sexta-feira, 12 de setembro de 2025
Mobilidade, é uma forma de dizer
sábado, 24 de maio de 2025
Parque natural
sexta-feira, 16 de maio de 2025
Choque em cadeia
quinta-feira, 6 de março de 2025
O campeão
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025
O antipasseios
Foto Hernâni Von Doellinger |
Não sei o que lhe aconteceu em pequeno, mas este senhor já de uma certa idade tem qualquer coisa contra os passeios. Todos os passeios. Estreitos ou largos, em empedrado, cimento, betão hidráulico, aglomerado asfáltico, lajedo ou calçada portuguesa, despreza-os, evita-os, foge-lhes, como o diabo foge da cruz. Anda sempre pela estrada, sempre, e se houver carros estacionados, vai-lhes rente, lado de fora, quase pelo meio da rua. Há anos que o conheço assim, sem o conhecer de lado nenhum. Assim exactamente, ele lá terá as suas razões. Desce, parece-me, a Circunvalação, pela estrada, vira para Matosinhos na Anémona, pela estrada, e vai pela estrada à beira-mar suponho que até à lota, sempre a bom ritmo, quem mo dera a mim, fazendo decerto mais tarde o caminho inverso, obviamente pela estrada e talvez com peixe fresco.
Foto Hernâni Von Doellinger |
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
Aproveite para namorar...
sábado, 4 de janeiro de 2025
Português, taxista, 86 anos de idade
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Foto Ivo Borges / O Minho |
A notícia é de ontem, do jornal O Minho, e vendo-a pelo preço que a comprei:
Ao que O MINHO apurou no local, o taxista tem 86 anos, sendo um dos profissionais mais antigos na cidade. Terá tido um acidente na semana passada e trocou de carro. Por ainda não estar habituado à viatura ter-se-á atrapalhado com os pedais, acabando por levar tudo à frente.
O octogenário terá sofrido um ferimento ligeiro e recusou transporte ao hospital.
O acidente causou grande aparato no cidade.
A PSP registou a ocorrência."
segunda-feira, 19 de agosto de 2024
Coração de ouro
terça-feira, 31 de outubro de 2023
sábado, 22 de julho de 2023
Limite de velocidade para peões
sexta-feira, 2 de junho de 2023
Uma questão de nível
sexta-feira, 5 de maio de 2023
As cadeiras de rodas e o código da estrada
Vai por aí uma alarido desgraçado por causa do homem que foi filmado a circular numa cadeira de rodas na Nacional 13, perto de Vila do Conde. Como se fosse uma novidade, como se estivesse ali mais uma daquelas extraordinarices inventadas pelo Correio da Manhã, que evidentemente tomou conta da ocorrência. Pois estão todos enganados: eu já falo aqui deste assunto pelo menos desde Novembro de 2011, e levei-o também ao meu Fafismos, acrescentado e livremente adaptado, há cerca de meio ano. Se não se lembram, eu repito. Até porque hoje é Dia Mundial do Trânsito e da Cortesia ao Volante, e vem a propósito. E era assim:
Há um novo perigo nas estradas portuguesas, e não falo de trotinetas. Há uma novo perigo nas estradas e são as cadeiras de rodas. Cadeiras de rodas eléctricas. As cadeiras. As cadeiras é que são eléctricas, as rodas não, são rodas normais, mas parece-me mal dizer cadeiras eléctricas de rodas, que é o que elas são realmente. Então, elas andam aí, são cada vez mais e cada vez mais metediças. Ainda no outro dia me apareceu uma disparada a atravessar, vamos um supor, a EN 206, em Arões, após a saída de Paçô Vieira, e só não acabou em desastre porque um de nós travou a tempo e não foi o condutor da cadeira. Cujo, aliás, agradeceu a sorte com um enorme sorriso (vá lá!) e não tinha capacete nem piscas.
As novas máquinas do asfalto alcançam a furiosa velocidade de 12 km/hora, o que não é brincadeira nenhuma para atravessar uma estrada nacional, fora de passadeira e saídas do nada. Ainda por cima está na moda o tuning, que transforma algumas delas em verdadeiras bombas, como a daquele brasileiro que uma vez foi apanhado pela polícia a mais de 60km/hora, depois de ter artilhado a sua cadeira de rodas com um motor de motorizada.
Creio que se impõe uma análise série e aprofundada ao fenómeno, em sede de. Sim, em sede de. Convoquem-se então os rapazes e eles que ajeitem uma comissão governamental e multidisciplinar com amplos poderes para remodelar o Código da Estrada, alterando, nomeadamente, a legislação referente às escolas de condução e introduzindo a especialidade de cadeiras de rodas. A sinalética de trânsito vigente terá de ser também revista e actualizada, não sendo de desprezar a possibilidade de implementar corredores específicos para cadeiras de rodas na rede de auto-estradas nacional. Com isenção de pagamento de portagens, evidentemente.
