Foto Hernâni Von Doellinger |
O Expresso publicou há coisa de dois meses um interessante retrato de Florbela Guedes, a assessora de comunicação, chamemos-lhe assim, de Rui Rio. O semanário conta que ela é "a mulher mais poderosa do PSD", que ela é "a sombra e a extensão do próprio líder social-democrata", que é ela quem decide "quem fala em nome do PSD - e quando". Quer-se dizer: Florbela Guedes é a verdadeira patroa do PSD, portanto a patroa de Rui Rio. E lembrei-me...
Aqui há uns anos, durante a chatíssima presidência de Rui Rio na Câmara do Porto, os jornalistas foram chamados a acompanhar Sua Excelência numa visita à piscina municipal da Pasteleira. Decerto houvera melhoramentos, e Florbela Guedes lá estava a tomar conta. Das obras, do presidente e de nós. No decorrer da desinteressante conversa, e não me lembro a propósito de quê, Rio fez a extraordinária revelação de que não sabia nadar. Para mim, que ia pelo 24horas, já chegava. Na verdade o meu jornal tinha-me mandado lá para conferir se o cinzentão autarca portuense calçava meias da mesma cor, e de que cor, mas aquilo de não saber nadar, no pico de carreira dos Black Company e da campanha contra o afogamento das gravuras do Côa, saíra-me melhor do que a encomenda. Satisfeitos, pedimos a continha e pusemo-nos a andar sem pagar, eu mais o meu camarada da fotografia.
Ainda não tínhamos chegado à Junta de Lordelo do Ouro e já tocava o telemóvel do meu camarada da fotografia, por acaso amigo de infância de Rui Rio. Era a Florbela a dar-lhe o recado que me desse o recado que aquilo de Sua Excelência não saber nadar era a brincar, que ele uma vez até esteve quase a ser Tarzan num filme, que não era notícia, que não valia a pena, que não tinha jeito nenhum, que valha-me Deus! Eu, que também pensava que não era notícia, e confesso que nem ia escrever, resolvi então oferecer à Dra. Florbela Guedes o mesmo tratamento que ela nos dispensava sistematicamente a nós, jornalistas, não nos atendendo sequer o telefone e fechando-nos todas as portas e janelas. Mandei-a por isso dar uma curva com os quatro piscas ligados e, em dois ou três históricos parágrafos, antológicos e imortais, denunciei ao mundo e arredores o escândalo do século - Rui Rio não sabe nadar, yo! -, que eu não sou para brincadeiras. E ia-me saindo o Pulitzer daquele ano...
P.S. - Publicado originalmente no dia 3 de Março de 2020. O jornal 24horas nasceu em 1998 e morreu em 2010, um ano depois de os seus alegados responsáveis terem liquidado a Redacção do Porto, a sangue frio e pelas costas. Eram os primeiros dias de Maio quando nos despejaram no desemprego, e podem limpar as mãos à parede. Mas tinha piada o pasquim, que até chegou a ser bem feito, e é a bíblia do jornalismo que hoje se faz em Portugal.
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