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segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Canadairs e engolidores de fogo

Com os Kamov parados, os Canadairs avariados, os Fire Boss atrasados e os "operacionais" no terreno esgotados, o Governo chamou ao teatro de operações todos os engolidores de fogo disponíveis e os ilusionistas do costume. Enfim, assunto resolvido.

domingo, 4 de maio de 2025

Santos, bombeiros e Star Wars

Hoje celebra-se São Floriano, que, descobri sem querer há meia dúzia de anos, é considerado o santo padroeiro dos bombeiros. Foi um choque para mim, que sempre acreditei e pratiquei que o santo padroeiro e protector dos bombeiros é São Marçal. Quem fica a lucrar são os bombeiros propriamente ditos: um santo é melhor que nada, dois santos é melhor que um, e três é a conta que Deus fez. Só é pena que o SIRESP não dê para acreditar.
Portanto, façam o favor de tomar nota: hoje é Dia Internacional do Bombeiro. E também é Dia de Star Wars. E, no Brasil, também é Dia do Calculista Estrutural, ou Dia do Engenheiro de Estruturas. Ou, como eu costumo dizer, estes gajos fazem-me rir...

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Bombeiro.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Quando os bombeiros, palermas, eram voluntários

Foto Miguel A. Lopes/Lusa - Expresso

O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. É uma questão de marialvismo, orgulho macho. E então arrebitam e continuam a arder lampeiramente uma semana depois de terem sido decretados dominados aos microfones da CMTV, e a CMTV fica toda contente, porque a CMTV é do ramo do sarrabulho e do fumeiro - disso vive, em lume brando. Os oficiais da Protecção Civil, doutores da mula ruça, porém pessoas muito honradas e de boina, que antes deste rico emprego nunca tinham posto os pés num incêndio, tiraram um curso relâmpago de Teatro de Operações, vulgo TO, Forças no Terreno, Frentes Activas, Meios Aéreos & Pontos de Ignição e gostam de dar na televisão: o mais que dizem é que os incêndios de manhã, se não estão já dominados, vão entregar-se às autoridades a meio da tarde. Os oficiais da Protecção Civil e os políticos que os pariram inventaram um novo dicionário, especializaram-se em semântica, graduaram-se em eufemística e falam muito do que não sabem.
Os bombeiros estão lá no centro do vulcão a derreter, mas a eles agora ninguém lhes pode perguntar. E ainda bem, porque lá dentro faz muito calor e o calor dilata os copos. O senhor da boina e galões no camião de Fórmula 1 com ar condicionado é que sabe, e bebe águas das pedras. Geladas. E há briefings bidiários com groselha.

Quando o monte ardia, os bombeiros iam e pronto. Os bombeiros voluntários. Naquele tempo ninguém sequer sonhava ganhar dinheiro por fazer de conta que apaga incêndios - eram uns tolos. Tolos, porém despachados e íntegros. Não havia rede, satélites, parabólicas ou fibra óptica, ainda não havia radiotelefones ao serviço, os telemóveis ainda não tinham sido inventados e nem sequer havia cabinas telefónicas nos montes. Parece impossível, mas lá em cima, no meio da penedia e das giestas, no Portugal das cabras e dos cabrões, não havia telefone de espécie nenhuma. E não havia SIRESP, graças a Deus. Que se segue: se eram precisos reforços, alguém vinha de motorizada dar o recado ao quartel.
Pelo menos em Fafe era assim, e não havia razão de queixa.

O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. Freud explicaria muito melhor do que eu, mas eu, de momento, não tenho o Freud aqui à mão, perdi-lhe o número do telemóvel. Por outro lado, os incêndios estão desgostosos por lhes terem trocado o nome e mudado o objecto social. Objecto social, sim: o fogo é hoje em dia um negócio como outro qualquer - como a guerra, como a droga ou como a cirurgia plástica, por exemplo -, com múltiplas plataformas de exploração e sinergias que não param de exponenciar-se, a jusante e a montante, um extraordinário negócio que distribui transversalmente milhões e milhões e milhões de euros ou dólares consoante o paraíso, uma indústria em que todos ganham e em que apenas Portugal e os portugueses do rés-do-chão ficamos a perder.

Chamavam-se fogos antigamente e eram para apagar. Exactamente, fogos. E para apagar. Velhos tempos, coisas simples: Portugal ardia menos e não havia tanto teatro... de operações.

