Lameira, acontecimento constado ali à volta. Realizava-se todos os anos "pelos 21", isto é, no dia 21 de Agosto, ponto alto das Festas em Honra de Nossa Senhora da Saúde. Ora bem. Uma ocasião, uma vaca espantou-se não sei com quê, soltou-se do sítio onde estava a guardar e correu o arraial inteiro de uma ponta a outra a espalhar o pânico e o caos em direcção à Pica, escornando e escoiceando a torto e a direito, desfazendo tendas, barracas e ornamentações, tudo em pantanas, invadindo tascos e casas sérias, saltando para cima de carros e outros veículos mais ou menos motorizados e levando a eito aquele povo todo, aflito e tolo que não sabia aonde se havia de meter, anjinhos e mordomos incluídos. Eu, muito bem entrincheirado e de barriga cheia após merenda na Albertininha, ri-me como um perdido. Quer-se dizer: a coisa não constava do programa, mas também foi uma bonita tourada.

(Publicado no meu blogue Mistérios de Fafe)

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Que puta de vida!

Foto Hernâni Von Doellinger

O Lopes ofereceu-me pelo aniversário os "Mistérios de Fafe", de Camilo Castelo Branco. Uma "edição popular" de 1969 da Parceria A. M. Pereira Ld.ª, "8.ª edição, conforme a 2.ª, última revista pelo autor", Camilo, que avisa desde logo: "Esta novela contém adultérios, homicídios, missionários e outros cirros sociais", portanto Fafe no seu melhor. Prendinha bem catita, que nisto de livros o Lopes nunca dá ponto sem nó, e foi apenas a cereja em cima do bolo, um mimo, porque a prenda principal foi outra - outro livro, evidentemente. Os meus melhores livros, aliás, são-me regularmente dados pelo Lopes e pelo meu irmão Orlando, honra lhes seja.
Mas o Lopes. O Lopes é um bom caralho! Aqui atrasado ofereceu-me "O Seminarista", de Rubem Fonseca. "O Seminarista", para mim, estais a ver a malandrice? Porque o Lopes parece que está sempre no gozo. O Lopes chama-se Luís Lopes, é jornalista, escritor, argumentista e fafense amador, tantas as vezes que me acompanhou nos meus periódicos e mais ou menos nocturnos regressos à terra. O seu primeiro livro, publicado pela Vega em 1997, tem por título "Que Puta de Vida!", e quem ainda não leu, não sabe o que anda a perder. É coisa que se lê num lampo ou, melhor dizendo, no tempo de uma gargalhada. Ou de um espirro. Alguns raros exemplares poderão ainda ser encontrados, creio, nas melhores casas da especialidade.

Já agora, o seguinte. À medida que nos formos conhecendo melhor, ides perceber que eu levo os telemóveis muito a sério (à séria, se lido em Lisboa). Se o meu telemóvel toca, e é raro, eu atendo. Sempre. Ainda ontem: eu estava aqui nas traseiras, a escrevinhar qualquer coisa, por acaso sem o telemóvel à mão, e ouvi-o tocar na cozinha, virada para a rua. Fui lá a correr: não era o telemóvel, era a máquina de lavar roupa, que as máquinas de lavar roupa agora também tocam. O que é que eu fiz? Atendi a máquina de lavar roupa, evidentemente. E era o Lopes...

(Publicado originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia do Autor Português)

terça-feira, 20 de maio de 2025

O que precisa de saber

"Cancro da próstata agressivo: o que precisa de saber sobre a doença de Joe Biden", propõe o título do jornal Público. E a verdade é só uma: no assunto em questão, "a doença de Joe Biden", eu não "preciso" de saber mais nada, "cancro da próstata agressivo", eu percebi. Mas quê? Com todos os partidos a quererem ser iguais ao Chega, incluindo o PSD, parece que também todos os jornais querem ser iguais ao Correio da Manhã, incluindo o Público. Depois, queixem-se!

Abelhas e vespas, a diferença

A diferença entre as abelhas e as vespas. As abelhas são insectos himenópteros, da família dos Apídeos, que vivem em enxames e produzem mel e cera. As vespas são lambretas ou, vá lá, motorizadas para senhoras, desculpem-me a expressão...

