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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A patroa de Rui Rio

O Expresso publicou há coisa de dois anos um interessante retrato de Florbela Guedes, a assessora de comunicação, chamemos-lhe assim, de Rui Rio. O semanário conta que ela é "a mulher mais poderosa do PSD", que ela é "a sombra e a extensão do próprio líder social-democrata", que é ela quem decide "quem fala em nome do PSD - e quando". Quer-se dizer: Florbela Guedes é a verdadeira patroa do PSD, portanto a patroa de Rui Rio. E lembrei-me...

Aqui há uns anos, alguns mais, durante a chatíssima presidência de Rui Rio na Câmara do Porto, os jornalistas foram chamados a acompanhar Sua Excelência numa visita à piscina municipal da Pasteleira. Decerto houvera melhoramentos, e Florbela Guedes lá estava a tomar conta. Das obras, do presidente e de nós. No decorrer da desinteressante conversa, e não me lembro a propósito de quê, Rio fez a extraordinária revelação de que não sabia nadar. Para mim, que ia pelo 24horas, já chegava. Na verdade o meu jornal tinha-me mandado lá para conferir se o cinzentão autarca portuense calçava meias da mesma cor, e de que cor, mas aquilo de não saber nadar, no pico de carreira dos Black Company e da campanha contra o afogamento das gravuras do Côa, saíra-me melhor do que a encomenda. Satisfeitos, pedimos a continha e pusemo-nos a andar sem pagar, eu mais o meu camarada da fotografia.
Ainda não tínhamos chegado à Junta de Lordelo do Ouro e já tocava o telemóvel do meu camarada da fotografia, por acaso amigo de infância de Rui Rio. Era a Florbela a dar-lhe o recado que me desse o recado que aquilo de Sua Excelência não saber nadar era a brincar, que ele uma vez até esteve quase a ser Tarzan num filme, que não era notícia, que não valia a pena, que não tinha jeito nenhum, que valha-me Deus! Eu, que também pensava que não era notícia, e confesso que nem ia escrever, resolvi então oferecer à Dra. Florbela Guedes, ex-jornalista, o mesmo tratamento que ela nos dispensava sistematicamente a nós, jornalistas, não nos atendendo sequer o telefone e fechando-nos todas as portas e janelas. Mandei-a por isso dar uma curva com os quatro piscas ligados e, em dois ou três históricos parágrafos, antológicos e imortais, denunciei ao mundo e arredores o escândalo do século - Rui Rio não sabe nadar, yo! -, que eu não sou para brincadeiras. E ia-me saindo o Pulitzer daquele ano...

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Golpe de estado, parecendo que não

Resolveu-se por um golpe de estado, mas com a máxima discrição. Queria-se uma coisa assim pelo soleno, a conta-gotas, parecendo que não, tipo estamos à espera dele e ele há que tempos! A sociedade Costa & Rio, Limitados tomou conta da empreitada. O Chega trata do resto.

terça-feira, 12 de maio de 2020

A patroa de Rui Rio

Foto Hernâni Von Doellinger

O Expresso publicou há coisa de dois meses um interessante retrato de Florbela Guedes, a assessora de comunicação, chamemos-lhe assim, de Rui Rio. O semanário conta que ela é "a mulher mais poderosa do PSD", que ela é "a sombra e a extensão do próprio líder social-democrata", que é ela quem decide "quem fala em nome do PSD - e quando". Quer-se dizer: Florbela Guedes é a verdadeira patroa do PSD, portanto a patroa de Rui Rio. E lembrei-me...