Até aqui, mais ou menos, escrevi eu no dia 7 de Agosto de 2016. E ao tempo que ia o tempo dos bombeiros voluntários. Agora, até os bombeiros voluntários são profissionais. Ser voluntário é profissão, o amadorismo é anedota, se não são bombeiros voluntários é porque são bombeiros obrigados, e então, já que aqui estamos e não somos menos do que os outros, reivindicam-se salários, aumentos, reformas, regalias, políticas, governos e tempo de antena, que já Chega!, e que já Chega! Os "soldados da paz" partiram para a guerra, regra geral, levados, levados sim. Os sapadores vão à frente, alumiando o caminho, com tochas, petardos e encontrões.

O bombeiro profissional

Ele era um bombeiro verdadeiramente profissional. Só aceitava incêndios das 9h às 13h e das 14h às 17h, de segunda a sexta-feira. Fora do horário de expediente, que ligassem aos voluntários!

P.S. - Publicado no dia 11 de Setembro de 2014, a propósito do Dia Nacional do Bombeiro Profissional.

Bombeiros ou comentadores?

Com tantos comandantes de bombeiros armados em comentadores em todas as televisões, incluindo as repetidas, como é que o país, cá fora, no terreno, não há-de estar a arder e a matar sem que se lhe tenha mão?

P.S. - Publicado no dia 17 de Setembro de 2014. E Portugal ardia.

domingo, 11 de setembro de 2022

Incêndios e outros negócios

O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. É uma questão de marialvismo, orgulho macho. E então arrebitam e continuam a arder lampeiramente uma semana depois de terem sido decretados dominados aos microfones da CMTV, e a CMTV fica toda contente, porque a CMTV é do ramo do sarrabulho e do fumeiro - disso vive, em lume brando. Os oficiais da Protecção Civil, doutores da mula ruça porém pessoas muito honradas e de boina, que antes deste rico emprego nunca tinham posto os pés num incêndio, tiraram um curso relâmpago de Teatro de Operações, vulgo TO, Forças no Terreno, Frentes Activas, Meios Aéreos & Pontos de Ignição e gostam de dar na televisão: o mais que dizem é que os incêndios de manhã, se não estão já dominados, vão entregar-se às autoridades a meio da tarde. Os oficiais da Protecção Civil e os políticos que os pariram inventaram um novo dicionário, especializaram-se em semântica, graduaram-se em eufemística e falam muito do que não sabem.
Os bombeiros estão lá no centro do vulcão a derreter, mas a eles agora ninguém lhes pode perguntar. E ainda bem, porque lá dentro faz muito calor e o calor dilata os copos. O senhor da boina e galões no camião de Fórmula 1 com ar condicionado é que sabe, e bebe águas das pedras. Geladas. E há briefings bidiários com groselha.

Quando o monte ardia, os bombeiros iam. Os bombeiros voluntários. Naquele tempo ninguém sequer sonhava ganhar dinheiro por fazer de conta que apaga incêndios - eram uns tolos. Tolos porém despachados e íntegros. Não havia rede, satélites, parabólicas ou fibra óptica, ainda não havia radiotelefones ao serviço, os telemóveis ainda não tinham sido inventados e nem sequer havia cabinas telefónicas nos montes. Parece impossível, mas lá em cima, no meio da penedia e das giestas, no Portugal das cabras e dos cabrões, não havia telefone de espécie nenhuma. E não havia SIRESP, graças a Deus. Que se segue: se eram precisos reforços, alguém vinha de motorizada dar o recado ao quartel. Pelo menos em Fafe era assim, e não havia razão de queixa.

O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. Freud explicaria muito melhor do que eu, mas eu, de momento, não tenho o Freud aqui à mão e, com isto do entretanto profissional, perdi-lhe o número do telemóvel. Por outro lado, os incêndios estão desgostosos por lhes terem trocado o nome e mudado o objecto social. Objecto social, sim: o fogo é hoje em dia um negócio como outro qualquer - como a guerra, como a droga ou como a cirurgia plástica, por exemplo -, com múltiplas plataformas de exploração e sinergias que não param de exponenciar-se, a jusante e a montante, um extraordinário negócio que distribui transversalmente milhões e milhões e milhões de euros ou dólares consoante o paraíso, uma indústria em que todos ganham e em que apenas Portugal e os portugueses do rés-do-chão ficamos a perder.