E depois há as vespas asiáticas. As vespas asiáticas, diga-se em abono da verdade, são principalmente Honda, Yamaha e Suzuki. Mas também Zongshen, Lml, Lifan, Generic, Kinroad, Jincheng, Znen, Masaï, Keeway, Baotian, Sym, Pgo, Kymco e TNT. Isto apenas por exemplo. E são realmente uma praga.

P.S. - A Vespa fez 79 anos há coisa de um mês. Foi no dia 23 de Abril de 1946 que Enrico Piaggio registou a patente de sua criação mais famosa e verdadeiro ex-líbris da marca Piaggio. Hoje é Dia Mundial das Abelhas.

domingo, 18 de maio de 2025

Eu não lhe admito, senhor deputado!

- Eu não admito que o senhor deputado diga que eu disse isso, senhor deputado!
- Então o que é que o senhor deputado disse, senhor deputado?
- Eu disse aquilo, senhor deputado.
- Aquilo, senhor deputado? E só agora é que o senhor deputado diz isso, senhor deputado?
- Eu não admito que o senhor deputado diga que eu disse isso, senhor deputado!

Relativamente a essa matéria

- Relativamente a essa matéria, senhor deputado, devo esclarecer que não tenho nada a acrescentar relativamente a essa matéria.
- E relativamente à outra matéria, senhor primeiro-ministro?
- Relativamente à outra matéria, senhor deputado, devo esclarecer que não tenho nada a acrescentar relativamente à outra matéria.
- Bem me parecia, senhor primeiro-ministro!
- Ainda bem que nos entendemos, senhor deputado!

Ó Portugal, se fosses só três

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 17 de maio de 2025

Quando o futebol não era para cátias vanessas

Deu-se um importante acontecimento desportivo este fim de tarde. No Estádio do Dragão, antes do irrelevante FC Porto-Nacional, despediu-se um grande jogador de futebol, um jogador à moda antiga - Castro. Homem de trabalho, despretensioso, honesto em campo, carregador de piano e bombo, terminou a carreira ao serviço da equipa B do seu clube do coração. À saída, quase pedindo desculpa se por acaso incomodou, informou simplesmente que "não é preciso muito estilo para ser jogador de futebol". Isso. E também que "fazer o bem compensa, ser correcto compensa". Disse Castro.

Não é novidade: os nomes interessam-me muito. "Diz-me o teu nome, dir-te-ei quem és" - acredito neste ancestral provérbio chinês que acabo agora mesmo de inventar, e não no outro, bem intencionado e de autor incerto, "Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és". Millôr Fernandes explicava melhor do que eu o meu ponto de vista: "Judas andava com Cristo. E Cristo andava com Judas". Estamos percebidos?
Portanto, dou-me ao trabalho dos nomes. Quando eu era miúdo marcava no jornal os nomes dos jogadores de futebol que me pareciam esquisitos. Ainda não tínhamos chegado à babel que agora é, mas o Marreca, o Camelo, o Cansado, o Repolho, o Chouriça, o Torto, o Maneta, o Sacristão, o Mouco e o Aguardente enchiam-me de alegria as segundas-feiras. Também gostava muito do Araponga, do Alhinho e do Manaca. O Penteado e o Careca já me apareceram fora de tempo, mas isto é tudo nomes só por exemplo.
Com os nomes sublinhados eu fazia equipas que jogavam umas contra as outras, num campeonato de partir a moca, porque eu imaginava os jogadores exactamente conforme o nome, não sei se estão a ver o Marreca a driblar o Sacristão e o Repolho a entrar de pé em riste ao Camelo.
(Não é preciso ir mais longe: sou de Fafe, uma terra que deu ao futebol e ao mundo nomes tão extraordinários como Ricoca, Riga, Piré, Rates, Estafete, Mulato, Preto, Zebras, Caganito, Trolas, Feira Velha, Machica, Esparrinhento, Pescoça, Ferradeira, Mocho ou Mofo. Nomes que são uma primeirinha, do tempo em que o futebol era desporto e jogado por gente como nós. Uns antes, outros depois, estes e mais, foram e ainda são os meus ídolos.)
Sempre apreciei particularmente os jogadores de um nome só. Mas nome de barba rija, se me faço entender. O Freitas, o Gomes, o Antunes, o Meneses, o Martins, o Ferreira, o Oliveira, o Marques, o Almeida, o Lopes, o Carvalho - eram nomes que me punham em sentido. E se os nomes tivessem bigode farfalhudo, inclusive nas sobrancelhas, então ainda melhor. Nomes assim davam-me segurança, transpiravam autoridade, infundiam Respect. Pareciam da polícia. O agente Freitas, o chefe Gomes, o comissário Antunes, o nosso cabo Martins, o sargento Almeida, o capitão Carvalho... - estais a acompanhar-me? -, e isto só para falar da linha média para a frente.
Mas já não há nomes assim da boa e velha casca-grossa, e os bigodes de antanho foram de momento substituídos por falsas barbas jihadistas em caras de sobrancelhas depiladas. Temos agora em campo o Paulo Vítor, o João Mário, o Paulo Bernardo, o André Paulo, o Mário Rui, o Rui Miguel, o João Paulo, o Paulo Jorge, o João Afonso, o Rúben Tiago, o Cristiano Ronaldo. Enfim, cátias vanessas.