quinta-feira, 22 de setembro de 2022
quinta-feira, 5 de maio de 2022
O falecimento por um triz
Vamos supor que era a Grand Central Terminal de Nova Iorque e estávamos no quentinho do cinema. Mas na verdade estávamos em Vila do Conde à chuva e era um tanque público no quarteirão da Santa Casa da Misericórdia. Eu passando. Um carrinho de bebé sem condutor sai lentamente do lavadouro, primeiro em câmara lenta como nos filmes e depois, rapidamente embalado pela força da realidade, adeus passeio, vou para a estrada da morte que se faz tarde. Ia. Naquele momento exacto sinto o primeiro e único impulso de heroísmo de toda a minha vida, voo para o carrinho a pensar na CMTV, na TVI, no YouTube, em Marcelo Rebelo de Sousa, na medalha do 10 de Junho, na reforma vitalícia (pensa-se em muita merda numa fracção de segundos), rezo a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e a Santiago de Compostela, meu padrinho e protector, falta-me o ar de repente, é o coração que me entope cobardemente a garganta, as pernas tremem-me como varas verdes mas desta vez não falham, voo para o carrinho e agarro-o já no milagroso resvés com um Toyota Yaris que passa nas horas e me enche de nomes, mas é o menos. Graças a Deus. Respiro. A mãe grita, de mãos espetadas na cabeça desgrenhada, Ai o carrinho!, e o pai berra Olha o carrinho!, e dá mais uma puxa no paivante.
O carrinho?, interpelo eu e repito, mais fodido do que outra coisa, O carrinho? E a criança, caralho?, A criança?, as palavras saem-me aos soluços e eu preciso de uma cadeira para morrer ali sentado. Mas qual criança?, dizem-me os dois, com caras combinadas de quem me manda à merda com a senha número um e portanto sem direito a cadeira, Qual criança?, e riem-se afinadíssimos da minha agonia. Tinham praticamente razão: olhei para o carrinho que mantinha nas minhas mãos cerradas e aflitas, o bebé eram quatro passadeiras lavadas, enroladas e ainda pingantes - as quatro filhas da puta pelas quais eu só não faleci prematuramente porque sou um gajo cheio de sorte.
Nota final. A famosa cena do carrinho de bebé descendo a escadaria, com a criança dentro, no meio do tiroteio, em "Os Intocáveis", de 1987, já tinha sido vista em "O Couraçado Potemkine", de 1925, obra maior de Sergei Eisenstein.
P.S. - Publicado originalmente no dia 16 de Janeiro de 2014.
domingo, 20 de março de 2022
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
A pegada
sábado, 20 de novembro de 2021
O meu couraçado potemkine
Vamos
supor que era a Grand Central Terminal de Nova Iorque e estávamos no
quentinho do cinema. Mas na verdade estávamos em Vila do Conde à chuva e
era um tanque público no quarteirão da Santa Casa da Misericórdia. Eu
passando. Um carrinho de bebé sem condutor sai lentamente do lavadouro,
primeiro em câmara lenta como nos filmes e depois, rapidamente embalado
pela força da realidade, adeus passeio, vou para a estrada da morte que
se faz tarde. Ia. Naquele momento exacto sinto o primeiro e único
impulso de heroísmo de toda a minha vida, voo para o carrinho a pensar
na CMTV, na TVI, no YouTube, em Marcelo Rebelo de Sousa, na medalha do
10 de Junho, na reforma vitalícia (pensa-se em muita merda numa fracção
de segundos), rezo a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e a Santiago, meu
padrinho e protector, falta-me o ar de repente, é o coração que me
entope cobardemente a garganta, as pernas tremem-me como varas verdes
mas desta vez não falham, voo para o carrinho e agarro-o já no milagroso
resvés com um Toyota Yaris que passa nas horas e me enche de nomes, mas
é o menos. Graças a Deus. Respiro. A mãe grita, de mãos espetadas na
cabeça desgrenhada, Ai o carrinho!, e o pai berra Olha o carrinho!, e dá
mais uma puxa no paivante.
O carrinho?, interpelo eu e repito, mais
fodido do que outra coisa, O carrinho? E a criança, caralho?, A
criança?, as palavras saem-me aos soluços e eu preciso de uma cadeira
para morrer ali sentado. Mas qual criança?, dizem-me os dois, com caras
combinadas de quem me manda à merda com a senha número um e portanto sem
direito a cadeira, Qual criança?, e riem-se afinadíssimos da minha
agonia. Tinham
praticamente razão: olhei para o carrinho que mantinha nas minhas mãos
cerradas e aflitas, o bebé eram quatro passadeiras lavadas, enroladas e
ainda pingantes - as quatro filhas da puta pelas quais eu só não faleci
prematuramente porque sou um gajo cheio de sorte.
Nota final. A famosa cena do carrinho de bebé descendo a escadaria, com a criança dentro, no meio do tiroteio, em "Os Intocáveis", de 1987, já tinha sido vista em "O Couraçado Potemkine", de 1925, obra maior de Sergei Eisenstein.
P.S. - Publicado originalmente no dia 16 de Janeiro de 2014. Hoje, 1 de Junho, é Dia Internacional dos Direitos das Crianças.