Chamavam-se fogos antigamente e eram para apagar. Exactamente, fogos. E para apagar. Velhos tempos, coisas simples: Portugal ardia menos e não havia tanto teatro... de operações.

O homem-rã

O homem-rã apareceu à tona em câmara lenta e saiu do lago com toda a calma, perante o evidente embaraço do casal de cisnes que porteira o condomínio. Vestia um blusão de cabedal que dizia nas costas batalhão de sapadores bombeiros, bsb, passou por um bando de turistas japoneses acabadíssimos de descarregar no novo terminal de cruzeiros, sorriu para os flashes e continuou naquele andar cómico até ao bar do parque da cidade. Entrou no bar, saltou para cima de um banco, depois saltou para cima do balcão e mandou vir, com uma nota de cinco na mãozinha verde: - Coach!, coach!

P.S. - Hoje é Dia Nacional do Bombeiro Profissional.

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Santos, bombeiros e Star Wars

Hoje celebra-se São Floriano, que, descobri sem querer há coisa de quatro anos, é considerado o santo padroeiro dos bombeiros. Foi um choque para mim, que sempre acreditei e pratiquei que o santo padroeiro e protector dos bombeiros é São Marçal. Quem fica a lucrar são os bombeiros propriamente ditos: um santo é melhor que nada, dois santos é melhor que um, três era a conta que Deus fez. Só é pena que a Protecção Civil seja ateia.
Portanto, façam o favor de tomar nota: hoje é Dia Internacional do Bombeiro. E também Dia de Star Wars. E, no Brasil, também Dia do Calculista Estrutural, ou Dia do Engenheiro de Estruturas. Ou, como eu costumo dizer, estes gajos fazem-me rir...

Alguém tem lume?...

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 1 de julho de 2021

O meu avô tinha piada. Grossa.

O meu avô da Bomba tinha a mania de contar anedotas e contava-as muito bem - achava ele. Eram duas. Contava-as sempre - nem que não lhe pedissem, nem que lhe pedissem que não, abrilhantando casamentos, comunhões e baptizados de família: eram a anedota do cu português que, apesar do negrume da noite, acabou identificado pelos Carabineros na passagem a salto para Espanha, passemos à frente, e a anedota dos Bombeiros da Póvoa. Póvoa de Lanhoso, para que nos situemos.
Contava o meu avô da Bomba que, em dia de festa de aniversário da prestimosa corporação lanhosense, o respectivo comandante fez o discurso que se segue: "Minhas senhoras e meus senhores, os Bombeiros da Póvoa são os melhores do mundo. Digo mais, os Bombeiros da Póvoa são os melhores da Europa. Os Bombeiros da Póvoa são os melhores da Península Ibéria. Os Bombeiros da Póvoa são até os melhores de Portugal. Os Bombeiros da Póvoa, minhas senhoras e meus senhores, excelência reverendíssima, são os melhores do Minho, os melhores do distrito de Braga. Que não haja dúvidas: os Bombeiros da Póvoa são aos melhores da Póvoa. Vivam os Bombeiros da Póvoa! Vivam! Tenho dito."
E era a anedota.

P.S. - Publicado originalmente no dia 10 de Maio de 2018.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Os Bombeiros da Póvoa são os melhores da Póvoa

O meu avô da Bomba tinha a mania de contar anedotas e contava-as muito bem - achava ele. Eram duas. Contava-as sempre - nem que não lhe pedissem, nem que lhe pedissem que não, abrilhantando casamentos, comunhões e baptizados de família: eram a anedota do cu português que, apesar do negrume da noite, acabou identificado pelos Carabineros na passagem a salto para Espanha, passemos à frente, e a anedota dos Bombeiros da Póvoa. Póvoa de Lanhoso, para que nos situemos.
Contava o meu avô da Bomba que, em dia de festa de aniversário da prestimosa corporação lanhosense, o respectivo comandante fez o discurso que se segue: "Minhas senhoras e meus senhores, os Bombeiros da Póvoa são os melhores do mundo. Digo mais, os Bombeiros da Póvoa são os melhores da Europa. Os Bombeiros da Póvoa são os melhores da Península Ibéria. Os Bombeiros da Póvoa são até os melhores de Portugal. Os Bombeiros da Póvoa, minhas senhoras e meus senhores, excelência reverendíssima, são os melhores do Minho, os melhores do distrito de Braga. Que não haja dúvidas: os Bombeiros da Póvoa são aos melhores da Póvoa. Vivam os Bombeiros da Póvoa! Vivam! Tenho dito."
E era a anedota.