Reflexão ou refluxo?

Hoje é dia de reflexão tendo em vista o acto eleitoral de amanhã. Mais um. Mais um acto eleitoral e mais um dia de reflexão. E um dia assim não podia ser mais oportuno nem de maior utilidade. Sobretudo para as pessoas que, como eu, votaram no passado domingo.

Quem ri por cima ri melhor

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Epifania

Ele viu a Luz. Viu a Luz e disse: - O Dragão é mais bonito.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Luz.

O leitor

Ele era um leitor compulsivo. De contadores de água, luz e gás.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Luz.

Choque em cadeia

Choque em cadeia envolve 16 visitas, 8 reclusos e 4 guardas prisionais. Foi humidade na instalação...

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Luz.

Lamparinas bem dadas

Quando, no meio da discussão e dos encontrões, lhe ofereceram um par de lamparinas, ele aceitou de bom grado e até aproveitou para deitar abaixo a ligação à EDP.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Luz.

Génios

Parecendo que não, há uma diferença assinalável entre o génio da lâmpada e o génio da garrafa. Eu, por exemplo, embora também aprecie a competência e o rasgo de um bom electricista, dou muito mais valor à sabedoria decilitrada de um bêbado manso.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Luz.

Espelho meu...

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Homem de famílias

O casamento, para ele, era tudo. Aliás, tinha dois. Ao mesmo tempo.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Família.

A família

Tinha realmente uma família numerosa: sete filhos, vinte e três netos, quarenta e sete bisnetos, dezassete trinetos, duas tetranetas e uma trotineta. 

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Família.

A última a morrer

Era uma família convencional. Morreram, naturalmente por esta ordem, o Acúrsio, a Adelaide, o Tibério, a Catarina, a Rosa, o Celestino e finalmente a Esperança. É daí que vem.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Família.

Consanguinidade

Os números primos, há que admiti-lo, podem ser um bocado tolos.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Família.

Matematicamente

Eram números primos. Direitos. Por parte das mães.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Família.

terça-feira, 13 de maio de 2025

O povo ouviu dizer

Eram aos milhares à porta do centro de saúde, nunca se vira uma coisa assim. Chegavam de ambulâncias, camionetas de caixa aberta, motorizadas e até carros de bois, em macas, padiolas e camas de casal, com a ajuda de bengalas, cajados, muletas, andarilhos, cadeiras de rodas e patins em linha, cegos, mancos, cardíacos, asmáticos e furunculosos, os padecimentos do mundo inteiro ali estavam a céu aberto, acotovelando-se. Sendo 13 de Maio, até parecia Fátima em peso à espera da bênção dos enfermos. Mas nada disso. Ouviram dizer, constou-lhes, que era Dia do Doente e, pronto, tomaram horas e apareceram todos à consulta.