Aqui há uns anos, durante a chatíssima presidência de Rui Rio na Câmara do Porto, os jornalistas foram chamados a acompanhar Sua Excelência numa visita à piscina municipal da Pasteleira. Decerto houvera melhoramentos, e Florbela Guedes lá estava a tomar conta. Das obras, do presidente e de nós. No decorrer da desinteressante conversa, e não me lembro a propósito de quê, Rio fez a extraordinária revelação de que não sabia nadar. Para mim, que ia pelo 24horas, já chegava. Na verdade o meu jornal tinha-me mandado lá para conferir se o cinzentão autarca portuense calçava meias da mesma cor, e de que cor, mas aquilo de não saber nadar, no pico de carreira dos Black Company e da campanha contra o afogamento das gravuras do Côa, saíra-me melhor do que a encomenda. Satisfeitos, pedimos a continha e pusemo-nos a andar sem pagar, eu mais o meu camarada da fotografia.
Ainda não tínhamos chegado à Junta de Lordelo do Ouro e já tocava o telemóvel do meu camarada da fotografia, por acaso amigo de infância de Rui Rio. Era a Florbela a dar-lhe o recado que me desse o recado que aquilo de Sua Excelência não saber nadar era a brincar, que ele uma vez até esteve quase a ser Tarzan num filme, que não era notícia, que não valia a pena, que não tinha jeito nenhum, que valha-me Deus! Eu, que também pensava que não era notícia, e confesso que nem ia escrever, resolvi então oferecer à Dra. Florbela Guedes o mesmo tratamento que ela nos dispensava sistematicamente a nós, jornalistas, não nos atendendo sequer o telefone e fechando-nos todas as portas e janelas. Mandei-a por isso dar uma curva com os quatro piscas ligados e, em dois ou três históricos parágrafos, antológicos e imortais, denunciei ao mundo e arredores o escândalo do século - Rui Rio não sabe nadar, yo! -, que eu não sou para brincadeiras. E ia-me saindo o Pulitzer daquele ano...

P.S. - Publicado originalmente no dia 3 de Março de 2020. O jornal 24horas nasceu em 1998 e morreu em 2010, um ano depois de os seus alegados responsáveis terem liquidado a Redacção do Porto, a sangue frio e pelas costas. Eram os primeiros dias de Maio quando nos despejaram no desemprego, e podem limpar as mãos à parede. Mas tinha piada o pasquim, que até chegou a ser bem feito, e é a bíblia do jornalismo que hoje se faz em Portugal.

terça-feira, 3 de março de 2020

A patroa de Rui Rio

O Expresso publicou neste fim-de-semana um interessante retrato de Florbela Guedes, a assessora de comunicação, chamemos-lhe assim, de Rui Rio. O semanário conta que ela é "a mulher mais poderosa do PSD", que ela é "a sombra e a extensão do próprio líder social-democrata", que é ela quem decide "quem fala em nome do PSD - e quando". Quer-se dizer: Florbela Guedes é a verdadeira patroa do PSD, portanto a patroa de Rui Rio. E lembrei-me...

Aqui há uns anos, durante a chatíssima presidência de Rui Rio na Câmara do Porto, os jornalistas foram chamados a acompanhar Sua Excelência numa visita à piscina municipal da Pasteleira. Decerto houvera melhoramentos, e Florbela Guedes lá estava a tomar conta. Das obras, do presidente e de nós. No decorrer da desinteressante conversa, e não me lembro a propósito de quê, Rio fez a extraordinária revelação de que não sabia nadar. Para mim, que ia pelo 24horas, já chegava. Na verdade o meu jornal tinha-me mandado lá para conferir se o cinzentão autarca portuense calçava meias da mesma cor, e de que cor, mas aquilo de não saber nadar, no pico de carreira dos Black Company e da campanha contra o afogamento das gravuras do Côa, saíra-me melhor do que a encomenda. Satisfeitos, pedimos a continha e pusemo-nos a andar sem pagar, eu mais o meu camarada da fotografia.
Ainda não tínhamos chegado à Junta de Lordelo do Ouro e já tocava o telemóvel do meu camarada da fotografia, por acaso amigo de infância de Rui Rio. Era a Florbela a dar-lhe o recado que me desse o recado que aquilo de Sua Excelência não saber nadar era a brincar, que ele uma vez até esteve quase a ser Tarzan num filme, que não era notícia, que não valia a pena, que não tinha jeito nenhum, que valha-me Deus! Eu, que também pensava que não era notícia, e confesso que nem ia escrever, resolvi então oferecer à Dra. Florbela Guedes o mesmo tratamento que ela nos dispensava sistematicamente a nós, jornalistas, não nos atendendo sequer o telefone e fechando-nos todas as portas e janelas. Mandei-a por isso dar uma curva com os quatro piscas ligados e, em dois ou três históricos parágrafos, antológicos e imortais, denunciei ao mundo e arredores o escândalo do século - Rui Rio não sabe nadar, yo! -, que eu não sou para brincadeiras. E ia-me saindo o Pulitzer daquele ano...