P.S. - Publicado originalmente no dia 10 de Maio de 2018. Hoje é dia 17, e cá estamos.

domingo, 1 de março de 2020

Interlúdio fotográfico 228

Foto Hernâni Von Doellinger

Protecção Civil, ao menos uma vez em cada ano

Quando o monte ardia, os bombeiros iam. Os bombeiros voluntários. Naquele tempo ninguém sequer sonhava ganhar dinheiro por fazer de conta que apaga incêndios - eram uns tolos. Não havia rede, satélites, parabólicas ou fibra óptica, ainda não havia radiotelefones ao serviço, os telemóveis ainda não tinham sido inventados e nem sequer havia cabinas telefónicas nos montes. Parece impossível, mas lá em cima, no meio da penedia e das giestas, no Portugal das cabras e dos cabrões, não havia telefone de espécie nenhuma. Quer-se dizer: não havia Protecção Civil. E não havia SIRESP, graças a Deus. Que se segue: se eram precisos reforços, alguém vinha de motorizada dar o recado ao quartel. Ou por outra: o SIRESP vinha de motorizada. Ou por outra: o SIRESP era a motorizada.

O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. É uma questão de orgulho macho. E então arrebitam e continuam a arder lampeiramente uma semana depois de terem sido decretados dominados aos microfones da CMTV, e a CMTV fica toda contente, porque a CMTV é do ramo do sarrabulho e do fumeiro - disso vive, em lume brando. Os oficiais da Protecção Civil, doutores da mula ruça porém pessoas muito honradas e de boina, que antes deste rico emprego nunca tinham posto os pés num incêndio, tiraram um curso relâmpago de Teatro de Operações, Forças no Terreno, Frentes Activas, Meios Aéreos & Pontos de Ignição e gostam de dar na televisão: o mais que dizem é que os incêndios de manhã, se não estão já dominados, vão entregar-se às autoridades a meio da tarde. Os oficiais da Protecção Civil e os políticos que os pariram inventaram um novo dicionário, especializaram-se em semântica, graduaram-se em eufemística e falam muito do que sabem nada. São profissionais do simulacro...
(Minúsculo esclarecimento, provavelmente desnecessário para o cidadão comum: Teatro de Operações, vulgo TO.)
Os bombeiros estão lá no centro do vulcão a derreter, mas a eles agora ninguém lhes pode perguntar. E ainda bem, porque lá dentro faz muito calor e o calor dilata os copos. O senhor da boina no camião de Fórmula 1 com ar condicionado é que sabe, e bebe águas das pedras. Geladas. E há briefings bidiários com groselha. E negociatas familiares e desvios de dinheiro e kits e golas inflamáveis e outras tolérias e muita pouca-vergonha, honra é que não.

Os incêndios por combustão espontânea acontecem, mas, ao contrário do que o próprio nome indica, às vezes dão algum trabalho a organizar. Lembram-se ou já ouviram falar das populares manifestações espontâneas de apoio ao Senhor Presidente do Conselho no tempo de Salazar? Manifestações espontâneas, exactamente. Imaginam o que esse teatro a preto e branco implicava de preparação e logística, de aluguer de camionetas e distribuição de letreiros a bem da Nação, de farnéis e garrafões de vinho a encomendar, de reuniões nos grémios e nas corporações, de noites sem dormir por parte de presidentes de junta, regedores, párocos fascistas, presidentes de câmara, governadores civis, comandantes locais da Legião Portuguesa e dos Bombeiros, chefes da Polícia e sargentos da Guarda, bufos da Pide, patrões da indústria e caciques de outras marcas?
Pois com os incêndios é o mesmo. Para que aconteçam espontaneamente, e acontecem, é regra geral preciso que alguém acenda um fósforo. E é então que entra a Protecção Civil, que são os mesmos senhores do parágrafo anterior, isto é, os mesmos senhores da outra senhora, mas com nomes diferentes e fardas novas.