P.S. - Hoje é Dia do Duende.

domingo, 11 de maio de 2025

O homem do leme e o faroleiro

Cavaco Silva tinha a mania de que era "o homem do leme", lá pelos finais dos anos oitenta do século passado, e não lhe passou. Luís Montenegro, que ninguém diga que está livre, deu-lhe agora para se apresentar como "o farol deste país". Faroleiro, eu creio que ele queria dizer faroleiro. E, entretanto, estimo-lhes as melhoras.

O horário de Deus

Vínhamos de votar para as eleições do próximo domingo e resolvemos passar pela capelinha da Obra do Padre Grilo, como costumamos fazer muito amiúde. Fica-nos mais ou menos em caminho. Sentamo-nos lá um bocadinho a pensar na vida, a Mi e eu, aproveitando a fresca e o silêncio. Gostamos disso. Mas hoje batemos com o nariz na porta, a capelinha estava fechada, talvez melhor dizendo, ainda fechada. Eram para aí oito e meia. É o que eu já suspeitava: Deus dorme, e anda a acordar cada vez mais tarde.

O Dia De

Hoje é Dia do Parque Natural do Douro Internacional e Dia Europeu do Melanoma, ontem foi Dia Mundial do Lúpus e amanhã será Dia Internacional do Enfermeiro ou da Enfermagem, Dia Mundial da Fibromialgia, Dia Mundial da Síndrome de Fadiga Crónica/Encefalomielite Miálgica, Dia Internacional do Cancro da Próstata e Dia do Islamismo - segundo copio da Wikipédia. O que seria a nossa vida sem os dias de? E sem a Wikipédia?

P.S. - A Wikipédia em língua portuguesa abriu portas no dia 11 de Maio de 2001.

Os influentes

O rio Douro tem muitos e variados influentes em território nacional. Os mais importantes são os rios Côa, Sabor, Tua, Ceira, Varosa, Corgo, Ovil, Paiva, Sardoura, Tâmega, Mau, Arda, Uima e Sousa. São bastante influentes porque eles é que abastecem de água o rio Douro.

P.S. - Hoje é Dia do Parque Natural do Douro Internacional.

Um toque de classe

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 10 de maio de 2025

Os enxotadores

Hoje é Dia Mundial das Aves Migratórias. "Ide para a vossa terra!", grita-se em Portugal.

P.S. - Hoje é o 2.º Dia Mundial das Aves Migratórias. O Dia Mundial das Aves Migratórias é duas vezes por ano, no segundo sábado de Maio e no segundo sábado de Outubro, coincidindo com as duas principais épocas de migração aviária.

Senhor de Matosinhos 2025


Festas do Senhor de Matosinhos, de 23 de Maio a 15 de Junho. Este ano, concertos com Matias Damásio, Richie Campbell e Dino D'Santiago. O cartaz das festas é da autoria do escritor Valter Hugo Mãe. Programa completo e toda a informação, aqui.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

O Público pergunta

No seu extraordinário "Dating eleitoral 2025", o jornal Público pergunta aos seus leitores: "Com que partido sairia para jantar?" E eu pergunto: como é que se sai para jantar com um partido? E é lombo de porco assado, como o costume? O Público, às vezes, palavra de honra...

Entrada de Leão

Não é que a minha opinião interesse para alguma coisa ou a alguém, mas dou o benefício da dúvida ao novo papa, Leão XIV. Mesmo tendo presente que Robert Prevost é americano e que, no Vaticano, era o homem do aparelho.

Dia das Meias Perdidas

Hoje é Dia Mundial das Meias Perdidas. Só para que nos entendamos, as meias perdidas nunca acontecem de baliza aberta. Isso já seriam perdidas inteiras, completas, escandalosas...

P.S. - Hoje é Dia Mundial das Meias Perdidas.

Com uma perna às costas

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Quadrúpedes

O burro é um quadrúpede. Meio polvo também.

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Burro.