sábado, 26 de outubro de 2019

Rui Rio e a legislatura

Rui Rio tem dúvidas de que a legislatura dure quatro anos. A legislatura tem dúvidas de que Rui Rio dure quatro meses.

sábado, 31 de agosto de 2019

Um Rio que é um oceano, Pacífico

Rui Rio, líder do PSD em exercício, fez soar solenemente os olifantes, pediu um megafone, pôs o som no máximo com assobios, disse um-dois-três-quatro-um-dois-experiência-chape-chape, e a seguir gritou e esperneou anunciando, da parte da sua pessoa, uma campanha eleitoral com "mais conteúdo e menos gritaria". Rio, pacífico de contrafacção e oceano de contradições, prometeu um novo discurso, um discurso com mais "moderação, equilíbrio e racionalidade". E depois riu-se. E o megafone estava ligado.

P.S. - De acordo com a CMTV, a forma correcta de dizer contrafacção é contrafacturação.

domingo, 18 de agosto de 2019

Rio e o elefante

Olha, finalmente Rui Rio fala do que sabe: do elefante na sala que parte tudo. Pelo menos é o que dizem os ajuntadores de cacos do PSD.

P.S. - O Rio dos Elefantes nasce na África do Sul e desagua no Limpopo, já em Moçambique. Mede, segundo as últimas contas, 560 quilómetros, menos um do que Portugal continental, o que há-de querer dizer qualquer coisa, mas eu não sei o quê.

domingo, 28 de julho de 2019

Kits marados, golas inflamáveis e outras tolérias

O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. É uma questão de orgulho macho. E então arrebitam e continuam a arder lampeiramente uma semana depois de terem sido decretados dominados aos microfones da CMTV, e a CMTV fica toda contente, porque a CMTV é do ramo do sarrabulho e do fumeiro - disso vive, em lume brando. Os oficiais da Protecção Civil, doutores da mula ruça porém pessoas muito honradas e de boina, que antes deste rico emprego nunca tinham posto os pés num incêndio, tiraram um curso relâmpago de Teatro de Operações, Forças no Terreno, Frentes Activas, Meios Aéreos & Pontos de Ignição e gostam de dar na televisão: o mais que dizem é que os incêndios de manhã, se não estão já dominados, vão entregar-se às autoridades a meio da tarde. Os oficiais da Protecção Civil e os políticos que os pariram inventaram um novo dicionário, especializaram-se em semântica, graduaram-se em eufemística e falam muito do que sabem nada...
(Minúsculo esclarecimento, provavelmente desnecessário para o cidadão comum: Teatro de Operações, vulgo TO.)
Os bombeiros estão lá no centro do vulcão a derreter, mas a eles agora ninguém lhes pode perguntar. E ainda bem, porque lá dentro faz muito calor e o calor dilata os copos. O senhor da boina no camião de Fórmula 1 com ar condicionado é que sabe, e bebe águas das pedras. Geladas. E há briefings bidiários com groselha.

Quando o monte ardia, os bombeiros iam. Os bombeiros voluntários. Naquele tempo ninguém sequer sonhava ganhar dinheiro por fazer de conta que apaga incêndios - eram uns tolos. Não havia rede, satélites, parabólicas ou fibra óptica, ainda não havia radiotelefones ao serviço, os telemóveis ainda não tinham sido inventados e nem sequer havia cabinas telefónicas nos montes. Parece impossível, mas lá em cima, no meio da penedia e das giestas, no Portugal das cabras e dos cabrões, não havia telefone de espécie nenhuma. E não havia SIRESP, graças a Deus. Que se segue: se eram precisos reforços, alguém vinha de motorizada dar o recado ao quartel. Ou por outra: o SIRESP vinha de motorizada. Ou por outra: o SIRESP era a motorizada.