P.S. - Hoje, 1 de Março, é Dia Mundial da Protecção Civil. Por favor, não incomodar!

domingo, 28 de julho de 2019

Kits marados, golas inflamáveis e outras tolérias

O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. É uma questão de orgulho macho. E então arrebitam e continuam a arder lampeiramente uma semana depois de terem sido decretados dominados aos microfones da CMTV, e a CMTV fica toda contente, porque a CMTV é do ramo do sarrabulho e do fumeiro - disso vive, em lume brando. Os oficiais da Protecção Civil, doutores da mula ruça porém pessoas muito honradas e de boina, que antes deste rico emprego nunca tinham posto os pés num incêndio, tiraram um curso relâmpago de Teatro de Operações, Forças no Terreno, Frentes Activas, Meios Aéreos & Pontos de Ignição e gostam de dar na televisão: o mais que dizem é que os incêndios de manhã, se não estão já dominados, vão entregar-se às autoridades a meio da tarde. Os oficiais da Protecção Civil e os políticos que os pariram inventaram um novo dicionário, especializaram-se em semântica, graduaram-se em eufemística e falam muito do que sabem nada...
(Minúsculo esclarecimento, provavelmente desnecessário para o cidadão comum: Teatro de Operações, vulgo TO.)
Os bombeiros estão lá no centro do vulcão a derreter, mas a eles agora ninguém lhes pode perguntar. E ainda bem, porque lá dentro faz muito calor e o calor dilata os copos. O senhor da boina no camião de Fórmula 1 com ar condicionado é que sabe, e bebe águas das pedras. Geladas. E há briefings bidiários com groselha.

Quando o monte ardia, os bombeiros iam. Os bombeiros voluntários. Naquele tempo ninguém sequer sonhava ganhar dinheiro por fazer de conta que apaga incêndios - eram uns tolos. Não havia rede, satélites, parabólicas ou fibra óptica, ainda não havia radiotelefones ao serviço, os telemóveis ainda não tinham sido inventados e nem sequer havia cabinas telefónicas nos montes. Parece impossível, mas lá em cima, no meio da penedia e das giestas, no Portugal das cabras e dos cabrões, não havia telefone de espécie nenhuma. E não havia SIRESP, graças a Deus. Que se segue: se eram precisos reforços, alguém vinha de motorizada dar o recado ao quartel. Ou por outra: o SIRESP vinha de motorizada. Ou por outra: o SIRESP era a motorizada.

O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. Freud explicaria muito melhor do que eu, mas eu, de momento, não tenho o Freud aqui à mão e perdi-lhe o número do telemóvel. Por outro lado, os incêndios estão desgostosos por lhes terem trocado o nome e mudado o objecto social. Objecto social, sim: o fogo é hoje em dia um negócio como outro qualquer - como a guerra, como a droga ou como a cirurgia plástica, por exemplo -, com múltiplas plataformas de exploração e sinergias que não param de exponenciar-se, a jusante e a montante, um extraordinário negócio que distribui transversalmente milhões e milhões e milhões de euros ou dólares consoante o paraíso, uma indústria em que todos ganham e em que apenas Portugal e os portugueses do rés-do-chão ficamos a perder.

Chamavam-se fogos antigamente e eram para apagar. Exactamente, fogos. E para apagar. Velhos tempos, coisas simples: Portugal ardia menos e não havia tanto teatro... de operações.

P.S. - O Governo comprou o SIRESP por sete milhões de euros. PCP e CDS, e o PSD a reboque, chamaram ao Parlamento os ministros da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e da Economia, Pedro Siza Vieira, para que os alegados governantes lhes expliquem a matreira engenharia do negócio. A grande preocupação deles - do PCP e do CDS e, que remédio, do PSD - é que, hoje em dia, sete milhões não chegam sequer para contratar um defesa esquerdo que não tropece no pé direito. Então, como é que foi possível a jigajoga do SIRESP por dez réis de mel coado?...

P.S. 2 - E agora o escândalo dos kits e das golas inflamáveis que afinal não são mas são outra coisa. As negociatas, as famílias, a pouca-vergonha e honra nenhuma. O Governo diz que a culpa é da Protecção Civil e a Protecção Civil diz que a culpa é do Governo. E eu pensava que a Protecção Civil era do Governo. O escusado Jaime Marta Soares, redundante presidente da Liga dos Bombeiros, diz que a culpa é da Protecção Civil, e eu pensava que os bombeiros eram Protecção Civil. Rui Rio, desgraçado líder do PSD, quer que o Ministério Público investigue. Assunção Cristas, líder catita do CDS, foi ao cabeleireiro. E eu exijo que os bombeiros pessoas sejam ignífugos desde pequeninos.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Desprotecção civil