A perna extra

"Fiambre da perna extra", como diz a etiqueta do produto, faz lembrar a "quinta pata do cavalo". O que é desagradável.

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Burro.

De cavalo para burro

Passou de cavalo para burro e gostou, porque a verdade é só uma: com os pés rentinhos ao chão, sentia-se muito mais confortável e seguro...

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Burro.

Monumentos ao Emigrante


O livro "Monumentos ao Emigrante - Uma Homenagem à História da Emigração Portuguesa", do historiador Daniel Bastos e do fotógrafo Luís Carvalhido, vai ser apresentado no próximo dia 20 de Maio, às 17 horas, na Sociedade de Geografia de Lisboa. A obra, bilingue, com tradução de Paulo Teixeira, é prefaciada por Onésimo Teotónio Almeida e conta com o posfácio de Maria Beatriz Rocha-Trindade, que fará a apresentação.
"Monumentos ao Emigrante - Uma Homenagem à História da Emigração Portuguesa" assenta no levantamento dos monumentos de homenagem ao emigrante, ou intrinsecamente ligados ao fenómeno emigratório, existentes em todos os 18 distritos de Portugal continental e regiões autónomas da Madeira e dos Açores.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Os "Estudantes", que engraçados 2

Foto Hernâni Von Doellinger

Os rapazes do Vaticano

Cada vez que há eleições para papa, sai sempre um velhinho na rifa. Um cardeal velhinho. Tem sido assim nos tempos modernos. E compreende-se: é preciso pôr na cúpula da Igreja Católica alguém com experiência, com a sabedoria da longa vida que carrega sobre os ombros, não vá repetir-se a triste história do inconsciente Jesus Cristo, que tinha apenas 33 anos e resolveu morrer por nós todos, dando origem a isto tudo. E o cardeal velhinho tem de ter muitos doutoramentos em muitas universidades gregorianas, que é só uma, mas podia ser pelo menos três, como a Santíssima Trindade, não vá sentar-se lá, na praticamente infalível cadeira, um pescador como Pedro ou um funcionário das Finanças como Mateus, dois burgessos que certamente escangalhariam isto tudo.
E já muito facilita o Vaticano, quedando-se pelos simpáticos septuagenários ou octogenários. Basta pensar que, biblicamente, Moisés viveu até aos 120 anos, Jacob até aos 147, Abraão até aos 175, Adão até aos 930, Noé até aos 950, e Matusalém, filho de Enoque, pai de Lameque e avô de Noé, faleceu inesperadamente aos 969 anos.
(Evidentemente também há João XII, que chegou a papa aos 18 anos, dormia com as prostitutas do pai, teve relações sexuais com a própria mãe, castrou um dos seus cardeais, cegou outro, torturou quem lhe desprazia e acabou por morrer com uma valente marretada na cabeça, gentilmente oferecida pelo marido cornudo de uma das suas incontáveis amantes. Mas isso não é desculpa.)
Não sei se sabem: todos os católicos são teoricamente elegíveis para papa. Basta-lhes serem, obviamente, baptizados, maiores de idade e homens, embora depois devam vestir saias. Isto é, eu posso ser papa, um sétimo de toda a população mundial pode ser papa, depois, na questão das saias, cada um seria para o lado que der.
Só que as eleições no Vaticano não são directas e universais. Votam apenas os cardeais, lacrados no chamado conclave, onde, nas horas mortas, contam anedotas picantes uns aos outros, fazem malha e jogam à sueca. E se votam apenas os cardeais, isto é, 133 eleitores "em nome" de cerca de 1272 milhões de almas, porque é que os velhinhos haveriam de escolher para patrão o Silva dos Plásticos, que, sendo embora uma pessoa estimável e comerciante respeitado, não lhes pertence de lado nenhum?
É! Aquilo é coisa entre padrinhos e afilhados, tudo bons rapazes. Como na máfia, Deus lhes perdoe...

P.S. - Publicado originalmente no dia 19 de Junho de 2016. O conclave começa hoje.