O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. Freud explicaria muito melhor do que eu, mas eu, de momento, não tenho o Freud aqui à mão e perdi-lhe o número do telemóvel. Por outro lado, os incêndios estão desgostosos por lhes terem trocado o nome e mudado o objecto social. Objecto social, sim: o fogo é hoje em dia um negócio como outro qualquer - como a guerra, como a droga ou como a cirurgia plástica, por exemplo -, com múltiplas plataformas de exploração e sinergias que não param de exponenciar-se, a jusante e a montante, um extraordinário negócio que distribui transversalmente milhões e milhões e milhões de euros ou dólares consoante o paraíso, uma indústria em que todos ganham e em que apenas Portugal e os portugueses do rés-do-chão ficamos a perder.

Chamavam-se fogos antigamente e eram para apagar. Exactamente, fogos. E para apagar. Velhos tempos, coisas simples: Portugal ardia menos e não havia tanto teatro... de operações.

P.S. - O Governo comprou o SIRESP por sete milhões de euros. PCP e CDS, e o PSD a reboque, chamaram ao Parlamento os ministros da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e da Economia, Pedro Siza Vieira, para que os alegados governantes lhes expliquem a matreira engenharia do negócio. A grande preocupação deles - do PCP e do CDS e, que remédio, do PSD - é que, hoje em dia, sete milhões não chegam sequer para contratar um defesa esquerdo que não tropece no pé direito. Então, como é que foi possível a jigajoga do SIRESP por dez réis de mel coado?...

P.S. 2 - E agora o escândalo dos kits e das golas inflamáveis que afinal não são mas são outra coisa. As negociatas, as famílias, a pouca-vergonha e honra nenhuma. O Governo diz que a culpa é da Protecção Civil e a Protecção Civil diz que a culpa é do Governo. E eu pensava que a Protecção Civil era do Governo. O escusado Jaime Marta Soares, redundante presidente da Liga dos Bombeiros, diz que a culpa é da Protecção Civil, e eu pensava que os bombeiros eram Protecção Civil. Rui Rio, desgraçado líder do PSD, quer que o Ministério Público investigue. Assunção Cristas, líder catita do CDS, foi ao cabeleireiro. E eu exijo que os bombeiros pessoas sejam ignífugos desde pequeninos.

domingo, 7 de julho de 2019

Por outro lado, Rui Rio é FDP

Rui Rio foi ontem ao tribunal. Os tribunais ficam de graça ao País e não têm mais nada que fazer, de forma que a Justiça resolveu matar o tempo à procura da seguinte verdade, somente a verdade e nada mais do que a verdade: dizer que Rio é um FDP é chamar "filho da puta" ao presidenta da Câmara Municipal do Porto ou, como se fôssemos todos tolos, apenas um remoque ao facto de o autarca anti-FCP ser um "fanático dos popós"?
Rui Rio garante que é "filho da puta", até porque não se considera "fanático dos popós". "Nunca ouvi esse disparate", afirmou Rio à juíza, sem mais delongas, enquanto ajustava o volume do sonotone. E aqui é que ele se espalhou. Porque toda a gente sabe, até a Justiça, o que é que o outro lhe quis chamar com a falsa pichagem do FDP na fachada do Mercado do Bolhão. Isso é uma coisa. Coisa feia, garotice. Outra coisa é que o presidente da Câmara do Porto é mesmo "fanático dos popós". Rui Rio nunca o escondeu até ontem, pelo contrário, toda a gente sabe e diz. E se FDP pode ser isso dos automóveis, então Rio é.

(P.S. - Texto publicado no Tarrenego! no dia 4 de Agosto de 2012. Mais achas para a fogueira, aqui.)

sábado, 15 de junho de 2019

O Moreira da Silva dos plásticos

Fui à peixaria. Pedi meio quilo de fanecas e a senhora meteu-mas num saco plástico; pedi meio quilo de lulas e a senhora meteu-mas num saco plástico; pedi dois carapaus e a senhora meteu-mos num saco plástico; pedi meia dúzia de marmotinhas e a senhora meteu-mas num saco plástico; pedi uma mão-cheia de petinga e e senhora meteu-ma num saco plástico; pedi uma solha e a senhora meteu-ma num saco plástico. A senhora:
- Que mais?
- É tudo.
- Quer um saco?
- Como sempre.
- São dez cêntimos.
- Este peixe todo?
- O saco é que custa dez cêntimos.
- Porquê?
- Porque é de plástico.
- E?
- É para proteger o ambiente.
- E os seis saquinhos com o peixe?
- São de graça.
- Não são de plástico?
- São.
- E só o sétimo é que prejudica?
- Não sei. Pergunte ao Moreira da Silva.

