Moço, entende direito o que te vou contar. João Cabafume não foi um qualquer. Ele não era como um eu, ou como um tu que estendemos as mãos para outro pôr corda. Morreu no meio da baía numa noite de lua cheia. Não, moço, não foi destino. João Cabafume não teve destino. Quando veio da Ladeira Grande para aqui passou ao destino a primeira calaca. Destino queria matá-lo de fome. Então ele foi ter de mestre Joãozinho:
- Mestre Joãozinho, leve-me para S. Vicente no seu navio. E quando senhor administrador quis pegá-lo para o mandar embora João Cabafume passou ao destino a segunda calaca. Moço, entende direito o que te vou contar. Foi assim: andava na ilha um homem comprido de cara vermelha. Manhento como gato ladrão. Andava catando gente para assinar contrato. Cada cabeça cem escudos. Foi então que mandaram apanhar pobres para fechar no Albergue. Pobre chateava as pessoas finas e incomodava os passageiros que desembarcavam. Por isso senhor Administrador deu ordem para fechar no Albergue toda a criatura que não tinha trabalho. Pobre e cachorro vadio, nenhum podia passear na rua. Albergue encheu. O homem comprido foi ter com o senhor Administrador. Andava catando gente para assinar contrato. Cada cabeça cem escudos. [...]
"Vida e Morte de João Cabafume", Gabriel Mariano
(Gabriel Mariano nasceu no dia 18 de Maio de 1928. Morreu em 2002.)
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