Deixai o Espírito Santo em paz

O Papa morre e a Igreja sotainada apressa-se a reunir em conclave para escolher o novo Papa. Velho. Um novo Papa velho, não vá o diabo tecê-las. A Capela Sistina é preparada a todo o vapor e duas salamandras. Metidos lá dentro, fechados à chave, todos muito cardeais uns com os outros, o lóbi italiano, o lóbi canadiano, o lóbi americano, o lóbi alemão, o lóbi austríaco, o lóbi francês, o lóbi-da-alsácia, o lóbi lusófono, o lóbi brasileiro, o lóbi sul-americano, o lóbi africano, o lóbi africanista, o lóbi banqueiro, o lóbi antunes, o lóbi dos velhos, o lóbi dos "novos", o lóbi "conservador", o lóbi "renovador", o lóbi do silêncio, o lóbi "garganta funda", o lóbi gay e outros insondáveis lóbis vão negociar o nome do sucessor do falecido. A feira do costume. Organizam rifas, fazem apostas e jogam às damas. Tiram um nome à sorte e no fim dizem que a culpa foi do Espírito Santo.

P.S. - Publicado originalmente no dia 9 de Março de 2013. O conclave começa hoje.

Veni Creator Spiritus

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 6 de maio de 2025

Antes que seja crime

Reuniram-se em segredo - disfarçados, desconfiados, culpados e urgentes. Uma candeia sigilosa e tremelicante alumiava resumidamente o silêncio. Clandestinos no fim do tempo, sentaram-se à volta de uma generosa vitela assada à moda de Fafe. Antes que seja crime.

P.S. - Hoje é Dia Internacional Sem Dieta.

O leal (e insubstituível) Conselheiro

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Cavaco, Montenegro e o BES

Cavaco Silva diz hoje que o primeiro-ministro Luís Montenegro não violou "quaisquer princípios éticos" nem cometeu "ilegalidades" no caso Spinumviva. No dia 21 de Julho de 2014, Cavaco Silva, com a responsabilidade de Presidente da República, também disse que "os portugueses" podiam "confiar no BES". Treze dias depois, o banco fechou.

Os "Estudantes", que engraçados

Foto Hernâni Von Doellinger

Uma mão lava a outra

Uma mão lava a outra. E as duas lavam os pés. E lavam as pernas e os braços e os sovacos e a barriga e as costas e as partes e o pescoço e as orelhas e a cara e o cabelo ou a careca. É. Uma mão lava a outra.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Higiene das Mãos.

O cardeal Parolin e a derrota da humanidade

O secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, não é por acaso que se chama assim: Parolin. Segunda figura da vetusta hierarquia da Igreja Católica, espécie de primeiro-ministro de um estado de almas (e só não digo que é o braço-direito do Papa para não ser mal interpretado), o cardeal italiano, que, ao contrário da maioria dos cardeais, até tem idade para ainda ter juízo, considera que a vitória do "sim" no referendo sobre a legalização do casamento homossexual na Irlanda é "uma derrota para a humanidade".
Eu acho que o cardeal Parolin - repito, Parolin - exagera um bocadinho a propósito de derrotas para a humanidade, manifestando talvez uma certa e determinada ignorância paroquial que fica mal a um príncipe e candidato a doutor da Igreja. Ou então, e que Deus lhe perdoe, o cardeal Parolin - repito, Parolin - está apenas a ser hierarquia da Igreja, com a cegueira e a má-fé do costume.
Espero ansioso pela palavra de Francisco, para perceber se a toléria é geral.

P.S. - Publicado originalmente no dia 27 de de Maio de 2015. O cardeal Parolin é o favorito destacado nas bolsas de apostas online para a sucessão do Papa Francisco.

Bandeira ao vento e carro à porta

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 4 de maio de 2025

Cuidado com as carteiras!