P.S. - Jorge Moreira da Silva é do PSD. Foi ministro do Ambiente no tempo de Pedro Passos Coelho e, em 2015, pôs os sacos de plástico a pagar imposto, com um sucesso que só visto. Moreira da Silva está de volta, depois da desgraça que foram os resultados sociais-democratas nas últimas Europeias. Espera que o partido "mude de vida" e de líder, e pôs-se na fila para substituir Rui Rio, que evidentemente deve demitir-se. Entre o Rio dos popós e o da Silva dos plásticos, o PSD continuará muito bem servido.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Os putativos 4

"Era hipócrita se dissesse que não penso nas presidenciais", disse Rui Rio, no Porto, e compreendo-o perfeitamente. Eu próprio seria hipócrita se dissesse que não penso nas presidenciais.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Porto, minha Havana à beira-Douro


Foto Hernâni Von Doellinger

Quando um jornalista estrangeiro dá um peido sobre Portugal num sítio qualquer - sentado num penico ou sentado exactamente num site, como dizem os camones -, Portugal cora e pede desculpa. O penico ecoa e o sítio também - a nossa vergonha é imensa, embora o cu seja alheio.
Terá vindo ao Porto um tal de Nigel Cassidy, parece que por conta do site BBC News Business, e acabou por descobrir a pólvora: o Porto tem lojas fechadas e quarteirões inteiros de casas abandonadas. Pior, muito pior do que isso, há mulheres que lavam a roupa nos tanques das Fontainhas, indesmentível e intolerável sinal de que há gente sem emprego, com contas de energia por pagar e sem meios para substituir a máquina de lavar avariada.
Ora bem. Eu não sei se o senhor Nigel Cassidy percebe alguma coisa de máquinas de lavar avariadas. Se por acaso perceber, agradeço que passe cá por casa, que tenho uma a verter há mais de dez anos. Mas de tanques públicos o alegado repórter não percebe nada, isso digo-lho eu, nem percebe do que são os tanques públicos no Porto e no Norte. E também não percebeu nada do Porto nem de Portugal.
Deu-lhe jeito, ao tal Nigel Cassidy, fazer da cidade do Porto o caso exemplar "da crise que assola o País", como muito bem explica o nosso jornal Público, que também nunca perde pitada destas merdas em inglês. Deu jeito ao bife e deu jeito aos seus xerpas canhotos, mas estão todos tão enganados.
O Porto não começou a ser o buraco negro que é por causa "do programa de ajustamento imposto pelo resgate financeiro de Portugal". A cidade do Porto não desapareceu de repente há dois anos e meio, num estalar de dedos da troika. Não. O Porto abandonou-se, mudou-se para Lisboa há décadas e o pobre Porto que ficou para trás teve Rui Rio durante doze anos. Queriam agora o quê?
Esta gente fala da "crise" como quem fala de folclore. Deixem-me rir, ó Nigel e arquitectos militantes, mas esta história não é vossa. Quando quiserem falar da crise, perguntem a quem sabe, a quem se lava no tanque. O Porto é uma "Detroit europeia", uma "mini-Havana", é o que dizem? Melhor para mim, que não tenho dinheiro para ir para fora.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Quando os Tonys eram de Matos