Quando o SIRESP vinha de motorizada
O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. É uma questão de orgulho macho. E então arrebitam e continuam a arder lampeiramente uma semana depois de terem sido decretados dominados aos microfones da CMTV, e a CMTV fica toda contente, porque a CMTV é do ramo do sarrabulho e do fumeiro - disso vive, em lume brando. Os oficiais da Protecção Civil, doutores da mula ruça porém pessoas muito honradas e de boina, que antes deste rico emprego nunca tinham posto os pés num incêndio, tiraram um curso relâmpago de Teatro de Operações, Forças no Terreno, Frentes Activas, Meios Aéreos & Pontos de Ignição e gostam de dar na televisão: o mais que dizem é que os incêndios de manhã, se não estão já dominados, vão entregar-se às autoridades a meio da tarde. Os oficiais da Protecção Civil e os políticos que os pariram inventaram um novo dicionário, especializaram-se em semântica, graduaram-se em eufemística e falam muito do que sabem nada...
Os bombeiros estão lá no centro do vulcão a derreter, mas a eles agora ninguém lhes pode perguntar. E ainda bem, porque lá dentro faz muito calor e o calor dilata os copos. O senhor da boina no camião de Fórmula 1 com ar condicionado é que sabe, e bebe águas das pedras. Geladas. E há briefings bidiários com groselha.

Quando o monte ardia, os bombeiros iam. Os bombeiros voluntários. Naquele tempo ninguém sequer sonhava ganhar dinheiro por fazer de conta que apaga incêndios - eram uns tolos. Não havia rede, satélites, parabólicas ou fibra óptica, ainda não havia radiotelefones ao serviço, os telemóveis ainda não tinham sido inventados e nem sequer havia cabinas telefónicas nos montes. Parece impossível, mas lá em cima, no meio da penedia e das giestas, no Portugal das cabras e dos cabrões, não havia telefone de espécie nenhuma. E não havia SIRESP, graças a Deus. Que se segue: se eram precisos reforços, alguém vinha de motorizada dar o recado ao quartel...

O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. Freud explicaria muito melhor do que eu, mas eu, de momento, não tenho o Freud aqui à mão e, com isto do desemprego, perdi-lhe o número do telemóvel. Por outro lado, os incêndios estão desgostosos por lhes terem trocado o nome e mudado o objecto social. Objecto social, sim: o fogo é hoje em dia um negócio como outro qualquer - como a guerra, como a droga ou como a cirurgia plástica, por exemplo -, com múltiplas plataformas de exploração e sinergias que não param de exponenciar-se, a jusante e a montante, um extraordinário negócio que distribui transversalmente milhões e milhões e milhões de euros ou dólares consoante o paraíso, uma indústria em que todos ganham e em que apenas Portugal e os portugueses do rés-do-chão ficamos a perder.

Chamavam-se fogos antigamente e eram para apagar. Exactamente, fogos. E para apagar. Velhos tempos, coisas simples: Portugal ardia menos e não havia tanto teatro... de operações.

P.S. - Minúsculo esclarecimento, provavelmente desnecessário: Teatro de Operações, vulgo TO.

(7 de Agosto de 2016)


E cá vamos morrendo, graças a Deus
Ninguém diga que está livre. Mas. Em Portugal não precisamos do terrorismo alheio para nos refodermos com assinável pertinácia: temos os incêndios, temos árvores carunchosas, temos andores idiotas e temos a Autoridade Nacional de Protecção Civil. E cá vamos morrendo, graças a Deus, que também não somos menos do que os estrangeiros.

P.S. - Temos também, evidentemente, as selfies com o Presidente da República. 

(19 de Agosto de 2017)