Os carteiristas. Perdoem-me que volte ao assunto, mas a verdade é que não saímos disto, de eleições, umas atrás das outras, como se Portugal não tivesse mais nada que fazer. E diz que hoje começa a campanha eleitoral. Os carteiristas, portanto. Para quem não saiba, passo a informar e é de graça: os carteiristas são presença habitual, diria até obrigatória, nas campanhas eleitorais. Fazem parte. Sim, os carteiristas! Sorrateiros como uma corrente de ar, rápidos como um piscar de olhos, trabalham aos pares, às vezes em trio, organizados, distribuindo tarefas, exponenciando sinergias, intercomunicando-se via telemóvel, tomando conta das costas uns dos outros, de bandeira ao ombro e autocolante na lapela, fazendo-se passar por militantes ou simpatizantes, acompanhando as caravanas em todas as paragens e aproveitando-se das feiras, dos mercados, das arruadas mais frequentadas ou comícios de maior aperto para então, como quem não quer a coisa, dar livre curso à insustentável arte do gesto leve. Sim senhor, os carteiristas! Eles andam por aí. Como se já não bastassem os políticos propriamente ditos.

P.S. - Números. A PSP deteve 149 carteiristas no ano passado, o que representa um aumento de 43 por cento em relação a 2023. Sobre o número de crimes de furto por carteiristas, a Polícia registou 5.762 ocorrências em 2024, uma média de cerca de 16 crimes por dia, mais 11 por cento do que no ano anterior. Nas eleições para a Assembleia da República vão ser eleitos 230 deputados.

Bem-disposto e bem-mandado

Mandavam-no: - Vai-te rir prò caralho! E ele ia.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Riso.

Santos, bombeiros e Star Wars

Hoje celebra-se São Floriano, que, descobri sem querer há meia dúzia de anos, é considerado o santo padroeiro dos bombeiros. Foi um choque para mim, que sempre acreditei e pratiquei que o santo padroeiro e protector dos bombeiros é São Marçal. Quem fica a lucrar são os bombeiros propriamente ditos: um santo é melhor que nada, dois santos é melhor que um, e três é a conta que Deus fez. Só é pena que o SIRESP não dê para acreditar.
Portanto, façam o favor de tomar nota: hoje é Dia Internacional do Bombeiro. E também é Dia de Star Wars. E, no Brasil, também é Dia do Calculista Estrutural, ou Dia do Engenheiro de Estruturas. Ou, como eu costumo dizer, estes gajos fazem-me rir...

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Bombeiro.

Dia sim, dia não

Domingo, dia da mãe. Domingo, terça e quinta. Segunda, quarta e sexta, com o pai. Sábado em casa da tia. É. Os divórcios são um merda.

P.S. - Hoje é Dia da Mãe.

sábado, 3 de maio de 2025

Nós, os imigrantes

O meu pai foi emigrante, e nós - a minha mãe, os meus irmãos e eu - fomos quase emigrantes, tínhamos as malas feitas, só não abalámos porque entretanto o meu pai morreu de véspera, na emigração. Tive e tenho tios e tias e primos e primas emigrantes. Tenho sobrinhos emigrantes, gosto tanto deles, vêm à terra sempre que podem. Somos uma família de emigrantes, como Portugal é um país de emigrantes, estabelecidos pelos quatro cantos do mundo. Incomoda-me o ódio, a estupidez e a ignorância que por aí medram contra os emigrantes como nós mas que vêm de fora, isto é, os imigrantes, como eram imigrantes os meus antepassados alemães e depois brasileiros, como são imigrantes todos os nossos emigrantes nos países onde trabalham e vivem. E era só isto, por hoje.

O guarda Rios

O guarda Rios trabalhava na secretaria do quartel da GNR da Pontinha, mas realmente prestava-se a alguma confusão... 

P.S. - Hoje é Dia da Guarda ou Dia da Guarda Nacional Republicana.

Feiras Francas de Fafe, de 15 a 18 de Maio


Feiras Francas de Fafe, de 15 a 18 de Maio, com estendal montada no Parque da Cidade. Expo Rural, Tenda dos Petiscos, rusgas de concertinas, desfile e festival de folclore, fado, arruadas de bombos, concurso pecuários, bandas filarmónicas, chegas de bois, feira de gado cavalar, corridas de cavalos, grupos musicais locais, fogo-de-artifício e noitadas animadas por DJ. Augusto Canário, David Carreira, Marotos da Concertina e Cromos na Noite são apresentados como cabeças de cartaz. Mais informação, aqui.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

É preciso ter lata

O confinamento imposto pela pandemia fez dele um verdadeiro especialista em atum, preparando-o para toda a espécie de apagões. Bom Petisco à segunda, Ramirez à terça, Tenório à quarta, Minerva à quinta, Pitéu à sexta e Inês ao sábado. Ao domingo, sardinha em tomate, evidentemente.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Atum.