                                                                                       Foto Hernâni Von Doellinger

Os lisboetas vão regressar amanhã às suas raízes mais profundas. Às berças. Aos campos do Minho, de Trás-os-Montes, das Beiras, do Alentejo ou dos Algarves de onde partiram há duas ou três gerações, de cajado ao ombro e saca com a merenda. Quer-se dizer: embora o ignorem, os lisboetas são tão parolos como os outros parolos todos. Lisboa já não diferencia. Faz cada vez mais parte do resto que é paisagem neste país que não existe.
Vai ser servido aos lisboetas, amanhã, um megapiquenique a que o analfabetismo chama "Mega Pic Nic". Um arraial dos antigos que promete recriar, em plena Avenida da Liberdade, o "espírito do campo", o "ambiente de uma grande quinta", com o objectivo - acrescentam os organizadores - de "chamar a atenção dos portugueses para a importância do apoio à produção nacional".
Os lisboetas, que são parolos mas não se lembram, vão poder (re)aprender, por exemplo, que o leite não nasce em pacotes, que as galinhas estão vivas antes de estarem mortas (a senhora dona Lili Caneças poderá explicar o fenómeno), que os ovos só podem ser produzidos com aquele feitio ou que o bife não é um animal, pelo menos um animal completo.
O anúncio televisivo do evento promete tudo isto e muito mais. Garante uma espécie de circo rural onde não vão faltar as vacas e os cavalos, os patos e os gansos, as ovelhas e os porcos, os frangos do Roberto e até

macacos de imitação. Exactamente. Está o trânsito todo escangalhado no Porto e em Matosinhos, este fim-de-semana, por causa das corridas de carrinhos do menino Rui Rio, e logo Lisboa resolve também semear o caos no seu centro mais central. (A parolice é mesmo assim, contagia, multiplica-se. Lisboa sofre de um acelerado processo de parolização.)

Nada, no entanto, que desmobilize os lisboetas, tenho a certeza. Lá estarão amanhã, milhares e milhares deles, entusiasmados até mais não com a novidade, fresquinha e ao vivo, das cores, dos sabores e dos aromas do campo. Mas sobretudo o que eles vão é ao cheiro do concerto do Tony Carreira. À borla. Tony Carreira apresentado aos lisboetas como "o melhor da música portuguesa"...
Ora bem. Honra lhe seja, Tony Carreira é um profissionalão, provavelmente o melhor do seu ofício, mas não é "o melhor da música portuguesa". Entendamo-nos: por mais multidões que congregue, por mais corações que despedace, Tony Carreira é apenas um cantor romântico com imeeeeeenso sucesso. Mas a música portuguesa é... outra coisa.
Apesar de tudo, que diferente era Lisboa no tempo em que os Tonys eram de Matos...

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Texto escrito e publicado no dia 17 de Junho de 2011. E repetido no dia 10 de Maio de 2012. Sempre Tony, sempre actual. Já agora: descubra o actual que há em si. (Ver e ouvir)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Quereis livros? Tomai lá carros!

Tenho um amigo que era um ferrinho na Feira do Livro do Porto. Para ele, aqueles quinze dias eram sagrados - reservados e ansiosamente esperados desde o fim da edição anterior. Todos os dias lá ia, o meu amigo: palestras, sessões de autógrafos, sessões de leitura, lançamentos, conferências, debates, horas do conto, teatrinhos e cantigas, topava a tudo. E todos os dias comprava um livro, pelo menos um. Não sei se também roubava, acho que já não, mas roubar livros também faz parte. O meu amigo, ele próprio praticamente escritor, era o sócio n.º 1 da Feira do Livro do Porto, de lugar cativo e ao longe, um discreto Emplastro a quem a organização do evento deveria ter singela e significativamente homenageado enquanto podia. Agora não pode, porque não há Feira do Livro do Porto.
E o meu amigo? O meu amigo comprou bilhetes para os dois fins-de-semana das corridas da Boavista. E está bem contente. Vrooom!...

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Circuito da Boavista: eles aí estão outra vez


Para o bem e para o mal, os carrinhos de Rui Rio estão aí outra vez. De 21 a 23 de Junho, os históricos; de 28 a 30 de Junho, o WTCC. E este ano as corridas são trilingues: os automóveis aceleram em português, em inglês e em espanhol (eu sei que é castelhano), como se pode verificar no cartaz arriba. O galego estava aqui muito mais à mão, mas o que é que se há-de fazer?
Programa e toda a informação, aqui.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Estou mesmo a ver o filme 4

                                                                                     Foto Hernâni Von Doellinger

António Costa, presidente da Câmara de Lisboa e co-líder do PS, defende a regionalização como forma de "aproximar o poder das pessoas" e num contexto de "reforma do Estado". Rui Rio, ex-vice do PSD e de saída da Câmara do Porto, diz apenas que o "debate" é possível, mas... sem "paixões".

