Freira
Em teu calmo semblante e em teu olhar parado
há perdido - bem sei - um mistério qualquer...
- quem sabe se pecaste... e se foi teu pecado
que te fez esquecer que és bela e que és mulher...
Hoje és santa... O passado passou - é passado...
- dele já não terás uma ilusão sequer,
e o amor que se tornou funesto e amargurado
sepultas no silêncio... e em teu árduo mister...
Mais à frente está a vida... a vida humana e bela!
- teu presente é uma prece; teu passado: um poema;
teu futuro: um rosário, um altar, uma cela...
Evadida do mundo - ao ver-te, à luz do dia
- não sei se te admiro a renúncia suprema
ou se lastimo a tua imensa covardia!
J. G. de Araújo Jorge
(J. G. de Araújo Jorge nasceu no dia 20 de Maio de 1914. Morreu em 1987.)
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