Os rabilhos, sem menosprezo pelos outros

Rabilhos. Os japoneses são malucos por rabilhos. E as notícias dão conta disso, de vez em quando. É um assunto que me interessa sobremaneira, isto dos rabilhos japoneses. Aqui atrasado, um atum com 278 quilos foi comprado por dois vírgula sete milhões de euros, em Tóquio evidentemente, no mercado de Toyosu, que substitui o famoso mercado de Tsukiji, que era o maior mercado de peixe do mundo e uma das principais atracções turísticas da capital japonesa. O atum em questão foi a grande estrela do sempre muito aguardado primeiro leilão de Ano Novo, e bateu, sem culpa nenhuma, todos os recordes. Sei disto tudo porque o jornal Público mo contou na altura. E o Público, por favor não confundir com o Correio da Manhã, conta muito bem estas e outras extraordinarices. Para além disso, o Correio da Manhã é em vermelho.
Meses antes, um atum com 162 quilos tinha sido vendido por 4,3 milhões de ienes (quase 33 mil euros), ainda no velho Tsukiji, no seu último leilão, a uma escassa semana de fechar portas. Um atum praticamente dado, em boa verdade. Com efeito, em Janeiro de 2013, sempre contado pelo jornal Público, atentíssimo a estas coisas até mais não, um atum gigante fora comprado, no mesmo mercado, pelo então preço recorde de 1,38 milhões de euros. O peixão pesava 222 quilos, ficando por isso a cerca de quatro mil e setecentos euros cada quilo, é só fazer as contas. O outro, o tal do Ano Novo, custou mais de dez mil euros o quilo. Ora passa-se o seguinte: aqui atrasado comprei um atum anão, cá em Matosinhos, na peixaria da Dona Augusta, por pouco mais de euro e meio, eu seja ceguinho, e mais fresco era impossível. Pesava quase três quilos, saiu-me a rondar os 50 cêntimos o quilo.
As notícias afirmam que o atum gigante japonês era "rabilho". O meu atum anão, sinceramente não sei. Mas também foi comido. Em bifinhos. De cebolada. E que bem que nos soube.

Não percebo se é a fartura que os desorienta, mas a verdade é que os japoneses são mesmo um bocado tolos nisto de compras. Em Julho de 2014 soube-se que um cacho com 34 uvas, cada bago a pesar cerca de 30 gramas, foi vendido pelo simbólico preço de quatro mil euros. As uvas eram da raríssima casta ruby roman. E eu? Ainda ontem comprei na frutaria aqui da rua um bom gaipelo com 15 bagos e dois pequeninos, e não paguei mais do que cinquenta e três cêntimos. Evidentemente não eram ruby roman, muitíssimo longíssimo díssimo. As minhas uvas eram colhão-de-galo e, se quereis que vos diga, fiquei muito bem servido...

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Atum.

O feitiço contra o feiticeiro

Quando o Feitiço se virou contra o Feiticeiro, o Feiticeiro resmungou: - Mal agradecido...

P.S. - Hoje é Dia do Dia do Harry Potter.

O extraordinário homem-tuba

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Seguido no Magalhães Lemos

Ele tinha a certeza de que estava a ser seguido no Hospital Magalhães Lemos. Nos corredores, nos jardins, a cada esquina, atrás de árvores e arbustos, antes e após consultas e tratamentos, e também durante. Ele sabia, ele sentia. Mas nunca viu, apesar de andar sempre a olhar para trás. Vivia num constante torcicolo. Queixou-se aos médicos, aos jornais, às televisões e, inclusive, à polícia. Ninguém o levou a sério. "Tás mas é maluco", disseram-lhe.