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Menos uma dor de cabeça para Menezes

Luís Filipe Menezes recebeu ontem apoio total da concelhia do Porto do PSD para ser o candidato do partido à Câmara da Invicta. Um apoio unânime que não tinha outro remédio e que a Menezes fazia tanta falta como uma viola num enterro: o actual presidente da Câmara de Gaia já tinha avisado que atravessaria a ponte e concorreria à Ribeira do lado de cá, "em toda e qualquer circunstância". Era uma "decisão irrevogável", o PSD que se amanhasse. E amanhou.
Quanto a Rui Rio, engole o sapo e limpa a mesa e gavetas antes de sair. Honra lhe seja, o futuro ex-presidente da Câmara do Porto está a procurar arrumar a casa e resolver os dossiês mais bicudos da autarquia, para poder entregar ao seu sucessor uma herança leve como uma pena. Inimigos, inimigos, políticas à parte.
Por exemplo: lembram-se daquela mega-avenida inventada por Rui Rio em 2007 e que nunca mais saiu do papel nem vai a lado nenhum? A famigerada Avenida Nun'Álvares sobre a qual já aqui escrevi? Pois bem: pode ter passado despercebido à maioria dos portuenses, mas a verdade é que o assunto foi finalmente resolvido. A Avenida Nun'Álvares já não é um problema no Porto. Rui Rio mudou a placa. Agora chama-se Avenida D. Pedo IV.

                                                      Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 4 de agosto de 2012

Por outro lado, Rui Rio é FDP


Rui Rio foi ontem ao tribunal. Os tribunais ficam de graça ao País e não têm mais nada que fazer, de forma que a Justiça resolveu matar o tempo à procura da seguinte verdade, somente a verdade e nada mais do que a verdade: dizer que Rio é um FDP é chamar "filho da puta" ao presidenta da Câmara Municipal do Porto ou, como se fôssemos todos tolos, apenas um remoque ao facto de o autarca anti-FCP ser um "fanático dos popós"?
Rui Rio garante que é "filho da puta", até porque não se considera "fanático dos popós". "Nunca ouvi esse disparate", afirmou Rio à juíza, sem mais delongas, enquanto ajustava o volume do sonotone. E aqui é que ele se espalhou. Porque toda a gente sabe, até a Justiça, o que é que o outro lhe quis chamar com a falsa pichagem do FDP na fachada do Mercado do Bolhão. Isso é uma coisa. Coisa feia, garotice. Outra coisa é que o presidente da Câmara do Porto é mesmo "fanático dos popós". Rui Rio nunca o escondeu até ontem, pelo contrário, toda a gente sabe e diz. E se FDP pode ser isso dos automóveis, então Rio é.

(A propósito: a Federação Internacional do Automóvel anunciou o calendário para 2013 do campeonato WTCC.  E as corridas estão de volta à Avenida da Boavista.)

domingo, 10 de junho de 2012

O que Rui Rio diz e o que quer dizer

Rui Rio foi à Curia dar uma aula de autarquismo ao PSD e disse: "As câmaras endividadas não deviam ter eleições, mas sim uma comissão administrativa para a gestão corrente, até estarem equilibradas". Alguém do PS, de pele sensível e naquela precipitação do costume, sentiu logo aqui qualquer coisa "a roçar o antidemocrático". Sentiu mal. Na verdade, Rio não falava de "câmaras", falava da Câmara do Porto e da Câmara de Gaia. E não falava de "eleições", falava do seu inimigo figadal Luís Filipe Menezes, que deixa a Câmara de Gaia cheia de obra e dívidas (é a segunda autarquia mais endividada do País, logo a seguir a Lisboa) para saltar para a Câmara do Porto, que Rui Rio abandona por limite de mandatos.
Rio só quis apontar os faróis para Menezes e para a alegada má gestão autárquica do lado de lá das pontes. O que Rio acha é que quem, segundo o seu juízo, faz fraca figura num sítio não merece ir tentar a sorte noutro. Rio até desafiou o partido: "Estou para ver se o PSD, nas autárquicas, vai ser coerente e deixa de apoiar quem geriu mal". Quem geriu mal, estão a perceber? Me-ne-zes, estão a perceber?, disse Rio sem dizer. Não sei onde é que está a confusão.