Combustão espontânea e... organizada
Os incêndios por combustão espontânea acontecem, mas, ao contrário do que o próprio nome indica, às vezes dão algum trabalho a organizar. Lembram-se ou já ouviram falar das populares manifestações espontâneas de apoio ao Senhor Presidente do Conselho no tempo de Salazar? Manifestações espontâneas, exactamente. Imaginam o que esse teatro a preto e branco implicava de preparação e logística, de aluguer de camionetas e distribuição de letreiros a bem da Nação, de farnéis e garrafões de vinho a encomendar, de reuniões nos grémios e nas corporações, de noites sem dormir por parte de presidentes de junta, regedores, párocos fascistas, presidentes de câmara, governadores civis, comandantes locais da Legião Portuguesa e dos Bombeiros, chefes da Polícia e sargentos da Guarda, bufos da Pide, patrões da indústria e caciques de outras marcas?...
Pois com os incêndios é o mesmo. Para que aconteçam espontaneamente, e acontecem, é regra geral preciso que alguém acenda um fósforo. Há coisa de duas semanas fomos dar uma voltinha de mata-saudades pelo Alto Minho. De Esposende para cima, passámos por queimada atrás de queimada com ninguém à volta e à vista. Eu abro a janela, porque gosto daquele cheirinho a Natal antecipado, mas a minha mulher ficou aflita, disse-me que ainda não estávamos na época, que aquilo era ilegal e perigoso, muito perigoso. E se calhar a minha mulher tinha razão... 

(17 de Outubro de 2017)


Francisco George e o jovem Mourato Nunes
O extraordinário director-geral da Saúde Francisco George foi reformado há quinze dias porque fez 70 anos, o velhote. A Dra. Graça Freitas que o substitui de momento e que me perdoe, mas estávamos tão bem servidos...
Por outro lado: o tenente-general Mourato Nunes, antigo comandante-geral da GNR, foi hoje anunciado como novo presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil. O jovem Mourato Nunes fez 71 anos em Abril e está aí para as curvas...
Eu não posso, porque sou uma pessoa educada, mas alguém havia de mandar foder quem faz pouco de nós assim...

(5 de Novembro de 2017)

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Os Bombeiros da Póvoa são os melhores da Póvoa

O meu avô da Bomba tinha a mania de contar anedotas e contava-as muito bem. Eram duas. Contava-as sempre, nem que não lhe pedissem, abrilhantando casamentos, comunhões e baptizados de família: eram a anedota do cu português que, apesar do negrume da noite, acabou identificado pelos Carabineros na passagem a salto para Espanha, passemos à frente, e a anedota dos Bombeiros da Póvoa. Póvoa de Lanhoso, para que nos situemos.
Contava o meu avô da Bomba que, em dia de festa de aniversário da prestimosa corporação lanhosense, o respectivo comandante fez o discurso que se segue: "Minhas senhoras e meus senhores, os Bombeiros da Póvoa são os melhores do mundo. Digo mais, os Bombeiros da Póvoa são os melhores da Europa. Os Bombeiros da Póvoa são os melhores da Península Ibéria. Os Bombeiros da Póvoa são até os melhores de Portugal. Os Bombeiros da Póvoa, minhas senhoras e meus senhores, excelência reverendíssima, são os melhores do Minho, os melhores do distrito de Braga. Que não haja dúvidas: os Bombeiros da Póvoa são aos melhores da Póvoa. Vivam os Bombeiros da Póvoa! Tenho dito."
Era a anedota. E por falar nisso:

"Município de Fafe ocupa segundo lugar no ranking de prazos de pagamento", anunciou esta semana a Câmara da minha terra. Era o título. Gostei! Fafe, vice-campeão nacional de boas contas, tenho de confessar que senti uma certa vaidade, aquele suspiro de bairrismo bom que nos acode de vez em quando. Infelizmente dei-me à canseira de ler um bocadinho das letras mais pequenas, que começavam assim: "Dos 24 municípios da região do Minho, Fafe registou a segunda melhor prestação na liquidação de facturas que dão entrada nos serviços"..., e lá se me esvaeceu o entusiasmo.
Quer-se dizer, era habilidade pataqueira: o município de Fafe ficou em segundo lugar, mas no regional. Fosse a Câmara um pouco mais ambiciosa e poderia ter anunciado até a conquista da Champions. Assim, talqualmente o da anedota dos Bombeiros da Póvoa: "Município de Fafe ocupa o primeiro lugar no ranking de pagamentos do município de Fafe."

P.S. - A nível nacional, Fafe classificou-se nas redondezas do 70.º lugar. Um resultado que até é interessante, no meio de mais de trezentos municípos, dispensando-se, por isso, a areia oftalmológica. O que tem piada (e eu só o soube depois de escrito o texto acima) é que na região do Minho o município que ficou à frente de Fafe, no 21.º lugar da geral, se não me engano, foi exactamente o da Póvoa de Lanhoso. Isto anda tudo ligado, como dizia o saudoso Eduardo Guerra Carneiro...